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| Presidente hoje - (Imagem de Carlos Magno) |
José Pedro Araújo (*)
A decoração natalina de Teresina
este ano é uma das mais belas que já presenciei na cidade. Encanta-me,
sobretudo, o embelezamento das diversas pontes sobre o rio Poty, decoradas com
zelo e encanto, cujas luzes multicoloridas refletem nas águas do rio quando a
noite chega. E essa quadra, que começa a bem dizer no primeiro dia do mês de
dezembro, já nos arrasta para o que chamamos de período natalino, introduzindo
a paz no nosso interior que, acalentada pelas músicas natalinas que ouvimos
aqui e acolá, só vai se encerrar quando distribuímos os nossos presentes na
véspera do dia oficial do Natal. Aí então começa a preparação, emocional, e de
fato, para a virada do novo ano que se aproxima.

Presidente Dutra hoje - (Foto de Carlos Magno)
Contudo, as lembranças que
inundam a minha mente, são reminiscências de outros natais, e vêm lá do meu
torrão natal, do tempo em que a cidade pequenina, pobre, e carente de energia
elétrica, restringia as comemorações natalinas, que se davam somente em um dia:
a virada do dia 24 para o 25 de
dezembro. A cidade não contava com belas e feéricas decorações como hoje vemos,
com gigantescas árvores natalinas instaladas nos principais balões de retornos
das avenidas, e coloridas decorações em linha instaladas nos galhos das árvores
dos canteiros centrais. Também, não tínhamos luz elétrica, como já falei no
início desse parágrafo!
Não são lembranças de grandes
ceias natalinas, com fartura de perus com farofa, castanhas, vinhos e outros
comes-e-bebes que hoje empurram esses jantares lá para perto da meia-noite, e
tornam os mesmo em um dos pontos altos das comemorações. Naqueles tempos aos
quais me refiro, o jantar saia no horário de sempre, antecedendo a preparação
para nos deslocarmos para a Igreja Cristã Evangélica. A ceia especial daquele
dia continha iguarias simples, às vezes perus ou frangos criados nos próprios quintais
ou adquiridos através dos vendedores ambulantes que inundavam a rua Grande com suas
aves dependuradas em cangas carregadas sobre os seus ombros. Isso acontecia em pouquíssimas
casas, porque nas mais pobres, o jantar frugal não mudava muito a sua
composição.
Assim, as lembranças que me veem
vívidas e saudosas, são do interior da nossa igreja que, arrumada com
antecedência, apresentava-se decorada com extremo bom-gosto e simplicidade. A árvore de Natal, enorme e muito bem
decorada, não continha o brilho das lâmpadas coloridas e piscantes, mas eram
tão belas que enviavam os nossos pensamentos para o polo norte; tão atraentes,
que esperávamos que, a qualquer momento, Papai Noel adentrasse ao recinto
conduzindo o seu trenó arrastado pelas suas renas e soltando o seu
característico Oh! Ho! Ho! As árvores natalinas eram fabricadas com frondosas pitombeiras
trazidas do campo no dia anterior com cuidados extremos para que mantivesse as
suas folhas verdes e brilhantes, tal qual as dos pinheiros dos natais que vemos
nos postais. Possuíam de altura, pelo que me recordo, dois metros ou um pouco
mais. E ali se transformavam em verdadeiras obras de arte e decoração. As
borlas natalinas, só para exemplificar, aquelas mesmas que simbolizam os
frutinhos da prosperidade, eram substituídas por cachos de pitomba maduras,
amarelos e verdes. As luzes dos Petromaxes irradiavam-se nas fitas e laços
espalhados por toda a árvore e, no alto, no topo da árvore natural,
simbolizando a Estrela de Belém, brilhava dourada e iridescente uma réplica da
estrela em papel laminado, na cor do ouro verdadeiro. O único problema que se
tinha, era que a árvore precisava de um vigia para protegê-la da meninada, que
tentava, a todo o custo, antecipar a retirada dos cachos de pitomba e os
pacotinhos em formato de presentes. Enfim, tínhamos uma belíssima árvore
natalina para alegrar a nossa festa, utilizando somente o material simples que
tínhamos à nossa disposição.
Entretanto, o ponto alto das
comemorações era mesmo o auto-de-natal, uma representação teatral cujos atores
e atrizes eram membros da própria igreja. Os ensaios desses autos levavam dias
e dias, às vezes meses, de modo a ficarem impecáveis, sem falhas. Eu mesmo fui
ator em algumas dessas apresentações, em uma delas, vesti-me de mendigo, para
deslumbramento ou compaixão da minha mãe que chorava na paleteia. Ela, aliás,
era uma das produtoras das peças apresentadas na igreja, tanto no Natais quando
no Dia das Mães.
Naquelas ocasiões, a população da
cidade acorria quase na sua maioria para o templo iluminado e festivo, deixando
o seu interior, e o exterior à sua volta, repleto de gente feliz. Uma grande
cortina ocupando toda a largura do templo, controlada por dois operadores, um
de cada lado, abria e se fechava entre um ato e outro, como verdadeira cortina-de-boca.
E no alto, sobre a plataforma onde nos cultos normais se estabelecia o púlpito,
utilizada para dar visibilidade para todos os presentes na plateia, os atores representavam
os seus personagens, orgulhosos e emocionados, trajando munidos dos seus figurinos
característicos, representavam os personagens descritos na história bíblica no
nascimento de Jesus. A plateia delirava e se deleitava com a beleza do
espetáculo que durava horas até, sem que ninguém arredasse o pé para não perder
nenhum ato da encenação. Tudo isso abrilhantado por um coral que entoava
cânticos de Natal durante os entreatos, impondo mais beleza ao espetáculo que acontecia.
Que delirante e belo espetáculo!
São essas lembranças que me
ocorrem todos os anos neste período de festividades em honra ao menino Jesus!
Não tínhamos neve, nem muito menos luzes fosforescentes e coloridas para
enfeitar a nossa pequena cidade, mas tínhamos um Natal tão lindo e emocionante
quanto o que se vê nas cidades mais frias mundo afora. FELIZ NATAL para todos!
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| Presidente Dutra hoje - (Imagem de Nardone) |
José Pedro Araújo


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