segunda-feira, 7 de maio de 2018

As Minhas Copas do Mundo de Futebol(Final)


José Pedro Araújo

Agora tínhamos a oportunidade de nos redimirmos da vergonha que fora a Copa de 1950 quando perdemos a final no Maracanã que não esquecemos até hoje. Pobre de nós. A surpresa negativa que estava reservada para nós demorará muito mais tempo para sair das nossas lembranças, se é que esqueceremos algum dia. Mas, deixa essa história para o final do texto. Voltemos ao começo da história.
A Copa do Mundo de Futebol de 2014 foi organizada em cima de um processo de corrupção monstruoso. Desde a escolha do país sede, no caso nós, o dinheiro rolou sem pena para os bolsos dos homens da FIFA, responsáveis pela escolha do país que sediaria o certame. E depois disso, os governos responsáveis pela construção e reforma dos estádios onde os jogos deveriam acontecer se espojaram em uma roubalheira jamais vista no mundo. Poderíamos afirmar, sem sombras de dúvidas, que a de 2014 foi a copa da vergonha. Sobre todos os aspectos.
Acho que essa Copa nunca me animou, primeiro porque sempre achei um absurdo um país com sérios problemas financeiros e sociais se dedicar a organização dos dois eventos esportivos de maior importância do mundo: a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas. Mas foi o que ocorreu, para gáudio de um governo totalmente irresponsável que queria mostrar-se como uma grande nação para os demais. E em cima disso armaram o maior esquema de corrupção já visto no mundo. Fomos, sim, campeões do mundo nesse quesito. Ganhamos o campeonato mundial da corrupção e, de quebra, amealhamos todas as medalhas de ouro na modalidade desvio de dinheiro público.  E por isso não me empolguei em nenhum momento com o fato de estarmos jogando em casa; o ufanismo não me atingiu. Além disso, coisas ruins ainda me aconteceram durante o campeonato que me fizeram pedir que o ano de 2014 caísse nos desvãos do esquecimento da minha memória.
Por conta disso começamos a nos preparar modestamente para assistir as partidas na nossa casa de forma modesta e sem a animação das copas anteriores. Nem mesmo a TV, trocamos, como já era praxe. Assistiríamos aos jogos na nossa Sony Bravia da copa anterior. Do mesmo modo, nem o fato de termos ganho a Copa das Confederações com sobras, foi combustível suficiente para melhor o meu humor. Mas, em fim, tínhamos uma copa do mundo para disputar e que os céus nos trouxesse a animação dos campeonatos passados.
Em 12 de junho, na Arena Corinthians, jogamos uma partida de pouca empolgação contra a Croácia, e ganhamos o jogo por 3x1. Começava a Copa e com uma vitória, e isso era o que importava. Mas ai veio o jogo contra o México e não saímos do empate sem gols. A luz da desconfiança que estava acesa desde muito no meu cérebro brilhou com força extra. Só muita cerveja para empurrar aquilo goela abaixo. E não regateamos nem um pouco. O dia seguinte nos reservava, porém, uma ressaca brutal, por duas razões: a partida mal jogada, mas, e, sobretudo, pela cerveja ingerida em excesso.
Fomos para o jogo contra Camarões com uma pulga gigante atrás da orelha. Mas contra os africanos a seleção jogou a sua melhor, é única, partida e vencemos pelo elástico placar de 4x1. Estávamos classificados para a fase seguinte com a mesma pontuação do México.  Fomos para as quartas-de-final contra o Chile, um adversário que não nos metia medo pelo número de vezes que já ganhamos deles em torneios aqui na América do Sul. Jogamos uma partida horrorosa e empatamos no tempo normal por 1x1. E ainda vimos o centroavante chileno chutar uma bola no travessão no último minuto do jogo. Era o último lance da partida e, caso o Chile tivesse feito aquele gol facílimo, estaríamos desclassificados. E, sabem, teria sido muito melhor!. Outro dia vi uma entrevista do jogador chileno Pinilla, aquele mesmo que chutou a bola na trave e perdeu um gol daqueles que chamamos gol feito. Alegava ele que aquele gol perdido havia dado o tom do seu futuro. Caso tivesse acertado o lance teria trilhado uma carreira vitoriosa em algum clube da Europa. Como não acertou, permaneceu jogando em clubes sem importância no seu país. E nós não teríamos passado o que passamos na semifinal contra a Alemanha, Pinilla!
Passamos pelo Chile nos pênaltis. Nessa altura do campeonato eu já estava completamente descrente das nossas possibilidades. E ainda fui acometido por uma Dengue que me jogou em um leito de hospital por um bom número de dias. Assisti à partida deitado em um leito hospitalar e em um TV de 14 polegadas que me ofertava uma imagem péssima. Ainda por cima,  tomando soro na veia, ao invés da costumeira cerveja gelada. Ninguém merecia aquilo. Ganhamos a partida pelo apertado placar de 2x1, mas outra vez não jogamos bem. E o pior, pegaríamos a temível Alemanha nas semifinais.
Precisamos parar aqui para analisar a nossa situação. Saímos do hospital quase que forçado, ainda muito fraco e sem ânimo nenhum, tanto fisicamente, quanto moralmente, na véspera do jogo contra os alemães. E ainda por cima, aquela velha desconfiança havia voltado com força, e eu não poderia nem ao menos tomar um copo que fosse para recolocar os meus nervos no lugar. Meus filhos ainda tentaram me animar e organizaram o ambiente como sempre fazemos nessas ocasiões. Mas aos vinte e nove minutos do primeiro tempo ainda, já tomávamos de cinco dos nossos adversários. Aos vinte e três minutos, já perdendo por dois a zero, levantei-me com muita dificuldade, tal o meu estado físico de convalescente, para ir ao banheiro. E de lá ouvi o Galvão Bueno gritar Goool da Alemaaanha!, uma, duas, três vezes, nos três minutos seguintes. Lembro-me de ter pensado: “O Galvão está exagerando na repetição do segundo gol da Alemanha”. Retornei à sala e encontrei todos em estado de choque. Ninguém acreditava no que viam. Alemanha 5, Brasil 0.
Ai bateu um desespero em todo o mundo, os copos de cerveja ficaram esquentando sobre a mesa, e um ar de profundo abatimento caiu sobre nós. Ainda tomaríamos mais dois gols para completar a maior vergonha que já passamos em qualquer campo de futebol do mundo. E estávamos jogando em casa! Quatro dias depois assistimos o Brasil tomar outra sapatada, dessa vez dos Holandeses: 3x0. Na disputa pelo terceiro e quarto lugares, havíamos sido mais uma vez humilhados. Em duas partidas apenas havíamos tomado 10 gols. Não me dei ao trabalho de pesquisar, mas acho que nunca havíamos tomado tal quantidade de gols em uma copa do mundo inteira.
Já um pouco restabelecido, desci para o litoral e fui assistir a final da Copa que os nossos governantes haviam trazido para cá à custa do dinheiro suado da nação, refazendo-me das minhas agruras no ar salino do litoral piauiense. Mal sabíamos que a farra que eles haviam feito com o dinheiro do contribuinte fora muito maior do que penávamos. Um escárnio!.
Mas, dizem por aqui que desgraça pouco é bobagem no país. E parece que é isso mesmo. Passamos os últimos anos a ouvir diariamente nas televisões alguma notícia de que um novo roubo foi descoberto na miserável relação firmada entre os governantes e empreiteiros no ato da construção ou reforma dos estádios para a Copa de 2014. Trata-se de um suplício que parece não ter mais fim. E enquanto isso, vez por outra, algum jornalista relembra os terríveis 7x1 que tomamos da Alemanha. Desgraça maior não acredito que nos reserve o nosso futuro.
Menos mal que cada vez que um corrupto que se locupletou daquele dinheiro roubado, vai para trás das grades, tenho ímpetos de gritar: Gooool do Braaaaasiiiiiil!
Para a Copa deste ano que terá início no dia 14 de junho, já estou mais animado. Receoso, mas animado. Até já adquiri uma TV nova e com todos os avanços tecnológicos que as grandes marcas nos oferecem. Não sei o que o futuro nos reservará, mas quando souber eu conto!
Ah!, já estou montando também o meu álbum de figurinhas da copa! Estou quase nos finalmente.


3 comentários:

  1. Mestre,
    Nesse jogo miserável, quando a gente pensava que ainda estava passando o videotape, na realidade o Brasil já tinha tomado outro gol. Depois, os nossos jogadores ficaram em estado catatônico, em que nada havia de tônico, mas só de fraqueza mesmo; e depois um de nossos "craques" deu para chorar em campo, o que tornou a coisa ainda mais patética, com onze triste tigres patetas correndo à toa dentro do gramado.
    Abraço,
    Elmar Carvalho

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  2. É verdade!Só mesmo um Poeta e Filósofo para descrever com fidedignidade o que acontecia no gramado naquele fatídico dia! Nenhum comentarista global se apercebeu do estado miserável em que se arrastavam aqueles pobres homens batidos em campo. Estavam todos catatônicos também!

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  3. Foi inacreditável, em sentido negativo absoluto...

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