sexta-feira, 3 de setembro de 2021

O Bipolar de Wall Street!

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Bruno Giordano de S. Araújo(*)

Todos temos nossos personagens folclóricos prediletos. Alguns gostam do jeito “moleque” e zombeteiro do Saci, que faz um furacão apesar de ter apenas uma perna. Tem outros com predileção pelo Curupira, um anão com a cabeleira “pegando fogo” e os pés para trás, para assim confundir os caçadores.  Há aqueles que suspiram pela Iara, a sereia brasileira. Acho interessante que nossa seria de Água-doce atraia homens para o fundo do rio enquanto suas primas Europeias prefiram o mar. Mas gosto não se discute. E hoje, depois de adulto, tenho outra criatura mítica predileta: O Sr. Mercado.

Benjamin Graham, um dos pioneiros em investimentos de Valor, em seu livro “O Investidor inteligente”, de 1949, criou o Sr. Mercado ou Mister Market. Esse personagem possui apenas um poder, mas que pode arruinar qualquer pessoa: ele é seu SÓCIO.

Imagine ter um sócio extremamente temperamental (alguns diriam possuir transtorno bipolar) que quando está eufórico compraria sua parte da empresa por qualquer preço, por mais alto que ele esteja. Ou quando estivesse deprimido venderia para você a parte dele por qualquer ninharia. Quase nunca a oferta de negócio seria condizente com o valor do empreendimento. E ele está “aberto” para fazer negócio sempre que a proposta for interessante.

Alguns diriam que seria um sonho um sócio como ele, uma vez que poderíamos aproveitar o momento mais oportuno para “lucrar” em cima de seu temperamento. Só tem um problema: os demais sócios acabam dando ouvidos a seus devaneios e entrando nessa ciranda de auto destruição.

Em momentos de alta, quando o Sr. Mercado está eufórico, os investidores tendem a ouvir suas sugestões e investir sob seus conselhos, independentemente do preço estar alto demais ou não. O contrário também é verdade, pois quando o Sr. Mercado está saindo de todos seus investimentos a qualquer preço, os investidores são contaminados por sua depressão e acabam desinvestindo de seus ativos, mesmo os preços estando extremamente descontados.

Ora, e se o investidor fizer o contrário ao que propõem o Sr. Mercado? Segundo Ben Graham, estaremos diante do investidor Inteligente. Quando o seu sócio está eufórico, O Investidor Inteligente vende sua participação na empresa por um preço com grande ágio. Da mesma maneira, quando pessimista o sr. Mercado, o Investidor Inteligente compraria de seu sócio com um desconto considerável.

Não dar atenção a euforia ou ao pessimismo quando se está investindo é praticamente ir contra a própria natureza. O ser humano é suscetível a vários sentimentos que o leva a não racionalizar suas atitudes, e assim colocar bons investimentos a não darem frutos. O medo da perda ou a angústia de ficar de fora são grandes perpetuadores da má performance. E a lição que fica dessa reflexão é: não acredite em criaturas fantásticas.

(*) Bruno Giordano de Sousa Araújo, é advogado, Assessor de Investimentos e sócio da empresa Perfil Investimentos, empresa credenciado da XP Investimentos.

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