terça-feira, 12 de outubro de 2021

CENTRAL ESPORTE CLUBE DO CURADOR

Central Esporte Clube - Foto cortesia do Dr. Adrian B. Trinidad

 

José Pedro Araújo

Semana passada recebi uma mensagem de WhatsApp enviada pelo meu amigo e conterrâneo José Alves, mais conhecido entre os nossos como Zezinho da Construtorres, ou Zezinho do Franklin, na qual me enviava o print de um pequeno texto da lavra do também amigo Ademar Noleto.  O material enviado tratava sobre um dos times de maior torcida de Presidente Dutra: o Central Esporte Clube. José Alves foi também um futebolista que vestiu as cores do Bahia, do inesquecível fotógrafo Raimundo Nonato de Oliveira, o Doquinha - um dos baluartes do esporte em PK -, e enfrentou o Central em várias ocasiões. Foi então que me ocorreu passar para o papel essas poucas lembranças, socorrendo-me do que já havia escrito no meu livro sobre o meu querido Curador.

O CEC foi o primeiro clube mais ou menos organizado a ser criado no município e que, por esta razão, arrebanhou em torno de si uma torcida fanática e muito organizada. O Central foi fundado por um grupo de jovens aficionados pelo esporte bretão, como os irmãos comerciantes Manoel Cruz e Zé da Cruz, e também por Carmelo Ferreira, Adauto Cruz e Machadinho, além de tantos outros nomes que neste momento me escapam da memória. Contudo, de onde estiverem, com certeza vão me perdoar pelo lapso de memória, e vão se fixar apenas nas lembranças tão queridas daqueles tempos passados. O time tinha até torcedores símbolos, como os jovens Maduro e Zé Pronto, figuras conhecidíssimas da cidade que animavam a torcida com seus gritos de guerra e tiradas hilárias. Começou aquele scratch envergando as cores preta e branca, uniforme que carregou por muitos anos até escolher como padrão definitivo as tonalidades vermelha e branca, calções brancos com listras laterais vermelhas, e meiões nas duas cores, vermelha e branca. Não sei quando ocorreu esta mudança no uniforme. Estranhamente, e talvez sem saber, adotaram seus precursores as cores dos dois primeiros times criados no município: a alvinegra, envergada pelo Santa Cruz, e também, quando mudou o seu uniforme, as cores que formavam a armadura alvirrubra do Teresita.

O Central mandava seus jogos no Estádio Adrian Berróspi Trinidad, o Berrospão, nome do médico que assumiu os destinos da equipe muitos anos depois da sua fundação, até o seu falecimento há pouco tempo atrás. No estádio, que era propriedade do seu presidente (no seu início o campo de jogo pertencia à municipalidade e ostentava no seu pórtico de entrada, o nome de Estádio Honorato Gomes, uma homenagem ao ex-prefeito do município). O campo era gramado (com alguma deficiência, é bem verdade. Não dava para ser chamado de um tapete), e até possuía arquibancadas em um dos lados, além de vestiários e muros em volta do seu perímetro. Naquele estádio, o Central realizou muitos embates que ficaram para sempre na memória da população local, como quando a equipe enfrentou o Moto Clube de São Luís, uma das maiores agremiações de futebol do Maranhão. 

O Central transformou o Berrospão, que possuía uma leve inclinação no terreno (de uma trave para a outra), em um verdadeiro alçapão, batendo sistematicamente os times dos muitos municípios que vinham desafiá-lo. Equipes de Barra do Corda, Pedreiras, Dom Pedro, Tuntum, entre tantos outras, transformavam-se em vítimas ao caírem no velho Berrospão, o alçapão do Central. A maior parte de suas vitórias devem ser creditadas ao bom futebol que o time costumava apresentar naquela época. Contudo, outras, por dever de ofício, devo reconhecer que tiveram alguma ajuda, em razão do artifício adotado pelos locais de fazer com que o clube visitante jogasse o primeiro tempo na decida, da parte alta do campo para a mais baixa. E na segunda etapa, quando seus atletas já se mostravam um pouco cansados, ruim das pernas mesmo, invertia-se as posições, e deixava-se para o clube visitante a cansativa subida, que o fazia carregar a bola da parte baixa para a mais elevada. Esse artifício deixava os adversários à mercê do bravo Central que o massacra sem dó nem piedade. Nada que mereça condenação, pois tudo estava perfeitamente dentro das práticas esportivas, quando se usam pequenos artifícios para se ganhar uma partida. Fazia parte do embate, dirão alguns, apesar de não se jogar aquela moedinha do cara-e-coroa para a escolha do campo do jogo pelos adversários. O “coin tossing”, como se diz na Inglaterra, também era adotado por aqui, mas somente para se escolher o time que ia começar jogando. Aliás, desde o distante ano de 1863 o arremesso da moedinha para o alto, com o fito de decidir que saía jogando, é adotado no futebol. E no velho Curador não era diferente. Só não se deixava ao adversário a opção de escolher o campo para início da partida.

Aquele campo de jogo começou sem nenhuma proteção lateral, e era comum, antes de os jogos começarem, perder-se um tempo enxotando os animais que procuravam o local para aparar a pouca grama que ainda existia. Anos depois, contudo, recebeu a sua primeira cerca, ainda nos anos 60. A muralha era feita com talos da palmeira babaçu, todo aparadinho nas pontas, o que lhe conferia um bonito aspecto, e evitava a penetração de animais vadios. Entretanto, pouco impedia que os torcedores a pulassem, para não pagar o ingresso cobrado. Outros inimigos da cerca que protegia o campo de jogo, era os garotos das redondezas que retiravam os talos para fabricar seus papagaios (pipas), deixando muitos buracos na estrutura construída com tanto carinho e labor.

O problema só foi resolvido no início dos anos setenta, quando o campo de jogo foi completamente murado, recebendo depois as instalações complementares que lhe permitiram ser chamado de um estádio de futebol. Algumas operações de terraplanagem também foram realizadas, nivelando o terreno e retirando uma das principais armas que o Central possuía: o de jogar o primeiro tempo na subida. Restabeleceu-se, contudo, a justiça necessária para a boa prática esportiva.

Pelo Central passaram grandes jogadores, que deixaram saudade entre seus torcedores mais fanáticos, como Chiquinho, jovem centroavante que aterrorizava os times adversários com seus gols maravilhosos. Jogador talentoso, Chiquinho do Zé Pintor, com era mais conhecido, brilhou intensamente no Berrospão do final dos anos sessenta a meados da década seguinte. Manoel da Guia, Wilton da Acar (Wilton Santos), foram alguns dos jogadores que formaram a muralha Centralina. Nos áureos tempos, o time contou ainda com os meias Albino e Bolfão, e muito mais tarde, com os atletas Pé Seco, Neném (Antonio Carlos) e Nonatinho, entre tantos outros que se destacaram jogando com a camisa alvirrubra. Foi a época de ouro do velho Central Esporte Clube.

Instado por mim, certo dia, a organizar uma espécie de seleção que definisse a formação ideal do Central desde o seu começo, relacionando, na sua visão, quais os melhores desportistas, diante de tantos bons jogadores que por ele passaram, o Dr. Adrian encontrou alguma dificuldade, mas, acabou nominando os onze jogadores da “sua” seleção.

Melhor formação do Central para o saudoso Presidente do Central Esporte Clube: Vigário (goleiro), Piqui, Ponês, Guia e Zé Raimundo (defesa); Nonatinho, Pé Seco e Itamar (meio-campo); Veras, Chiquinho e Cotréia (ataque).

Já se vão mais de sessenta anos desde a fundação do Central, inúmeros outros clubes foram fundados no município, um estádio novo e com muitos recursos foi também erigido na cidade, e o esporte tão ao gosto do brasileiro, ganhou disputados campeonatos no município. Hoje temos até um craque que representa a terrinha na seleção brasileira de novos, e que enverga a camisa 10 do Esporte do Recife, na disputa do Campeonato Brasileiro de Futebol, o nosso conterrâneo, Gustavo Oliveira. Bons frutos tem rendido o futebol desde que os primeiros times fundados, o Teresita e o Santa Cruz, que disputavam suas partidas no vetusto campo sem grama que havia na Praça do Mercado. Lá os conterrâneos ensaiaram os primeiros confrontos futebolistas no distante anos do ainda Curador.  

4 comentários:

  1. Que história linda , queria que essa historia nuca desaparecesse das nossas memórias, soh feliz por ter participado da história desse grande É maravilhoso clube CENTRAL que DEUS continue nos abençoando. AMÉM.

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  2. Excelente, uma verdadeira aula sobre o futebol de Presidente Dutra-Ma...
    Um abraço...!!!
    Bayma (Aposentado do Banco Brasil).

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  3. Obrigado pelo incentivo, pessoal. Bayma poderia escrever sobre as atividades esportivas da AABB e publicar aqui neste espaço.

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  4. José Pedro sempre surpreendendo com suas belas narrativas. Lá para as bandas da minha cidade, Matinha, o grande esquadrão do futebol era o Brasil Esporte Clube,com as cores da seleção brasileira.
    Eu no meu ingênuo bairrismo imaginava não haver time melhor que aquele.

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