segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Ronald Read vs Richard Fuscone

Imagem do Google

 

Bruno Giordano de Sousa Araújo(*)

Sempre gostei dos filmes do Rocky Balboa. A formula do roteiro, apesar de previsível, sempre me cativava. Vi tantas lutas do Rocky, que provavelmente a quantidade é maior do que as lutas reais que acompanhei. O interessante é que o Rock sempre foi o “azarão”. Apenas no terceiro filme ele era o “homem a ser batido” e isso fez com que ele fosse derrotado. Apolo era o campeão e franco favorito à contenda na primeira película. Drago tinha a força e todo o poder científico (dopping) que a USSR poderia prover, enquanto Rock teve que treinar em um galpão na Sibéria com pouca coisa a mais do que os arreios de cavalos e algumas carroças. A humildade, disciplina e determinação do protagonista eram suficientes para que ao final ele conseguisse derrotar adversários com mais conhecimento, mais histórico de lutas, mais força e recursos do que ele.

Então imagina minha surpresa quando me deparo com histórias que parecem roteiros criados por Hollywood, mas que realmente ocorreram na vida real. E esse confronto não se deu dentro da rinha de boxe, mas no mercado financeiro. Estou falando de duas personalidades que ficaram conhecidas por suas histórias diametralmente opostas, que se não fosse por estarem no mesmo ringue nunca se cruzariam.

No canto direito, vestindo nada mais que um macacão de zelador e um boné de frentista, temos Ronald Read. Ele nasceu em 1921 pequena cidade de Dummerston – Vermont/EUA, em um ambiente rural de baixa renda. Para estudar tinha que caminhar 6km ou pegar carona com algum vizinho, e de toda sua família, foi o primeiro a completar o ensino médio. Serviu na segunda guerra, trabalhou como mecânico e zelador por 25 anos e ao se aposentar passou a trabalhar em tempo parcial como zelador por mais 17 anos. Tinha seu carro e sua casa, pagos à vista, e era cliente habitual de uma rede de restaurante. Apesar da renda limitada que possuía, tinha o hábito de investir mensalmente e sempre diversificando seu portifólio entre empresas grandes com negócios que ele conhecia.

No canto esquerdo, vestindo um terno sob encomenda da Brook’s brothers, está Richard Fuscone. Ele se formou em Havard, fez pós graduação, trabalhou como executivo do Banco Merryll Lynch e aos 40 anos pode se aposentar. Sendo considerado um prodígio, apareceu em várias reportagens, participando de uma lista dos 40 empresários de sucesso com menos de 40 anos. Tinha mansões em frente ao mar e em Greenwich, Connecticut, com mais de 1,5 mil metros quadrados. Promovia festas nababescas em um salão de piso transparente sobre uma das duas piscinas que existiam na mansão.

E começa a luta. Imagina-se de imediato que Fuscone, que possui todas as vantagens e privilégios possíveis, não deixaria esse embate passar dos 30 segundos. Porém Ronald foi extremamente resiliente. Parecia o Rocky lutando, esquivo e defensivo. Adotou uma estratégia de controle emocional e financeiro para não se deixar levar pela ganância. Investiu sempre que pode. Manteve seu padrão de vida dentro de suas possibilidades. Quando o orgulho soprou “doces palavras em seus ouvidos”, defendeu-se e manteve-se atento aos seus princípios. E ao falecer aos 92 anos, tinha acumulado US$ 8 milhões. Doou para o hospital e biblioteca locais US$ 6 milhões, o restante ficando para a família.

Já Fuscone, que desde o começo alimentou o orgulho e a ganância, foi sofrendo duros golpes durante a luta. Não valorizou por nenhum momento a sua defesa. Tomou vários empréstimos para aumentar ainda mais suas mansões, que já tinham um custo de US$ 90 mil dólares mensais. Fez investimentos extremamente audaciosos e na crise de 2008, viu tudo virar pó. Foi a knockout. Teve que vender suas propriedades para sanar parte de suas dívidas, por menos de 75% do valor que as havia adquirido. Em sua audiência de Falência, declarou não ter renda. De franco favorito a vencedor, virou um case de como uma mente fraca pode colocar tudo a perder.

Essa luta imaginária acontece diariamente, e o mercado financeiro talvez seja a única arena onde uma pessoa com educação precária tenha chances contra um erudito de Havard. Mas para vencer esse combate não basta o conhecimento técnico. Atitude, planejamento e disciplina são fundamentais. Balboa ficará feliz com seus discípulos.

(*) Bruno Giordano de Sousa Araújo, é advogado, Assessor de Investimentos e sócio da empresa Perfil Investimentos (Fone: 98 98216-3954), empresa credenciado da XP Investimentos.

PERFIL INVESTIMENTOS (Escritórios em São Luís e Teresina)

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