A Casa da Água Branca

A sede da Água Branca (Foto do autor)

 

PG Alencar (*)

 

 

1 - A minha casa dos sonhos

Vem de uma inspiração

Dos meus tempos de criança

Que povoa a imaginação

E projetando moradas

Lembro o velho casarão

 

2 - Foi-se o tempo, foi-se gente

Foi-se até a velha figueira

Foi-se o parafuso da prensa

Foi-se a preta cozinheira

Só não foi a boa memória

Das caçadas de baladeira

 

 3 - As taipas resistem ao tempo

E ao vento ressequido

E o arrastado do chinelo

Não desmanchou o ladrilho

Da estrada, a velha paisagem

Nunca perdeu o seu brilho

 

 4 - O alpendre acalentou

Gente bem conversadeira

Se na rede balançou

Foi no torno de madeira

Bem fincados na parede

Suporte de gibão e perneira

 

 5 - Aquele alpendre me vem

Como se fosse um altar

Destacado bem do chão

Parece querer se sagrar

Como algo imponente

Um Olimpo do lugar

 

6 - Da mesinha da lateral

Lembro bem sua posição

O lugar do bom banquete

Ou para a degustação

De uma galinha caipira

Com farofa, arroz e feijão

 

7 - Na velha fornalha no chão

Vejo o queijo borbulhar

E a raspa de rapadura

No prato de esmalte esperar

O queijo dançando mole

Para o sabor aguçar

 

8 - O café enche a memória

Do olfato e do paladar

O grão torrado na hora

Faz a cheiro chafurdar

Lá de fora da cozinha

Lembro o moedor triturar

 

9 - Carne de boi se secava

Num suporte de madeira

Cada manta se espichava

Parecia uma esteira

Água fria era de pote

Não se tinha geladeira

 

10 - O velho curral do lado

Já não amansa mais boi

E a casa de farinha

Já não é mais o que foi

Mas dão bem seu testemunho

Dos tempos das pegas-de-boi

 

11 - Da passagem da estrada

O velho casarão ainda resiste

Chama para sentir o lugar

Me olha, parece que insiste

Para recarregar de um afeto

Que a memória não desiste.

 

(*) PG Alencar é poeta, engenheiro agrônomo e funcionário público federal.