quarta-feira, 21 de agosto de 2024

UMA PROSA ALENTADORA PARA NÃO DEIXAR QUE CAIA NO ESQUECIMENTO A HISTÓRIA DO NAZISMO NA AMÉRICA DO SUL

Capa do Livro 

José Pedro Araújo(*)



Devo iniciar esta peroração dizendo que o autor do presente trabalho literário é pessoa da minha mais alta estima e admiração. Refiro-me aqui ao escritor Orlando Muniz, advogado, procurador aposentado e músico diletante, com quem tive a imensa graça de conviver por longos anos quando praticávamos o bom combate para levar a Reforma Agrária aos distantes rincões deste imenso e desigual país. Talvez tenha sido ele o último Presidente da instituição a qual fazíamos parte, o INCRA, a conduzir com competência e criatividade a missão de reduzir um pouco a concentração de terras neste país nas mãos de tão poucas pessoas. Além do mais, é um conterrâneo por adoção, uma vez que é casado com a presidutrense Alice Soares, filha do saudoso Salomão Soares, líder empresarial dos mais brilhantes que já passaram pelas terras do meu querido Curador. E isso serviu para nos aproximarmos mais ainda, foi mesmo uma liga a mais que ainda hoje rende bons e profícuos frutos. Falo assim, porque acabo de receber das mãos deste amigo, uma obra literária gestada na sua mente criativa e irrequieta, e que me fez mergulhar de cabeça no seu interior, colhendo dela o inexcedível prazer de uma leitura das mais prazerosas.

Ainda sobre o autor da obra que doravante falarei, devo dizer que não foi nenhuma surpresa para mim a chegada deste trabalho que trouxe no seu bojo um repositório literário da mais alta significância, posto ser o seu criador um contador de histórias dos mais envolventes e que costuma sequestrar as atenção de todos os que se encontram à sua volta quando decide alegrar o ambiente com os seus causos. E quando O Pacto dos Velhos Marginais – O Fracasso do Nazismo Tropical, chegou às minhas mãos, sabia o que poderia esperar da obra. E não me enganei. Orlando Muniz relata com maestria e erudição a história suja e triste da experiência nazista na Argentina e Uruguai, e a partir da sua prosa atilada e bem conduzida, tece uma teia repleta de emoções que nos leva pela mão através da senda criminosa estabelecida por um tripé dantesco formado por militares golpistas, chefes do tráfico internacional e nazistas expurgados da Alemanha quando os aliados soterraram definitivamente a experiência dos eugenistas na naquele país europeu.

A Argentina, e também o Uruguai, recebeu muitos desses assassinos foragidos que transportaram para América do sul a ideia da raça ariana pura, e que tanta dor e sofrimento trouxeram na sua bagagem de absurdos. Aqui, como já afirmei, eles encontraram terrenos fértil em uma ditadura sanguinária instalada por gente da pior catadura e fizeram com que vicejasse como a erva daninha em horta descuidada. O autor, com a trama por ele criada, nos conduz pela mão, como já afirmei também, fazendo com que mergulhemos na história como se estivéssemos no meio dela, e como um dos seus protagonistas. E essa termina por ser a diferença que buscamos sempre encontrar entre um bom livro e uma obra sofrível: o envolvimento emocional, o desembarque no seio da trama que o autor descreve, a conexão definitiva com a história contada.

O Pacto dos Velhos Marginais é uma obra para ser lida de um só fôlego, e mesmo sendo uma ficção, traz embutida no seu roteiro a história verdadeira de uma experiência nazista que, felizmente, fracassou em terras do nosso hemisfério. Como bom prosador, o autor junta na história por ele criada fatos acontecidos logo após a segunda grande guerra, mas também outros ocorridos mais recentemente, como o atentado a Associação Mutual Israelita em Buenos Ayres em 1994, no qual pereceram cerca de oitenta e cinco judeus, e que até hoje não temos os seus autores e executores devidamente condenados. Este atentado sinistro, ao nosso ver, aliás, é o pano de fundo e a pedra de toque que ampara e alicerça a trama tão bem urdida pelo autor. É a história forçando para não se deixar cair no esquecimento tumular a que muitos tentam empurrá-la até hoje. Parabéns, mestre Orlando Muniz, a chegada de uma obra com a qualidade do Pacto dos Velhos Marginais, é presente aguardado com ansiedade todos os dias na nossa casa.

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José Pedro Araújo é engenheiro agrônomo, funcionário público federal aposentado, historiador, cronista, romancista, e coordenador do blog Folhas Avulsas.





 

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