sexta-feira, 13 de julho de 2018

DEPOIS DO GINÁSIO PRESIDENTE DUTRA (CPD)

Turma do CPD 1969 - O autor é o último da esquerda para a direita

José Pedro Araújo

Ontem, em entrevista concedida ao programa Sarau 16, da TV Assembleia, fui instado a falar pelo entrevistador, o notável Otávio César, sobre os motivos que me levaram a escrever sobre a minha terra querida. Quase não paro mais de elencar as várias razões que me levaram a fazer isso. Ainda muitos motivos ficaram sem espaço em decorrência da brevidade do tempo de uma entrevista, mesmo tão alongada como foi esta. Antes disso, a conversa se deu, ainda fora do ar, sobre os valores do velho Curador, cidade que o entrevistador afirmou ainda não conhecer. Hoje pela manhã, ainda acordando lentamente de uma noite bem dormida, passei a rememorar tudo aquilo que conversamos. E então me veio à mente os meus últimos dias de residência na minha querência, os momentos de insegurança e de saudade antecipada que me envolveu naqueles dias de dezembro a março de 1969.
O meu tempo na minha terra estava se esgotando rapidamente, pois sabia que talvez não voltasse mais a morar por ali. E isso de fato ocorreu. Até agora, pois não costumo fazer tentativas de premunir o futuro. Depois das festividades da formatura, que aconteceu no salão paroquial, veio-me aquela sensação de desamparo, de ruptura com os meu pretéritos quinze anos vividos em meio a minha família, aos meus amigos, ao meu habitat, enfim.  Tudo isso permeado com uma grande indefinição: aonde iria para dar continuidade aos meus estudos? Essa pergunta se arrastou por muitos dias. Até que meu pai bateu o martelo e falou que o meu destino seria Teresina, capital do seu estado natal, e onde possuía muitos parentes e amigos.
Decidido isto, certo dia ele partiu em viagem à capital piauiense para tentar me matricular em algum estabelecimento do curso secundário. Meu pai era muito decidido e não costumava recuar frente aos problemas que lhes apareciam. Naquela época, atravessava uma grave crise financeira, uma vez que tivera que encerrar as suas atividades comerciais, fechando a sua loja de tecidos. Já em Teresina, foi em busca de alguns parentes para solucionar o primeiro problema: a minha matrícula em um colégio público, onde pudesse eu estudar gratuitamente. Bateu às portas do Palácio de Karnak, sede da governadoria do estado, em busca de um primo em segundo grau, Coronel Aurino Nunes, que desempenhava as funções de secretário do governador Helvídio Nunes, também seu parente. E de lá já saiu com um bilhete endereçado ao diretor do Liceu Piauiense (Colégio Estadual Zacarias de Góis), uma solicitação para que aquele diretor providenciasse uma vaga para mim naquele estabelecimento de ensino.
Ao ser recebido pela maior autoridade do colégio, deu-se a conhecer e falou sobre as razões do pedido da sua audiência. O Diretor respondeu rapidamente que sentia muito, mas o período das inscrições, e até mesmo para os testes para ingresso no colégio, já tinham acontecido dias antes. Portanto, não havia mais o que fazer. Meu pai sacou do bolso o bilhete enviado pelo Secretário do governador e o entregou para ele, que o leu rapidamente, e depois retrucou: “por que o senhor não me entregou logo o bilhete? Isso aqui é uma ordem, apesar do cuidadoso e educado termo de solicitação!”  
E de imediato chamou uma senhora da secretaria para solucionar o problema, ou seja, realizar a minha matricula. Mesmo fora dos prazos, mesmo sem fazer os exames obrigatórios para ingresso no colégio. Antes que façam algum juízo sobre o acontecido, devo dizer que o meu pai não tinha muitas opções naquele momento, e o meu ingresso no colégio, mesmo tomando um atalho, não prejudicou a ninguém, posto que não ocupei a vaga de nenhum outro aluno que tenha seguido os trâmites normais. E eu honrei cada aula assistida, dediquei-me com afinco aos estudos e logrei bons resultados naquele estabelecimento de ensino.
Na hora da matrícula, surgiu um problema: meu pai havia se esquecido de levar as duas fotografias 3x4 que eram necessárias para serem afixadas nas fichas de matrícula. Mas a senhorinha encarregada pelo diretor resolveu o problema rapidamente: apanhou na sua bolsa duas fotos de um neto mais ou menos da minha idade e pregou-as nas fichas. Pediu ao meu pai que, quando eu viesse para o início das aulas, trouxesse as fotografias para ela fazer as substituições. Tanta simpatia daquela senhora lhe era um atributo que nascera com ela, uma pessoa já idosa, mas muito carinhosa e de fino trato. Mas havia uma outra razão: logo meu pai descobriu ser aquela senhora uma sua parenta, descendente dos Araújo de Picos, que também era a sua terra natal.
Vencida essa etapa, que comemoramos com muita alegria, havia uma questão crucial a ser resolvida: em que lugar eu iria morar em Teresina? Mas meu pai sempre foi um homem movido à esperança, além de muito firme nos seus propósitos. Quando perguntado sobre isso, ele me respondeu: o futuro Deus proverá! E Ele realmente proveu. Através de um amigo comum, que intermediou a conversa, surgiu o senhor Manoel Pepita, um nobre servo de Deus que residia nas imediações da ponte metálica de Teresina, e que me acolheu até que eu encontrasse um local para ficar. Passei com a sua família os primeiros quatro meses da minha já dilatada residência na capital piauiense. E o melhor: passei a residir muito próximo ao Liceu, e nem precisava tomar condução para chegar até lá.
Resolvido todos os problemas para a minha mudança, restou-me aquela adrenalina aumentada a cada dia que passava e que se aproximava da data da minha partida para a capital Mafrense. Sabia que, uma vez saindo de casa pela primeira vez, dificilmente retornaria para lá para residir definitivamente. Restaria os meus períodos de férias. Eu teria que me contentar com eles. E isso me trazia muitas tristezas. Até que chegou o dia da minha viagem, e nesse dia sai pelo quintal da minha amada casa abraçando e beijando cada árvore que lá existia. Estava com o coração dilacerado por deixar para trás a minha família, os meu amigos, mais também aquele lugarejo tão pequeno e tão amado, e de tantas lembranças que carregaria comigo pelo resto da minha vida.
Havia ainda um problema a ser superado: da minha turma de concludentes, somente eu iria para Teresina. Os outros partiriam para São Luís, e alguns outros, por absoluta falta de condições, continuariam seus estudos na própria cidade, onde restavam duas opções: os cursos de contabilidade e o de preparação para professor. Menos mal que no ano seguinte passei a contar em Teresina, na mesma república, com um grande amigo desde os tempos do grupo escolar Murilo Braga: Jean Carvalho de Souza. E isso teve um peso positivo grandioso na minha vida, por tudo que representou para mim a sua amizade. Mas aí já é outra história.

2 comentários:

  1. Amigo, pelo texto o senhor prevaricou e usou de uma corrupçãozinha foi cedo

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  2. Essa crise que o nobre amigo fala, foi decorrente da reforma financeira e bancária feita no governo Castelo Branco e que continuou no governo do presidente Costa e Silva. Sustou o crédito bancário e faliu comércios e empresas em nossa Curador.

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