segunda-feira, 11 de março de 2019

TUNTUM – O Topônimo(a origem do nome)

Foto do blog Bate Tuntum.com)




Por Jean Carlos Gonçalves*

Todos já ouvimos a frase: "No Coração do Maranhão bate TUNTUM". Sem dúvida o enunciado é uma forma de identificar nossa cidade e também de nos auto reconhecermos tuntuenses. Mas por que TUNTUM? Qual a origem do topônimo? Há uma única versão para sua origem? Ou várias? Em caso de várias, alguma pode ser considerada correta? Ou todas possuem sua lógica? 
Na busca de contribuir para uma melhor compreensão, ou mesmo incitar o debate acerca dessas questões é que compartilho aqui uma síntese de algumas investigações.

Bem...

Há várias para a origem do topônimo “Tuntum”, dentre as quais, existem duas que são mais aceitas. A primeira, atribui à origem da palavra “Tuntum”, ao som produzido por caçadores que batiam um cajado no chão para atrair caça. Ideia bastante aceita devido à abundância de animais na região: 
“A Srª. Maria do Anunciato Borges afirmou em entrevista concedida em 1995, que o pai dela, o Sr. Manoel José Pereira, dizia que o nome Tuntum é resultante do modo primitivo utilizado pelos caçadores para atrair animais. Consistia em bater no solo fofo com um pedaço de madeira, produzindo o som Tum...Tum...Tum... Truque muito repetido no mesmo local. (GAZETINHA DE TUNTUM, Ano I, nº. 3)”. 
O Srº Vicente Paiva Noleto, relatou que em 1965, José Sarnay, então candidato ao governo do Maranhão, em primeiro comício aqui na Cidade, teria iniciado seu discurso assim: “Povo de Tuntum! Das gameleiras do Tuntum de Cima às gameleira do Tuntum de Baixo! De onde os pioneiros caçadores com seus cajados atraiam as caças [...]". 

Outra versão seria o som produzido, a partir de uma queda d’água existente no riacho que banha a cidade e produzia (tum, tum, tum...). Esta sobrevive no imaginário popular e consta, inclusive, na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros editada pelo IBGE, em 1959: “[...] produzido pela queda de água de um riacho de igual nome e que banha a cidade.”

O Sr. José Costa Carvalho, o Deco, residente em Tuntum desde 1951, afirmou em depoimento que não só conheceu o referido “olho d’água”, mas que ajudou construir, ainda na década de 1950, um tanque em suas imediações para as pessoas tomarem banho, pois não havia serviço de abastecimento de água às habitações do povoado. Deco relatou que no local onde o veio d’água atingia a rocha se formou uma cratera em forma de vasilha, resultado de muito tempo da ação da água na rocha. O mesmo afirma que a fonte d’água se localizava acima da ponte metálica que liga atualmente, o bairro Campo Velho ao centro e que desapareceu por causa da ação erosiva em função do desmatamento da mata ciliar do riacho, assim como aconteceu com a Cacimba da Otília e está ocorrendo com a Mucuíba, a Agogô, o Pinga, o Poção, o Pubeiro e tantos outros pontos do riacho Tuntum, ou melhor, lugares de diversão, lazer e hoje também habitam a memória de várias gerações e relutam em sobreviver no imaginário coletivo. 

Há também quem afirme que o topônimo tenha origem nos batuques dos tambores indígenas que teriam ocupado o lugar antes dos colonizadores. Esta tese é bastante controversa, pois há tanto quem a defenda quanto quem a refute. 

O Sr. Raimundo Santos, nascido em 1908 e pertencente à família Carneiro Santos, uma das pioneiras no povoamento da sede, indagado sobre a existência de silvícolas na região, afirmou que quando sua família chegou a Tuntum não havia índios e que o topônimo não tinha qualquer relação com os “caboclos”, atribuindo o nome som da água que caía sobre as lajes do riacho. 

Entretanto, o já citado artigo do Professor Geovane Alves, fundamento na literatura oral discorre sobre vestígios como: 
“[...] mangueiras e laranjeiras de aparência centenária; instrumentos de trabalho, utensílios para o preparo de alimentos e cerâmicas. Tudo cultivado e trabalhado bem ao modo dos índios Guajajaras, que, conforme corroboram os estudos realizados pela Professora Doutora Maria Elisabete Coelho, Universidade Federal do Maranhão, apresentados no livro A Política Indigenista do Maranhão Colonial, e pelo Antropólogo Édson Soares Diniz, da Universidade Federal do Pará, no livro Os Tenetehara-Guajajara e a Sociedade Nacional.” (GAZETINHA DE TUNTUM op. cit).

Alves cita informações concedidas pelo Sr. Nito, neto de José Naziozeno, considerado o primeiro morador da sede municipal: 
“Dizia esse migrante cearense que ao chegarem (ele, pai e avô) ao local denominado Engenho do Caboclo, encontraram na grota lá existente, um pequeno dique, feito com toras de madeira roliças, cujas frestas estavam vedadas com cera de abelhas. Indícios fortes de que na área, além de índios, habitavam negros, provavelmente, fugidos de fazendas escravocratas de outras regiões.” (GAZETINHA DE TUNTUM, Ano I, Nº 3). 
O ex-prefeito Hélio Araújo, em trabalho monográfico advoga a tese de que Tuntum fora habitada inicialmente por silvícolas da tribo Gaviões, que teriam sido os primeiros habitantes do bairro Tuntum de Cima. Enquanto que no centro (Tuntum de Baixo) “agrupavam-se os índios Canelas” (ARAÚJO, 2013, p.58). 

Também presente na memória coletiva local, há a versão de que o nome TUNTUM teria originado do barulho produzido pela quebra de cocos nas pedras por cutias à margem do riacho. Esta tese é uma das menos aceitas, pois se trata de um animal de pequeno porte. Pois qual o tipo de coco era quebrado? O aqui existente babaçu? Tucum? Macaúba? Muito improvável. 

O Srº Paulo Andrade, antigo morador de Tuntum, 90 anos, atribui o topônimo às batidas produzidas em pilões para descascar arroz, atividade esta realizada por suas irmãs. O saudoso Paulo Andrade, afirma ainda que alguns quiseram mudar o topônimo para Babaçulândia, devido a grande quantidade de palmeiras de babaçu na região, ideia esta que não foi aceita pela maioria. No entanto, esta pesquisa não identificou outros que confirmassem tal versão. 

Por outro lado, uma coisa parece certa: o topônimo “Tuntum” não fora atribuído ao lugar imediatamente após a chegada dos primeiros moradores e, portanto, há necessidade de investigação mais aprofundada para se ter uma ideia mais precisa de quando o lugar passou efetivamente a ser denominado como tal. Pois, as moradas dos primeiros ocupantes tinham nomes específicos: os Naziozenos – Engenho do Caboclo ou Brejo do Caboclo; os Carneiros Santos – Alto dos Carneiros (atual bairro Vila Mata); os Siriácos, no Siriáco; os Benvidos e Borges, no lugar Pacas, próximo ao olho d’água da Mucuíba. 

Assim, cabe indagar: A partir de que momento o lugar passou a ser denominado Tuntum? Ou teria sido uma localidade cujo topônimo prevaleceu em relação às suas contemporâneas? Em caso positivo, o que teria levado os antigos habitantes a aceitarem um termo comum? Questões que não querem silenciar, entretanto, passíveis de uma investigação mais profunda.

(*) Jean Carlos Gonçalves, é professor, historiador, cronista e coordenador do blog “Ecos de Tuntum”.

14 comentários:

  1. Belissima matéria sobre a nossa vizinha cidade de Tuntum. Aliás, cidade que tenho muitas amizades. Parabéns ao professor Jean Carlos, que em conjunto com José Pedro de Araújo Filho, historiador da região,resgataram um pouco da História dessa cidade querida.

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    1. Obrigado, meu amigo. Todo o mérito para o jovem historiador Jean Carlo que, se ainda não recebeu, deveria ser agraciado com o título de cidadão tuntuense, uma vez tão abnegado às coisas da terra, e apesar da sua origem graçaranhense.

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    2. Muito obrigado pela gentileza, amigo. Somos todos da Mata do Japão. Um fraternal abraço!

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    3. Sou Mareni Macedo Naziozeno e gostaria muito de ter o contato de José Pedro Araujo e Jean Carlos, uma vez que estamos produzindo uma coletânea, isso significa, a produção de livros para cada Estado da Amazônia, em virtude que meu pai Aureo Macedo Naziozeno é um dos pioneiros de Rondônia. Meu contato: 21 966290930. Grata.

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    4. Jean Carlos Gonçalves. (99) 991974746

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  2. Excelente texto! Faltou, no entanto, uma definição concreta sobre qual das teses abordadas condiz com a nomenclatura do próspero município. Já ouvi e vi escritos com vertentes diferentes, a exemplo do que consta na Enciclopédia Wikipédia. Sei o quanto é difícil para o historiador transitar por caminhos diferentes na busca de dados irrefutáveis sobre o seu objeto de pesquisa. Tenho vivido essas dificuldades no meu dia a dia como humilde historiador da cidade que me acolheu nos albores da infância, Axixá do Tocantins. Nasci no povoado Creoli do Joviniano, município de Presidente Dutra - MA.

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    1. A dúvida persiste até os dias de hoje. As teses levantadas possuem seguidores ardorosos, com uma leve vantagem para a que relaciona o nome do município a onomatopeica palavra que traduz a batida da água do riacho na pedra. Que o nosso bravo pesquisador nos corrija.

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    2. Humilde historiador, sim. Mas, nunca pequeno, meu grande amigo e conterrâneo. A sua contribuição ao mister avulta ao trabalho realizado por muitos que labutam nessa área.

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    3. Nobre, Remy Soares! Conterrâneo da Mata do Japão! Agradeço-te pelo comentário. Em relação a questão de não discorrer ou advogar por uma ou outra versão apresentada, se deve por falta de fontes documentais e,quando se recorre a memória oral, não se pode fundamentar com o devido rigor teórico e metodológico, nenhuma delas. José Pedro de Araújo Filho, foi cirúrgico em seu comentário.
      No que tange a versão apresentada na Wikipédia, não me aventurei em considera-la, posto que não se trata de fonte confiável, ainda mais depois que entrevistei, o Sr° Paulo Andrade, cujo o texto daquela enciclopédia virtual buscou exaltar. Paulo Andrade foi um grande personagem de nossa história, mas o próprio desqualificou aquelas informações, diante de mim, numa entrevista, dois anos antes de sua morte.

      Voltando a questão inicial, digo-te, que o texto sobre o topônimo TUNTUM, foi escrito, justamente para suscitar o debate, na esperança de que se apresente fontes documentais e/ou argumentos lógicos acerca da origem do topônimo TUNTUM. Portanto, uma saudável provocação.
      Hoje temos novas informações, que no momento oportuno divulgaremos.
      De cá, desejo-te sucesso em tua abnegada missão de resgatar a memória de Axixá-TO, para que seja imortalizada nos teu pergaminhos.

      Um fraternal abraço!

      Jean Carlos Gonçalves.

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    4. A lindeza de percorrer as veredas dos personagens é mostrar a verdade de cada pessoa, pois a verdade para um não é igual para o outro, uma vez que a visão e o meio em que cada um dos entrevistados vivem tem uma perspectiva diferente, é isso que torna o trabalho do historiador fascinante...
      Também sou leiga e como vc disse a humildade é tudo. Gratidão.

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  3. Nobre, Remy Soares! Conterrâneo da Mata do Japão! Agradeço-te pelo comentário. Em relação a questão de não discorrer ou advogar por uma ou outra versão apresentada, se deve por falta de fontes documentais e,quando se recorre a memória oral, não se pode fundamentar com o devido rigor teórico e metodológico, nenhuma delas. José Pedro de Araújo Filho, foi cirúrgico em seu comentário.
    No que tange a versão apresentada na Wikipédia, não me aventurei em considera-la, posto que não se trata de fonte confiável, ainda mais depois que entrevistei, o Sr° Paulo Andrade, cujo o texto daquela enciclopédia virtual buscou exaltar. Paulo Andrade foi um grande personagem de nossa história, mas o próprio desqualificou aquelas informações, diante de mim, numa entrevista, dois anos antes de sua morte.

    Voltando a questão inicial, digo-te, que o texto sobre o topônimo TUNTUM, foi escrito, justamente para suscitar o debate, na esperança de que se apresente fontes documentais e/ou argumentos lógicos acerca da origem do topônimo TUNTUM. Portanto, uma saudável provocação.
    Hoje temos novas informações, que no momento oportuno divulgaremos.
    De cá, desejo-te sucesso em tua abnegada missão de resgatar a memória de Axixá-TO, para que seja imortalizada nos teus pergaminhos,para que se torne patrimônio do povo que te acolheu.

    Um fraternal abraço!

    Jean Carlos Gonçalves.

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  4. Olá!

    Permita-me, fazer um breve comentário, para conhecimento e avaliação.

    A História das Povoações do Território fértil chamado JAPÃO, e os primeiros desbravadores sitiantes proprietários do lugar que entrou para a história como Tuntumtum.

    Que compreendia desde o antigo Arraial Campo Largo nas barrancas do rio Alpercatas próximo à confluência do Alpercatas com o Itapecurú, abrangendo cerca de 200 km, entre os Rios Corda, Mearim, Flores e Grajaú e vários riachos, entre tantos, cito alguns:

    * Corrente;
    * Leandro;
    * Mucura;
    * Preguiça;
    * Jacaré;
    * Japão (e/ou Tuntum).

    Aos amigos e amantes da História bom proveito e ótima leitura.

    Um abraço fraterno.

    Palmas - TO, 20 de março de 2019.

    Creomildo Cavalhedo Leite.

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  5. Caros, avalio que talvez seja melhor que nunca haja unanimidade sobre essa questão, "a origem do nome de Tuntum". Esta incerteza tem gerado especulação e mantido um ar de "romantismo" acerca da denominação mais singular de que se conhece dentre os mais de cinco mil municípios brasileiros. Tal ar de mistérios persiste em razão da profunda ligação que existe entre do nosso município e a "nação tuntuense".
    O nome Tuntum, que no passado provocava risadas em muitos, hoje é motivo de orgulho para o nosso povo.
    Considerando que os texto escrito sempre apresentam certas limitações em alguns aspectos, seria muito interessante se em algum momento fosse organizado um Seminário para se debater, não somente o nome, como também outros aspectos da nossa rica História. Desde já me proponho a contribuir com ta proposta.
    Prof. Geovany Inst. geo_silva1_

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  6. Que lindeza!! Prof. Geovany é o mistério que envolve o nome que torna tudo maravilhoso!! Gostaria de participar desse seminário e apreender com vcs td sobre "TUNTUM"". Portanto, hoje que descobri através de vcs minhas origens maranhenses e estou em êxtase e vai ser um prazer imenso ter vcs me assessorando na escrita da coletânea. Meu pai nasceu na Bahia em Itaberaba e pelas pesquisas achei que o primeiro Naziozeno tinha desembarcado em Pernanbuco.
    Grata,

    Mareni Macedo Naziozeno

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