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O majestoso rio Parnaíba(foto de autoria desconhecida) |
José
Pedro Araújo
Da mesma forma que o São
Francisco é conhecido como o rio da integração nacional, o rio Parnaíba pode
receber o epíteto de rio da Integração do Piauí, por sua importância ímpar para
a ocupação e desenvolvimento deste Estado. O traçado do seu curso, a relativa
ocorrência de obstáculos intransponíveis e a largura e profundidade do seu
leito, são alguns dos pontos positivos que favoreceu o trânsito de pessoas e
embarcações ao longo de todo o trecho navegável. Também funcionou como fator
primordial a configuração do próprio território, amplo no seu comprimento e estreito
na sua largura. Por esta razão, desde a sua embocadura no Atlântico, até a
região de Santa Filomena, a mais de um mil quilômetros de distância, existia,
naquela época, certa facilidade na sua navegação utilizando-se embarcações com
calado apropriado.
Por estas razões, transformou-se o chamado rio
grande dos Tapuias em autêntico caminho por onde desciam as embarcações com os
produtos agropecuários produzidos na região sul, chegando até ao litoral; da
mesma forma, por ele subiam as embarcações com outros artigos não encontrados
nas distantes regiões de onde procediam os rebanhos. Do mesmo modo, também trafegavam
seu leito sinuoso os novos ocupantes do vasto e desocupado território, grandes
pecuaristas, mas também pequenos agricultores, todos a procura de locais aonde
situar suas moradias simples. Pequenas posses de terra lhes serviriam para
assentarem nelas suas famílias, instalar suas roças com produtos de
subsistência e seus diminutos rebanhos.
Nas margens desse manancial de esperanças
relevantes, foram surgindo pequenos embarcadouros, que muito mais tarde se
transformariam em cidades, centros de atração de novas populações e novos
negócios. Em um ponto equidistante deste fantástico rio, entre Parnaíba e o
alto sertão, o Agrônomo Francisco Parentes instalaria a primeira colônia
agrícola na Província, munida de estrutura apropriada para receber a primeira
escola especializada em agropecuária, no local que ficou conhecido como Colônia
e, anos depois, cidade de Floriano. Aquele estabelecimento, que passou a
chamar-se São Pedro de Alcântara, sobre o qual falaremos mais detidamente à
frente, funcionou como principal ponto de apoio aos colonos que subiam o rio em
busca das fertilíssimas terras existentes mais ao sul.
Pode-se assim dizer que acontecia agora um
processo de recolonização, uma vez que os primeiros colonos vindos da Bahia e
de Pernambuco, haviam começado exatamente por aqueles ermos sertões a ocupação
do território piauiense. Portanto, à
falta de estradas com boas possibilidades de tráfego que ligasse as regiões sul
e norte, foi o rio Parnaíba o principal percurso tomado pelos primeiros
desbravadores, símbolo de uma época de grandes conquistas e de muita luta.
As embarcações usadas para vencer as grandes
distâncias naqueles tempos remotíssimos eram simples, construídas à partir do
talos retirados da palmeira denominada buriti ou do próprio babaçu. Em rudimentares
embarcações, aproveitavam-se da corrente os primeiros navegantes, para chegar
aos primeiros aglomerados urbanos que iam se formando ao longo do portentoso
rio, até chegar ao seu litoral, onde crescia com desenvoltura a célebre
povoação de São João da Parnaíba. Também trafegavam contra a corrente, as
grandes canoas, levando suas cargas e seus passageiros, impulsionadas para
frente pelo braço forte do resoluto barqueiro, por centenas de quilômetros, à
falta de outro meio de transporte que facilitasse a chegada da sua carga ao sul
da Província.
Foi tormentosa a luta dos primeiros
administradores para abrir e conservar os primeiros caminhos ligando a capital
da Província com as vilas que iam se formando nos distantes sertões. Os
recursos escassos e o desinteresse da Coroa para com a nova colônia, deram o
tom do primeiro século de vida dela. É vasta a documentação encontrada dando
conta das correspondências enviadas à Corte com a solicitação de recursos para
abrir estradas, construir pequenas pontes sobre os rios mais importantes ou
simplesmente conservar e alargar os caminhos abertos pelos curraleiros para
tocarem as suas boiadas até os mercados consumidores.
Por outro lado, a eterna falta de recursos da
qual padecia a Província, além da pobreza de espírito e de dinheiro do nascente
empresariado local, impediu por mais de um século que embarcações movidas à
motor substituíssem as pobres canoas impulsionadas a remo, na difícil tarefa de
vencer as grandes distâncias até os locais mais distantes do Piauí. Discorrendo
sobre isto, o incansável Odilon Nunes vai buscar na correspondência trocada
entre o Presidente da Província, Frederico de Almeida e Albuquerque e o
ministro do Império, as razões que considera como preponderantes para o atraso
eterno pelo qual passava o Piauí: a falta de meios de transportes para os
produtos locais.
Visando chamar a atenção para a aflitiva
situação de atraso pelo qual passava o território por ele administrado, Almeida
e Albuquerque esclarece assim a situação vivida: “Esta Província fica em sua totalidade, tão distante dos portos de mar,
e dos grandes mercados do país que muitos de seus produtos agrícolas deixam de
ter valor algum, porque as despesas de transporte absorvem e porventura excedem
ao mesmo valor; e aquele mesmo produto que é o objeto da ocupação da máxima
parte dos respectivos habitantes que constitui a riqueza da Província, o gado,
vende-se por preço mui inferior àquele por que costuma ser vendido o que
produzem as províncias vizinhas que se acham colocadas em posições mais
favoráveis” (NUNES, pág. 139, 2007).
Foram tempos de duras lutas, vencidas pela
dadivosa existência de um grande manancial, chamado rio Parnaíba. Contudo,
se funcionou como grande válvula de escape, tornou-se também a desculpa que
queriam os gestores do país que diziam não precisar o Piauí de estradas
terrestres, uma vez possuindo o extenso e sinuoso rio que cobria toda a sua
extensão.
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