(Chico Acoram Araújo)*
I
Do lado de cá da Serra
Grande, sempre magistral
lá no horizonte, nasceu
Nadi, índia perenal
da sua valente tribo
Itacoatiara, a exibo
como distinta ancestral.
II
Nadi, filha do pajé
Araquém, tinha os cabelos
negros como são as asas
do assum-preto, e os desvelos
da luzente cabeleira
longa da índia brasileira
que encanta sem desmazelos.
III
Chamada de mãe das mães,
casou-se com Itagiba,
que tinha os braços bem fortes
como pedra, que derriba
com as mãos um touro bravo,
e que não aceita agravo
de gente da serra arriba.
IV
Itagiba gera os índios
Ubiratan, que na mão
leva o tacape bem forte,
e Moema: um coração
e doçura de mulher,
que todo homem muito quer,
que esposa tem vocação.
V
Ubiratan que gerou
Ubirajara, o senhor
das lanças, um bom guerreiro
e excelente caçador
das florestas com bravura,
pois da mata grande, escura,
era o mais conhecedor.
VI
E de Moema nasceu
Ubirani, ser tenaz
e cordial (no tupi
é o local contumaz
onde o doce mel escorre),
e aos seus irmãos bem acorre
com candura e muita paz.
VII
Ubirani que gerou
Porã, o filho bonito,
e Apuana, que era exímio
corredor das matas, dito
tranquilo e encantador
e Ubajara, O Senhor
das Guerras e Armas, o mito.
VIII
Porã gerou a Potira,
linda flor exuberante,
e Apoema, que anteviu
o invasor beligerante
entrar nas terras nativas
tornando as índias cativas,
e aos índios dor torturante.
IX
Potira gerou Taiguara,
o liberto da opressão
dos homens maus do além-mar;
e Apoema gerou então
o Moacir, que sofreu
assistindo o povo seu
sofrendo sem compaixão.
X
Do bom Moacir nasceu
Araci, que foi a aurora
de uma nova geração,
a última índia de outrora
tribo (temível, valente)
Itacoatiara ingente,
cuja extinção não demora.
XI
Araci, ainda mocinha,
casa-se com o vaqueiro
Manoel, um bom caboclo
trabalhador, bem ordeiro;
que morava de agregado
do patrão, cuidando o gado
com grado no tabuleiro.
XII
Araci gerou seus filhos
e filhas, com as feições
de gente agora mestiça,
mas com as conformações
da beleza primitiva
da bela raça nativa,
a cultura e tradições.
XIII
Dentre as filhas de Araci,
uma de nome Maria
gerou a bela Jovita,
um anjo eu bem que diria!
De pele dourada, e raros
olhos castanhos bem claros
que noutras moças não via.
XIV
Com longos cabelos pretos,
de estatura mediana,
Jovita era neta de índia
de uma região serrana,
abrigo dos pirilampos
lá de Capitão de Campos,
numa tribo já profana.
XV
A Maria Jovita Nunes,
por Jovita conhecida,
criada por sua tia
irmã da mãe falecida
quando era muito criança
deixando apenas lembrança
na memória comovida.
XVI
Certo dia, a jovem órfã
acompanhou sua tia
e família com destino
ao Maranhão, pois queria
boas condições de vida
pra sua gente que lida
com lavoura, dia a dia.
XVII
Jovita, ainda uma jovem,
lá conheceu um mulato
de nome Chico Maroca
vindo das bandas do mato
ou das ribeiras do rio
Marataoan, de bom brio,
trabalhador e cordato.
XVIII
Filhos de Chico Maroca
e Jovita são com fé:
Carlos, Domingos, Socorro,
Vera, Francisco José,
Filho e Wilson, e os falecidos
Tenros, três irmãos queridos
Relembrados hoje até.
XIX
O primogênito Carlos
gerou Josy, Vitor, a ente
querida Carla Patrícia
que geraram uma gente
de infantes e bons guerreiros
que avante serão herdeiros
de um povo forte e decente.
XX
Josy gerou João Guilherme;
Vitor gerou Gabriela
e Sofia; Carla Patrícia
aumentou a parentela
com Ricardo e o Renato,
que de bom grado, sou grato
pela prole tão singela.
XXI
Para concluir meu poema
Sem versos e rimas feias,
Minha genealogia
Vem do índio das aldeias
Tem do branco e negro as graças,
Trago o sangue das três raças
Correndo nas minhas veias.
(*) Chico Acoram Araújo é poeta cordelista, cronista e funcionário público federal.
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