quarta-feira, 11 de novembro de 2020

A HISTÓRIA DE UMA MULHER VIRTUOSA


 

                                                            (Chico Acoram Araújo)*

 

 

I

Do lado de cá da Serra

Grande, sempre magistral

lá no horizonte, nasceu

Nadi, índia perenal

da sua valente tribo

Itacoatiara, a exibo

como distinta ancestral.

 

II

Nadi, filha do pajé

Araquém, tinha os cabelos

negros como são as asas

do assum-preto, e os desvelos

da luzente cabeleira

longa da índia brasileira

que encanta sem desmazelos.

 

III

Chamada de mãe das mães,

casou-se com Itagiba,

que tinha os braços bem fortes

como pedra, que derriba

com as mãos um touro bravo,

e que não aceita agravo

de gente da serra arriba.

 

IV

Itagiba gera os índios

Ubiratan, que na mão

leva o tacape bem forte,

e Moema: um coração

e doçura de mulher,

que todo homem muito quer,

que esposa tem vocação.

 

V

Ubiratan que gerou

Ubirajara, o senhor

das lanças, um bom guerreiro

e excelente caçador

das florestas com bravura,

pois da mata grande, escura,

era o mais conhecedor.

 

VI

E de Moema nasceu

Ubirani, ser tenaz

e cordial (no tupi

é o local contumaz

onde o doce mel escorre),

  e aos seus irmãos bem acorre

com candura e muita paz.

  

VII

Ubirani que gerou

Porã, o filho bonito,

e Apuana, que era exímio

corredor das matas, dito

tranquilo e encantador

e Ubajara, O Senhor

das Guerras e Armas, o mito.

 

VIII

Porã gerou a Potira,

linda flor exuberante,

e Apoema, que anteviu

  o invasor beligerante

entrar nas terras nativas

tornando as índias cativas,

e aos índios dor torturante.

 

IX

Potira gerou Taiguara,

o liberto da opressão

dos homens maus do além-mar;

e Apoema gerou então

  o Moacir, que sofreu

assistindo o povo seu

sofrendo sem compaixão.

 

X

Do bom Moacir nasceu

 Araci, que foi a aurora

de uma nova geração,

a última índia de outrora

tribo (temível, valente)

Itacoatiara ingente,

 cuja extinção não demora.

  

XI

Araci, ainda mocinha,

casa-se com o vaqueiro

Manoel, um bom caboclo

trabalhador, bem ordeiro;

que morava de agregado

do patrão, cuidando o gado

com grado no tabuleiro.

 

XII

Araci gerou seus filhos

e filhas, com as feições

de gente agora mestiça,

mas com as conformações

da beleza primitiva

da bela raça nativa,

a cultura e tradições.

  

XIII

Dentre as filhas de Araci,

uma de nome Maria

gerou a bela Jovita,

 um anjo eu bem que diria!

De pele dourada, e raros

olhos castanhos bem claros

que noutras moças não via.

  

XIV

Com longos cabelos pretos,

de estatura mediana,

Jovita era neta de índia

de uma região serrana,

abrigo dos pirilampos 

 lá de Capitão de Campos,

numa tribo já profana.

 

XV

A Maria Jovita Nunes,

por Jovita conhecida,

criada por sua tia

irmã da mãe falecida

quando era muito criança

deixando apenas lembrança

na memória comovida.

  

XVI

Certo dia, a jovem órfã

acompanhou sua tia

e família com destino

ao Maranhão, pois queria

boas condições de vida

pra sua gente que lida

com lavoura, dia a dia.

  

XVII

Jovita, ainda uma jovem,

lá conheceu um mulato

de nome Chico Maroca

vindo das bandas do mato

ou das ribeiras do rio

 Marataoan, de bom brio,

trabalhador e cordato.

 

XVIII

Filhos de Chico Maroca

e Jovita são com fé:

 Carlos, Domingos, Socorro,

Vera, Francisco José,

Filho e Wilson, e os falecidos

 Tenros, três irmãos queridos

Relembrados hoje até.

  

XIX

O primogênito Carlos

gerou Josy, Vitor, a ente

querida Carla Patrícia

que geraram uma gente

de infantes e bons guerreiros

que avante serão herdeiros

de um povo forte e decente.

 

XX

Josy gerou João Guilherme;

Vitor gerou Gabriela

e Sofia; Carla Patrícia

aumentou a parentela

com Ricardo e o Renato,

que de bom grado, sou grato

pela prole tão singela.

 

XXI

Para concluir meu poema

Sem versos e rimas feias,

Minha genealogia

Vem do índio das aldeias

Tem do branco e negro as graças,

Trago o sangue das três raças

Correndo nas minhas veias.

 

 

(*) Chico Acoram Araújo é poeta cordelista, cronista e funcionário público federal.

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário