Foto da mãe do autor |
Luiz Thadeu Nunes e Silva(*)
Neste
23 de março, caso ainda estivesse aqui, minha mãe completaria 89
anos. Quis o destino que partisses muito nova, com apenas 43 anos, em
novembro de 1976. Soube de sua morte na madrugada do dia 02 de
novembro, quando fui acordado por meu pai, que chegara em casa e já
a encontrou sem vida.
Alguém
já disse que as mães não deveriam morrer. Quando uma mãe parte,
todos ficam órfãos. As mães povoam o mundo com seus ventres, e o
sustentam com seu amor. Não há nada mais sublime na terra que amor
de mãe. Amor de mãe é incondicional, supera tudo. Quando um filho
está doente, quem não se afasta da cabeceira da cama é ela, a mãe.
Quando o filho é preso, todos podem abandoná-lo, menos a mãe. É
amor genuíno. Quando mãe perde um filho, ela morre junto.
Tive o privilégio de conviver com minha mãe por dezessete
anos, onze meses e doze dias. Que mãe maravilhosa Deus me deu.
Mulher forte, decidida, lutadora, trabalhadora. Era empoderada,
quando o termo não constava dos dicionários.
Com
seis filhos para criar, trabalhava os três turnos. Ela nos deu amor,
nos educou, vestiu, alimentou, nos deu o melhor que podia nos
proporcionar. Nada nos faltou. Com o pouco que tinha fez a
multiplicação dos pães e peixes.
Minha
mãe era professora primária, lecionava em três lugares diferentes.
Quando vejo mulheres se queixarem que estão exaustas, exauridas com
o que fazem, penso, isso é muito pouco perto do que ela fazia.
Assim, admiro-a ainda mais.
No
início da década de 70, fez faculdade de Educação, e mesmo com
sua jornada puxada, e seis filhos pequenos para criar, concluiu o
curso.
Dizem que a passagem do tempo ajuda a aplacar a saudade,
permita-me divergir, amigo leitor, querida leitora. A passagem do
tempo avivou em mim a saudade.
Quantas coisas foram interrompidas com sua partida. Ela não
acompanhou eu entrar na faculdade de Agronomia e me formar. Não
conheceu minhas namoradas, nem a mulher que escolhi para dividir
minha única vida.
Não
conheceu seus netos, Rodrigo e Frederico, que certamente adorariam
tê-la como avó. Não acompanhou minha trajetória. Não soube do
acidente que quase ceifou minha vida. Seguramente estaria na
cabeceira dos leitos hospitalares, por onde passei, lutando pela
vida. Quantas orações e promessas ela teria feito pela minha
recuperação.
Não a vi
criar meus irmãos, se aposentar, envelhecer.
Você
não viu minhas andanças pelo mundo, a conquista de cada etapa,
minhas viagens para lugares cada vez mais longínquos. Estaria
preocupada, receosa de que algo de mal acontecesse com o filho dela.
Ficaria com o coração apertado. Hoje, com as redes sociais se
comunicaria comigo em todos os quadrantes da terra. Não soube que me
tornei escritor, lancei livro, que escrevo para jornais de todo o
Brasil. Certamente estaria feliz. Ficaria orgulhosa em saber que me
tornei um homem destemido, que dominou o medo para alcançar seus
objetivos. Contente em vê que aprendi com seus ensinamentos, a lidar
com dinheiro, quantas lições: “Primeiro ganhe para depois
gastar”, sigo a risca. “Não coloca teu braço onde não
alcança”, “Com dinheiro não se brinca”.
São
conselhos mais do que atuais, “De onde se tira e não se coloca,
acaba”. “Não te empolga com o muito, não te abate com o pouco”.
“Tudo passa: o bom e o ruim”. “Tenha equilíbrio e sabedoria
diante das adversidades”, dizia ela. Mulher espiritualizada: “Nunca
perde a fé em Deus, ele nos conhece melhor do que nós; sabe do que
precisamos”. “Estuda, o conhecimento abre portas”. “Lê
muito, nunca deixa de aprender”, lições atemporais que passei
para Rodrigo e Frederico.
Ela me ensinou a ser forte, apesar de
sua ausência. Tive que me reinventar para continuar na caminhada.
Como um anjo torto sigo teimoso pela vida, mas a carência de mãe
nunca passa. Quando o mundo encrespa, quando tudo fica toldado é de
minha mãe que primeiro lembro. Como seria bom tê-la por perto.
Quanto carinho, amor e atenção deixei de receber com sua precoce
partida.
Quantas coisas boas deixamos de viver juntos. No
crepúsculo da vida, continuo órfão do teu amor, querida mamãe.
Obrigado, Maria da Conceição Nunes e Silva, fostes maravilhosa. Só
poderias ter nascido em março, mês em que se celebra o Dia da
Mulher. Fostes uma Super Mulher.
(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva. Eng. Agrônomo, Palestrante,
cronista e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”, o
latino-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida,
visitou 151 países em todos os continentes.
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