sexta-feira, 26 de maio de 2023

Conclusão - A MATA DO JAPÃO MARANHENSE GANHA A PRIMEIRA ESTRADA E COMEÇA A SAIR DO SEU ISOLAMENTO.

Maquete de Caxias 1840 - Museu da Balaiada

 

José Pedro Araújo(*)


No ano subsequente, tanto a população de Caxias, quanto a de Barra do Corda, já cansada de tanto vai-e-vem, resolveu manifestar a sua desilusão e descrédito com os rumos da ação governamental, e oficiou ao Presidente da Província. com um extenso abaixo-assinado em anexo, solicitando uma ação efetiva daquela autoridade para a resolução definitiva da questão que já se arrastava demoradamente. Desta vez, a pressão surtiu o devido efeito, e quela autoridade constituiu nova comissão e determinou que se abrisse uma concorrência com a urgência sugerida. Célere, a Comissão atendeu prontamente à determinação, lançando ao público as bases da nova concorrência. Desta vez, foram apresentadas duas propostas para a construção da estrada Caxias - Barra do Corda: uma no valor de 15:000$000 réis (15 contos de réis), outra orçada em 14:000$000 réis (14 contos de réis). Esta última proposta, apresentada pelo Tenente Coronel José Firmino Lopes de Carvalho, e pelo Sr. Manoel Augusto de Moura, restou sendo a vencedora. Por sua vez, em 05/08/1883 a concorrência foi finalmente homologada pelo Presidente da Província, e os vencedores puderam iniciar a obra tão aguardada. Sobre o andamento dos trabalhos, nem uma nota encontramos.

Entretanto, em 03 de dezembro do ano de 1884, José Firmino Lopes de Carvalho, e o sócio, informaram à presidência da Província a conclusão da obra. E o Engenheiro nomeado para fiscalizá-la, e apresentar um parecer conclusivo, foi Palmério Carvalho Cantanhede, que anos depois ficaria famoso por sua participação ativa na construção da estrada de ferro Teresina-São Luís. Não conseguimos acesso ao citado relatório para saber a opinião do daquele competente técnico a respeito da eficiência do trabalho realizado. Do mesmo modo, teria sido muito importante ainda tomar conhecimento do traçado escolhidos para a estrada e das qualidades e características do empreendimento. É que, conforme já informamos, não foi possível encontrar o relato das suas percepções sobre tão importante empreendimento. Entretanto, como base nos relatos fragmentados que fomos colhendo aqui e ali, vamos nos arriscar a fazer um traçado da citada estrada que, na verdade, era mais um caminho de tropas e boiadas do que propriamente uma estrada de rodagem. Assim mesmo, foi aquele caminho de serviço quem deu início a toda a malha rodoviária que temos hoje, além de proporcionar a ligação da região da mata do Japão com outros centros mais desenvolvidos, isso em um tempo em que a comunidade do Curador nem existia e a região era conhecida apenas com o nome da primeira fazenda de gado: Fazenda Santa Maria do Japão.

A estrada finalmente foi aberta e cortou o centro desconhecido do estado maranhense no qual os mapas cartográficos apresentavam como “região desconhecida e ocupada por índios belicosos e escravos fugitivos”. Foi a partir da abertura deste caminho na mata quase intransponível que levas e mais levas de imigrantes nordestinos, fugitivos das secas cíclicas que de tempos em tempos atormentavam os habitantes daquelas terras, avançaram sertão adentro e foram mais tarde atingir as ribeiras do rio Tocantins.

A Estrada que começou suas tratativas para a sua abertura na Administração do Presidente Eduardo Olímpio Machado (1854), foi, de fato, dada como concluída, no governo do Presidente Leandro de Godói Vasconcelos (1885). Foram trinta um ano de muita espera; três décadas de grandes expectativas e sentidas esperanças.

Mas, também a partir da abertura desta estrada que os conflitos pela posse da terra passaram a tirar a paz dos primeiros colonizadores da região da mata do Japão. Gente como o desbravador Diogo Lopes de Araújo Sales – Datas Santa Maria e Taboa; José de Melo Albuquerque – Datas Preguiça (Coco Grande) e Bonsucesso; Antonio de Sousa Carvalhêdo, Anastácio Martins Chaves e Francisco Ferreira de Sousa – Data Jacoca; e Francisco de Sousa Milhomem – Data Tuntuntum, tiveram suas terras ocupadas de forma incontrolada por humilde em busca de um canto para se estabelecer, mas também por gente graúda e influente politicamente, como o líder político e rico latifundiário de Matões, Tenente Coronel João Rodrigues da Silveira, invasor das terras da Data Santa Maria do Japão.

Para encerrar, arriscamos dizer que o traçado provável da estrada Caxias a Barra do Corda, foi o seguinte: Caxias - Dezessete (BR 316) – Dezessete – Triângulo (MA 026) - Triângulo – Dom Pedro – Curador (Presidente Dutra)(BR 135) (roteiro da velha estrada: Mata do Nascimento – Palma – Sapucaia -Fazenda Fortaleza - Faz. Santa Maria – Curador (P. Dutra) – Tuntum(pela estrada velha dos Poços) – Barra do Corda(fazendo-se uma larga volta pelos sertões das areias, passando-se por Lagoa D’Anta – Coco dos Messenas – Cigana – Cipó – Lagoa do Currais – Dois Irmãos – Flores – Coco – Clemente – Três Lagoas – Riacho Feio – Barra do Corda), em extensão de aproximadamente 48,3 léguas ou 290 km. (Esta informação, sobre o trecho de Presidente Dutra a Barra do Corda, está contido no livro do grande barra-cordense Galeno Edgrar Brandes, intitulado “Barra do Corda na História do Maranhão”, pág. 96).

Concluo, relatando que todos os estudos sobre os sertões maranhenses, e de um modo especial, os mapas apresentados sobre o estado, nada dizem sobre a região conhecida como zona do Japão maranhense. Todos os que estudaram o hinterland maranhense dizem ser esta uma região de grandes vazios e infestada de índios bravios. E só. Nenhuma informação importante nos é repassada. Ninguém jamais se aventurou pela região para estudar as suas características físicas e geográficas. A maioria dos estudiosos sempre transitaram pelos rios Itapecuru ou Mearim, ou por estradas construídas na margem deste último, quando buscavam conhecer a região, enquanto a faixa mesopotâmica existente entre estes dois grandes rios era deixada na mais completa obscuridade.

Aliás, preciso me redimir: existe uma exceção a esta regra. O desbravador Francisco de Paula Ribeiro, militar português transitou por toda a região também conhecida como sertões dos Pastos Bons, deixando preciosas informações registradas em relatórios publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro lá pelos anos iniciais do século XIX. Depois dele, somente na primeira década do século vinte passou pela região o engenheiro José Palhano de Jesus e registrou resumidas informações sobre a desconhecida mata do Japão.

Escrever algo sobre a história dessa parcela do território maranhense, deste modo, é uma tarefa repleta de dificuldades e um trabalho quase impossível. Pouco ou quase nada se encontrada na historiografia maranhense sobre esta terra tão profícua. O que nos resta, no final, é sair juntando cacos de informações e tentar montar o seu mosaico histórico com o pouco ou quase nada que nos presentearam.

(*)  José Pedro Araújo é engenheiro agrônomo, funcionário público federal aposentado, historiador, cronista, romancista, e coordenador do blog Folhas Avulsas.

2 comentários:

  1. Parabéns, José Pedro. Fizeste uma bela contrução literária dos caminhos que nos levam de Caxias a Barra do Corda.
    Esses caminhos, permitiram, como dizes, a possibilidade do acolhimento dos nossos irmãos nordestinos de outros estados, que chegaram aqui expulsos pela seca.
    Histórico texto.

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