sábado, 17 de novembro de 2018

LEMBRANÇAS DE UMA ESTRANHA CASA



(Chico Acoram Araújo)*

Era uma casa muita estranha! De portas e janelas sempre fechadas.
Plantas e flores viçosas, bem cuidadas. Um belo jardim!
Morava gente. Não recordo os rostos daquela gente, perto de mim.
Soturno solar, sempre triste! Vozes da casa, dentro de mim ressoam, veladas.

Morada de gente, nela não vagueiam crianças. Fantasmas! Escuto roucas vozes.
O portão de madeira, sempre fechado. Sem ruído; sequer um ranger de dente!
Lembranças da insólita casa, habitada, silenciosa, com invisíveis figuras atrozes!
Casa sem gente, em minha memória de criança, secularmente ausente.

Anos depois, a estranha casa – uma deplorável tapera. Plantas e flores, não existem mais.
A cerca da velha casa, em ruína, tomada de mato e cupins. O portão quebrado.
Sem Portas e janelas - a sinistra casa! Agora sempre aberta. E aquela gente? Aqui, jaz.

Estranha casa que habita no recôndito de minha memória, de gente que não conheci,
Traz-me lembranças de infância -  relíquias da casa velha de Machado.
Da tristeza que passou, da felicidade que se perdeu, da gente que não senti.

(*) Chico Acoram Araújo é Contador, Funcionário Público Federal e Cronista.



Um comentário:

  1. Valeu Chico Acoram por mais este escrito. Quem não teve em sua vida uma casa nessa situação, principalmente quem residiu no interior? Parabéns por mais este texto que mexe com a gente.

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