quarta-feira, 1 de maio de 2019

Fragmentos da Memória de Uma Viagem a Portugal e Itália(Parte 5)

Em frente ao Castelo de Sirmioni, as belas do nosso grupo


LAGO DE GARDA E VERONA (Itália)

José Pedro Araújo

A
pós Café da Manhã reforçado, porque o futuro de um viajante que desconhece a estrada é um voo cego. Embarcamos em um dos dois ônibus que nos levaria a Veneza, aonde chegaríamos ao final do dia. Nosso grupo seguiu junto no mesmo veiculo, e seria assim em toda a viagem que teria como parada final a velha cidade de Roma. Junto conosco estava também o nosso guia português. Era um gordinho falante, engraçado, mas, muito exigente quanto aos horários, e competente nas suas atribuições, repassando incansavelmente informações importantes sobre o trajeto. O ônibus também era um veiculo muito confortável, dirigido por um profissional competente e muito discreto, fato que nos passou muita confiança.
É um exercício gostoso ficar olhando pelas amplas janelas a paisagem que vai se descortinando à medida que o Busão come distância. Interessante também é verificar as mudanças que vão se processando de uma região a outra do trajeto. A autoestrada é de excelente qualidade e passa ao largo de uma infinidade de cidades de pequeno, médio e grande porte, com suas igrejinhas com o campanário sempre igual, apontando para um céu límpido e banhado por raios amarelados do sol nascente. Parecia até que todos os espaços estavam ocupados com essas cidades que não cessavam de aparecer no nosso campo de visão à medida que avançávamos em direção ao Lago de Garda, o maior da Itália.
Chegamos às suas margens ainda no começo da manhã, e desembarcamos na bela Sirmioni, província de Brescia. Viagem curta pela A4 – Milano-Venezia, apenas 137 km rodados. Indescritível, é a palavra mais simples que podemos usar para descrever a visão que tivemos daquela cidadezinha tão aconchegante e cheia de encantos. Aqui também o moderno foi fundido ao antigo e quase o suplantou. No espaço reservado para o estacionamento dos ônibus encontramos já uma grande quantidade desse meio de transporte, sinal de que iriamos encontrar muitos turistas aqui também. Alertados de que o nosso tempo era curto para apreciarmos as belezas do lugar, aceleramos as passadas em busca do nosso alvo: a beira do famoso lago, ao lado do castelo de Scaliger.
No caminho sobrava pouco tempo para apreciarmos o casario, os jardins, as quitandas e lanchonetes convidativas para um café. “Lá mais afrente vocês vão encontrar algo mais convidativo”, nos alertou o guia. Depois de poucos minutos de acelerada caminhada avistamos algo que nos chamou atenção pelo inusitado nome: Terme Fonte Boiola. Ou Termas Fonte do Boiola. Todo mundo quis pousar na frente daquilo que parecia ser uma brincadeira. Mas, era sério. Tinha até mesmo um hotel com o mesmo nome da fonte térmica. Seguimos em frente e logo estávamos às portas do castelo. Construído a partir de 1277, a construção é uma das principais atrações da cidade, com suas torres e fortins edificados, certamente, para defender o lugar de invasões inimigas. O Lago de Garda é um espetáculo à parte. A beleza de suas águas azuis é brindada com um acréscimo de alto luxo: a bela visão das montanhas Trentino.
Ainda era possível ver resquícios de neve nos picos mais elevados, lá ao fundo. Sirmioni é apenas uma das muitas cidades e vilas que se situam no contorno do grande lago. Possui pouco mais de 6.200 habitantes, ocupando uma área territorial de 33 km2. O casario da idade média, construído em pedra lavrada, contrasta com prédios de arquitetura contemporânea no entrono da marina repleta de embarcações. Situa-se, ainda, em Garda as ruinas de uma construção erigidas no século Um antes de Cristo, as Grutas de Catulo. Nosso tempo não foi suficiente para chegarmos até lá. Tempo mesmo só tivemos para um rápido cafezinho e uma ida ao banheiro em uma charmosa Spagheteria. Aliás, como depois tivemos oportunidade de confirmar em todo o trajeto, usar o banheiro só pagando. E o cafezinho, contudo, pode gerar o direito de usá-los pelo mesmo valor que desembolsaríamos sem apreciá-lo.
Era hora de seguir em frente. O único senão de uma viagem desse tipo é a ditadura instalada pelos guias de turismo. Também, já pensaram como seria sem eles! Até juntar todo mundo, a noite já teria chegado. E nós tínhamos hora marcada com a Julieta e com o Romeo, em Verona. Finalizo a descrição da nossa estada em Sirmioni com a informação de que a divisa das regiões da Lombardia e do Vêneto é uma linha imaginária que corta o Garda no sentido longitudinal. Assim, já entramos logo na região do Vêneto, em busca da sonhada Veneza. Antes uma passadinha pela inesquecível Verona.


VERONA

Verona é daquelas cidades que a gente nunca mais esquece e que, devotadamente, fazemos promessa de voltar um dia pare revê-la. Mais uma vez deixamos nosso ônibus em local apropriado para estacionamento e seguimos a pé pelo centro da cidade. Seguimos acompanhando as muralhas medievais perfeitamente conservadas até a Praça da Prefeitura, em frente ao Coliseu de Verona, a segunda arena em tamanho na Itália. Pareceu-me mais bem conservada do que a arena de Roma, o Coliseu. Fotos tiradas, imagens incrustadas na retina, seguimos nosso caminho em busca da Casa de Giulietta. No trajeto de quase dez minutos deixei minha câmera ligada no modo filmagem e segui filmando... meus pés, e o chão sagrado da medieval Verona, até próximo a casa da famosa musa de Shakespeare.
Transitando por uma viela repleta de turistas, chegamos ao nosso destino tendo que fazer força para arranjar um espaço até a entrada da casa famosa. Ao entrar em um pátio estreito e apinhado de gente, lá avistamos uma estátua em bronze da grande musa. E à direita, no alto, um balcão por onde a bela Giulietta recebia o amado Romeo para tórridas noites de amor. Difícil não se emocionar com a visão de tudo aquilo. A lenda do amor impossível de Giulietta Capuletti e Romeo Montechi evoca os nossos mais profundos e sagrados sentimentos. A visita, como já se tornou praxe, termina com os homens segurando com uma das mãos o seio da bella, representado em tamanho avantajado em bronze polido. E as mulheres, mais recatadas, apenas posam ao lado da estátua. Dizem que o gesto de por a mão sobre o seio da musa traz sorte no amor.
Chama atenção também uma grade de ferro cheia de cadeados presos a ela, simbolizando duradoura união a quem deixa um fixado para sempre nela. Do mesmo modo, as paredes da entrada da casa estão cheias de rabiscos com declarações de amor e desenhos de corações com os nomes de muitos amantes. Esperamos que essas demonstrações possam, de fato, eternizar as relações amorosas de tantos quantos já repetiram aqueles gestos. Depois disto, sobrou tempo apenas para degustar um almoço em um ristorante aconchegante encrustado no pátio de um dos palácios seculares existentes na cidade, na Piazza delle Erbe. Comida boa, o serviço de atendimento foi melhor ainda, pois encontramos um brazuca para facilitar a nossa vida. Ciao, Verona! Até outra oportunidade, que esperamos não demorar muito.



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