quarta-feira, 15 de maio de 2019

Fragmentos da Memória de uma Viagem a Portugal e Itália(Parte 6)

Veneza à partir do alto do Campanário(foto Wilana Araújo)

VENEZA (II)
José Pedro Araújo

Voltamos para a Praça de San Marco. Ainda teríamos outra experiência única: fazer um passeio de Gôndola pelos inúmeros canais da cidade aquática. O grupo foi dividido, tomamos duas belíssimas Gôndolas, ricamente decoradas e impulsionadas pelos gondoleiros venezianos vestidos com o seu traje característico: calça de tergal escura, camisa com listas horizontais nas cores banca e com listas azuis ou vermelhas. Uma sorte: o nosso gondoleiro era dos que gostavam de cantar. Até me arrisquei e o acompanhei no Sole Mio. Peço desculpas, pois estava empolgado, depois de degustar algumas taças de Champanhe on board. Enquanto isso, o nosso gondoleiro (no rio Parnaíba seriam chamados Vareiros, uma vez que não usam remos, e sim varas, para impulsionarem os barcos) nos levava por canais estreitíssimos situados entre prédios que, em decorrência da baixa maré, mostravam na sua estrutura e o peso dos séculos nas suas fundações deterioradas.
Essas construções, aliás, são mais um exemplo da inteligência humana que, se levada na direção do bem, faz coisas maravilhosas. Os edifícios têm a sua base assentada em estacas de madeiras que são fincadas no solo argiloso e mole até encontrar terreno firme. E a madeira utilizada é encontrada na própria região, e nunca apodrecem.
Belo passeio! Mais uma etapa foi cumprida com muito prazer. Estávamos quitando uma promessa de criança. No final, nem o mau humor do nosso gondoleiro (aí mostrou a sua verdadeira face europeia) que insistia para que deixássemos a Gôndola rapidamente, afim de que ele pudesse embarcar novos sonhadores (Prego, prego! gritava ele, aflito), empanou o brilho daquele passeio maravilhoso.
De volta ao embarcadouro, rumamos para a praça famosa para novas fotos. Feliz, Wilana pedia a cada instante: “saca la foto!”. E a Lair não parava de reclamar que o Fernando quase não tirava fotografias dela. E o pior era que era verdade: ainda no começo da viagem, ele só havia feito umas 600 poses com ela. A Helena logo se assenhorou do meu quepe de comandante veneziano e passou a posar em todas as fotos com ele, enquanto a Ana Lúcia partia célere em busca de um autêntico gelato italiano.
Nessa altura, perdemos o Henrique de vistas. Visitamos a vetusta igreja de San Marcos, fizemos as fotos tradicionais no seu interior, admiramos a sua bela arquitetura, seus afrescos impressionantes, e logo voltamos à praça para um gostoso café. Foi nesse instante que descobrimos o porquê de tantas cadeiras e mesas vazias, em meio a um mar de turistas: o preço do cafezinho tomado de pé, era bem inferior ao que se tomava aboletado em uma daquelas cadeiras coloridas.
Mas meus pés já estavam reclamando muito, e eu tive que escolher uma das mesas, apesar do preço. Um alerta: o cafezinho italiano vem em uma xicara minúscula, e ainda é servido apenas pela metade. Só dá para um gole. Escolhi a xícara grande do cappuccino. E nele me demorei mais de meia hora. Era preciso dar tempo aos pés.
Quando estávamos terminando o café, o Henrique apareceu com a Ana. Disse-nos que tinha subido ao alto do campanário e que a vista lá de cima valia a pena. Fomos todos para a fila da bilheteria. Subimos pelo elevador os seus 98,6 metros. A vista que nos esperava era algo estonteante. Lá do alto temos uma visão de 360 graus da cidade, ou seja, vemos Veneza em toda a sua inteireza, a sua plenitude. Imperdível! Valeu cada centavo de euro gasto e o tempo que levamos na fila.
Uma coisa que eu não sabia na época da viagem. Os sinos do Campanile de San Marco foram feitos na mesma oficina que forjou os da bela igreja matriz de São Sebastião, em Presidente Dutra: a Fundição Fratelli Barigozzi, em 1955, vários séculos depois de ter fundido as campânulas de San Marco .
De volta ao rés do chão, fomos em busca de um Dolce Gelato e saímos a apreciá-lo enquanto caminhávamos pela praça. Não queríamos perder um só minuto do pouco tempo que ainda nos restava ali. E depois, tinha aquela história: tomar o gelato em pé era mais barato. Caminhando pela praça, aconteceu algo inusitado para nós: um pombo, dos milhares que vivem por ali, veio sentar no ombro do Jônatas, querendo uma bicada do seu sorvete. A Piazza de San Marco tem tudo a ver com eles.
Terminamos o dia andando pelas vielas da cidade, e reencontramos o nosso amigo Henrique, que não víamos desde que o viramos à saída do campanário. Estava empolgado a admirar uma autêntica Ferrari em uma loja da escuderia. Foi um choque ver aquele artefato que, no final das contas, era o maior exemplo da modernidade automobilística, em uma loja encrustada em uma viela estreita e sinuosa da velha e milenar Veneza. Já noite, voltamos de Vaporetto para o nosso hotel em Mestre. No dia seguinte voltaríamos a tomar o nosso ônibus. Nosso próximo pernoite seria em Firenze, outro símbolo da beleza e da inteligência dos arquitetos italianos.
Mas, antes, ainda conheceríamos outras cidades pelo caminho. E vimos cada coisa, cada monumento!


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