segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

CRÔNICAS SELETAS – ATROPELANDO A FAIXA

Momento da ultrapassagem



José Ribamar de Barros Nunes*

O ano do atletismo brasileiro termina com a corrida e maratona de quinze quilômetros do último dia do ano. Nessa tradicional Corrida de São Silvestre, ocorreu um fato incomum na linha de chegada.
Dois concorrentes quenianos se aproximavam da reta final. De repente, o mais idoso, ou pelo menos, o mais experiente, atropelou a faixa e, num movimento inesperado, ultrapassou o jovem de dezenove anos que venceria em segundos, aclamado por todos. Um pequeno gesto e impulso pequeno se impuseram, roubando e arrancando a vitória.
O jovem mais novo, nos instantes finais, não fez aquele tradicional gesto de conferir sua posição e verificar alguma ameaça, olhando discretamente para trás. O esquecimento fatal roubou a cena e causou o fracasso. Uma simples “olhadela” (aquele rabo de olho dos pais antigos) teria evitado o atropelamento da faixa.
Tentei ser pioneiro no Estado do Tocantins. Ali, no ano de mil novecentos e oitenta e oito uma jovem psicóloga me deu a seguinte lição. Nem sempre o caminho é reto. Muitas vezes, um olhar oblíquo, à esquerda ou à direita, resolve o problema, deslocando uma pedra ou um espinho.
Ao longo da vida, a escola do dia-a-dia, sem férias e sem recesso, me confirmou essa liçãozinha ou liçãozona que ela nos oferece todo santo dia, sem nenhuma exceção. O eterno aprendiz só não aprende se não quiser...


(*) José Ribamar de Barros Nunes é autor de 313 Crônicas Seletas.

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