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Livro de memórias "Meus Caminhos" |
José Pedro Araújo
Tenham cuidado quando forem falar
de si mesmos para outras pessoas, a vida sempre encontrará uma forma de tirar a
prova do que vós dissestes. Acabei de constatar essa assertiva que, se não for inteiramente
verdadeira, pelo menos servirá para dar forma e começo ao meu raciocínio, e que
tento pôr no papel neste momento. A propósito disto, acho mesmo que o passado
sempre dá um jeito de passar, pelo menos uma vez mais, na nossa frente. Só pra
conferir. É o que acho, mas aceito argumentos em contrário. E, na maioria das
vezes, voltando ao caso, vem para ajustar contas conosco. Para o bem, ou para o
mal.
Dias atrás, dentro desse
reencontro com o passado, fui surpreendido por uma ligação telefônica vinda de um
número que não estava na agenda do meu telefone. Não costumo atender mais a
esse tipo de chamada, uma vez que, invariavelmente, é sempre alguém querendo me
vender algo que não quero comprar. Entretanto, dessa vez, quebrei a minha
lógica imperfeita e atendi. Fiz ótimo negócio. Era alguém que eu não conhecia
pessoalmente, mas de quem já ouvira falar algumas vezes. E falar de bem, afirmo.
Portanto, para esclarecer, a pessoa que se encontrava na outra ponta da ligação
era um parente, o Procurador do Tribunal de Constas do Estado do Piauí, José
Araújo Pinheiro Júnior. Cidadão educado, fala mansa, queria me consultar se eu
poderia atender a uma ligação do seu pai. É claro que quero e com o maior
prazer, foi o que lhe respondi de imediato. José Araújo Pinheiro, disse-lhe, o
seu pai, é uma pessoa sobre quem ouvi as melhores referências da parte do meu genitor.
E foi, também, de enorme importância no início da vida deste, quando o ajudou a
seguir para o Maranhão em busca de trabalho. Ajudou-o com o estímulo de
palavras, mas, e principalmente, financeiramente, pois naquele momento meu pai
só contava com a vontade de empreender viagem para o destino que iria ter
participação decisiva na sua vida futura.
Poucos minutos depois, já estava
em contato com o cidadão de quem trato nestas linhas. José Araújo, como é mais
conhecido, ligava-me de Simplício Mendes (PI), para conversarmos a respeito do
meu pai. Queria saber mais sobre ele. Disse-me que só acompanhou a sua história
até o momento em que ele desembarcou do trem da linha Teresina-São Luís em um
povoado situado pouco antes de Caxias (MA). Depois disto, nada mais soube da
sua vida. Essa história do desembarque do trem, meu pai já havia me contado, e
eu a registrei em uma das minhas crônicas.
A seguir, o meu interlocutor me
disse que, apesar de parentes próximos, não conhecia o meu pai antes desse
encontro em Teresina, lá pelos idos de 1948. E que estavam, os dois, na cidade
em busca de emprego. Mas que não lograram êxito, nenhum deles, pois, Teresina,
por aquela época, não passava de uma cidade pequena e provincial que pouco ou
quase nada poderia oferecer aos próprios filhos do estado. Foi, depois desse
revés, que meu pai demonstrou interesse em partir para o Maranhão, e seu primo
pensou em voltar para casa, na região de Santa Cruz do Piauí. A história estava
confirmada nos seus mínimos detalhes. E o que veio depois, em verdade, foi o que
ensejou a ideia desta singela crônica.
Conversamos ao telefone como se
já nos conhecêssemos de muito tempo, e no transcorrer dela, falou-me o meu
interlocutor que, ao perder a sua companheira de vida, a sua esposa Quinô,
resolvera contar a história da sua vida em um livro. Estava, na época, com
oitenta e cinco anos e queria que os seus pósteros tivessem ciência das lutas e
histórias da sua vida. Disse-lhe que já sabia da existência do seu livro de
memórias e até já pedira um exemplar ao seu filho. Ele então me retrucou que
havia tomado conhecimento da minha existência quando se deparou com um exemplar
do meu livro no qual eu conto a história do velho Curador. Colocou os olhos no
nome autor, estampado na capa, e logo ficou com a impressão de que eu poderia
ser filho do José, seu primo, com quem convivera durante tão pouco tempo. Foi
um reencontro meu com a história do começo difícil da vida do meu pai. No alto
dos seus noventa anos, agora completados, José Araújo está ainda com toda sua
vitalidade intacta. Voz firme, clara, palavreado objetivo, tive um prazer
enorme em entabular conversa com ele durante alguns minutos. E até já marcamos
um encontro em uma viagem que pretendo fazer à sua cidade para reencontrar
também um tio comum, irmão da minha avó paterna, que por lá reside ainda.
Nesse mesmo dia, o seu livro de memórias me chegou
às mãos. Comecei a lê-lo imediatamente. Sou um aficionado por livros
autobiográficos. E nesse caso especifico, a história de vida deste meu parente,
muito me interessava. Li-o de um fôlego só. Traduz as memórias de um homem
simples, mas lutador; de uma pessoa que se insurgiu contra as poucas opções que
dispunham os jovens do seu tempo, e construiu uma vida de lutas, de derrotas,
mais, sobretudo, de vitórias à mãos cheias. E ainda teve tempo de construir uma
família numerosa – o seu maior legado - sobre a qual pode se orgulhar.
Li, certa vez, uma frase do jornalista e escritor Paulo Francis, que
retrata bem a vida de José Araújo, no qual o escritor dizia: “Gosto que me leiam
e saibam o que acho das coisas. É uma forma de existir. Trabalho é a melhor
maneira de escapar da realidade.” A epígrafe traduz, acredito, o que vi no livro do meu parente,
intitulado “Meus Caminhos”. Nele é possível ver a história de vida de um homem
que nasceu para o trabalho, mas sem descurar do seu próximo; mostra também seus
cansaços, a sua determinação, e o seu poder de lutar por um futuro melhor do
que o que se descortinava no horizonte. Inteligente, perspicaz, viu que o seu amanhã
não estava na lavoura, situada em uma região em que a chuva nunca vem na
quantidade e na frequência que as plantas cultivadas pedem. Mudou de direção e
partiu para o comércio. Teimoso, parece ser, como de resto são todos os Araújo,
mas nunca tentou quebrar o muro que tinha a sua frente dando cabeçadas nele.
Preferia usar a prudência e a inteligência para superar barreiras.
Foi na
região em que o industrial piauiense (Antonio José Sampaio) implantou uma
indústria de laticínios no final do século XIX, a maior do nordeste na época, e
naufragou na sua concepção, que ele resolveu se instalar. Naquele mesmo fatídico
local, ele empregou toda a sua energia e destemor para superar grandes
desafios: o povoado Campos, situado dentro das Fazendas Estaduais. Ali Araújo
passou a administrar o município que nascia e que apresentava todas as
dificuldades de uma cidade em formação, atingida ainda pela cruenta falta de
invernos regulares. Naqueles anos as rendas municipais eram muito irrisórias, e
não dava nem para cobrir o valor da folha de pagamento dos funcionários. O
administrador teve que meter a mão no bolso em muitas ocasiões para levar
adiante as obras que iniciava e que sabia serem necessárias à população carente.
Era desafio para homem nenhum colocar defeito. Mas que ele enfrentou tudo sem
receio.
O livro com
as suas memórias conta a história da região a partir do momento em que a mesma
ficou paralisada no tempo desde quando a fábrica desligou de uma vez por todas
as suas máquinas, fechou as suas portas e lançou ao desamparo centenas de
famílias que tiravam de lá o seu sustento. Esta parte da história recomeçou exatamente
quando José Araújo passou a frequentar a região para participar da feira
semanal que se instalava por lá e atraia gente de todas as partes. Nesse tempo,
a localidade ainda fazia parte do território de Simplício Mendes. A partir daí
a narrativa volta a ser contada, tendo como um dos seus principais protagonista
o empreendedor José Araújo.
Contada em uma
linguagem acessível, detalhada e ao mesmo tempo simples e sintética, o livro
atrai por desnudar a alma de um homem que nunca perdeu a sua capacidade de lutar,
almejar, buscar e alcançar novas vitórias. É, por fim, a história de um indivíduo
forte, que teve a sua personalidade forjada pela inclemência de uma região dura
e que mantém em estado de pobreza a maioria dos que nascem por lá. É a história
da vida de um homem que nunca transigiu para poder alcançar o que pretendia,
sempre usando a força, o tirocínio e a honestidade como base para atingir seus
objetivos.
E como disse
Mallarmé, “No fundo,
o mundo é feito para acabar num belo livro”.
A história sobre a
vida de um homem simples e trabalhador como José Araújo, deu um belo livro. E o
autor, no apogeu dos seus noventa anos, continua a bater o ponto diariamente no
seu comércio, onde ainda recebe os amigos para falar de política e de novos projetos que ainda tem em vista.
Uma historia de vida exemplar!
ResponderExcluirGrande José Araújo!!
ResponderExcluirFui agraciada com esse livro maravilhoso!
O que dizer de Seu Zé Araújo? Simples, homem educador, batalhador, receptivo, honesto.... excelente conselheiro.
Amizade ímpar!
Sua admiradora fiel, Silvia Ramos!
Onde poderei adquirir esse livro?
ExcluirComo faço para adquirir esse livro?
ResponderExcluirMorei em Campinas na minha infância
Onde poderei adquirir esse livro?
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