domingo, 5 de julho de 2020

DIGNA E SAUDOSA ALDA SUBIU AOS CÉUS DE GRINALDA



por: Francisco de ALMEIDA, Poeta Cordelista, é  Membro da Advocacia Geral da União (Advogado da União de Categoria Especial). 



Este fato aconteceu
Lá na Cidade de Barras,
No Estado do Piauí,
Com informações bizarras,
Ocupa lugar na história
Com bem atraentes garras.

Nasceu no dia seis de julho,
No progressista Sobral,
No Estado do Ceará
Uma urbe industrial;
No ano de quarenta e dois
Nossa Alda, divinal.

Pais, Manoel e Maria,
Dois modestos lavradores,
Mudaram pro Piauí
Pra aliviar as dores,
Com Alda ainda criança,
Com elevados temores.

Fixaram residência
No local Luís de Sousa,
No Município de Barras,
Lá a família repousa,
Até perto da cidade
Mas bem distante de lousa.

Ali vivem dias melhores
Com invernos primorosos,
Os meninos vão crescendo
E se tornando mimosos,
Com destaque para Alda:
Bela e de atos caridosos.

Alda era muito singela
E não afeita a namoro,
Todavia, aos dezoito anos
Com seu completo decoro,
Surgiu-lhe um pretendente
Com insistência em coro.

Após a vênia dos pais,
Alda, o convite aceitou
Do jovem Francisco Gomes
Que o casamento marcou
Para o dia nove de julho,
A data que fixou.

Desta forma, iniciaram
Os simples preparatórios,
Na época bem modestos
E atualmente notórios,
Mas pro tempo memoráveis,
Com os úteis acessórios.

Naquele nove de julho
Sessenta e um, era o ano
Tudo ali se concentrou
Bolando-se todo plano,
A família radiante
Com o coração soprano.

Os planos eram tão belos
Daquele casal futuro:
Ter filhos em quantidade
Com pensamento maduro;
Trabalhar ferrenhamente
Pra não entrar em “apuro”.

Chegou o nove de julho,
Alda acordou muito cedo
Toda família também,
Cada qual como um torpedo;
As lamparinas acesas,
Facilitando o enredo.

Era um formoso domingo,
Com cerimônia marcada
Para a Igreja Matriz:
Conceição, imaculada,
A padroeira de Barras
Pelo povão exaltada.

Alda, logo tomou banho
Com um capricho esmerado,
Já usando o sabonete
Sobremodo perfumado,
Presente de aniversário
Do seu noivito adorado.

Com ajuda das mulheres
Ela pôs o seu vestido
Branco, para o casamento
Que bem havia escolhido,
Era em tecido modesto
Porém, belo e bem comprido.

Perfumou-se, também, Alda
Completando o ritual
Pra cerimônia às oito
Na linda igreja local,
Convidados já presentes
Tudo em clima fraternal.

Todos iam a cavalo
Seguindo a praxe reinante,
Da mesma maneira, os noivos,
Em porte muito elegante,
Num total de vinte e dois,
A caravana brilhante.

O alegre grupo partiu
Em direção à cidade
Que distava légua e meia
Daquela localidade,
Seguindo em grupos pequenos
Pra maior facilidade.

Dona Maria fica em casa
E umas vizinhas amigas,
No preparo do banquete
Pra encher muitas barrigas,
Ao retorno da Igreja,
Passadas as desobrigas. 

Já no dia anterior,
O Manoel Cearense
Abateu os animais,
Em quantidade feirense,
Pra servir aos convidados
Naquela data circense.

O cortejo chega a Barras
A pouco menos de uma hora,
Em uma casa de apoio
Para quem morava fora:
Abrigar os animais
E retoque sem demora.

Depois, todos pra Igreja:
Senhora da Conceição
A Digna Padroeira
Que tem muita devoção, 
Para o tão esperado ato
Da consagrada união.

Tudo transcorreu tranquilo
E sobremodo ligeiro,
O enlace matrimonial
Por vias de um Padre guerreiro:
DITOS MARIDO E MULHER,
Com bênção do DEUS, primeiro.

Concluído o casamento,
Voltam todos pro abrigo
Em busca das montarias,
E retorno, sem perigo,
Para o almoço dos noivos,
Em sereno clima amigo.

E rápido a caravana
Começa a se deslocar,
Retornando a Luís de Sousa
Pra se confraternizar,
De novo, formando grupos,
Para o caminho enfrentar.

Como última do seu grupo,
Alda seguia majestosa,
O Marido ali por perto
Em companhia calorosa,
A sua cunhada e mais três
Como escudos prestimosos.

Por azar ou por destino,
A poucos metros da ponte
Do imponente Marataoan
Um carro/misto defronte,
Bate no cavalo de Alda
Fazendo horrível desmonte.

Ela foi jogada ao chão
De maneira violenta,
Já caindo desmaiada
E nada mais argumenta;
Tentaram reanimá-la
E o coração não aguenta.

Faleceu ali, na hora,
Sem fazer qualquer ação
Gerando muito clamor,
Uma enorme comoção;
E logo subindo aos Céus
Como símbolo de unção.

Luís de Sousa chorou
A morte de sua rainha,
A comida preparada
Em fartíssima cozinha,
Foi servida pro velório
E não pra bela festinha.

Com o tempo foi surgindo
Boas notícias a toda hora,
De muitos milagres de Alda,
Filha de Nossa Senhora,
Distinta e poderosa alma,
Merece nossa penhora.

Foi feito memorial
Bem no local do acidente,
Pra homenagear Alda
Em consagrado ambiente;
Um local de devoções
Pra toda espécie de gente.

Enfim, Alda viajou
Sem primeiro conhecer
A vida matrimonial,
Nem pecado cometer,
Conservando a inocência
Sem a carne florescer.

É que a vida é vela acesa
Neste mundo turbulento,
Aceita as leis naturais
Não remando contra o vento;
Ninguém se livra dos riscos
Mas reduz sendo prevento.



2 comentários:

  1. Chico Acoram Araújo5 de julho de 2020 às 19:18

    Dr. Araújo, mais uma vez o Folhas Avulsas prestigiando a poesia em cordel, além de resgatar uma história da minha querida Barras do Marataoan. Parabéns ao meu amigo cordelista Francisco de Almeida.

    ResponderExcluir
  2. Muito obrigado meu amigo Acoram. E também meu amigo José Pedro por mais esta publicação de cordel de minha autoria no seu renovado Blog.

    ResponderExcluir