segunda-feira, 21 de junho de 2021

ACOLHIMENTO PRECOCE

Google

 

Dr. Andrey Araújo Lima(*)

 

Vou responder a algumas questões que correspondem a minha humilde visão sobre alguns temas polêmicos que surgiram no contexto pandemia.

Em relação ao tratamento precoce/tratamento inicial, dentre outros termos diversos, prefiro o dito “acolhimento precoce”, pois tenta fugir da triste politização da medicina no contexto dessa calamitosa enfermidade.

Muitos médicos passaram por constrangimentos, por diversos setores da sociedade que, por meio de informações distorcidas, rotularam os médicos defensores do tratamento precoce como bolsonaristas - cegamente influenciados pela defesa do Presidente a algumas medicações. Quero crer que algumas pessoas que acreditam em tal falácia desconhecem que o reposicionamento de tais medicações não foi inventada pelo governo brasileiro, mas realizado por meio de diversos estudos em diferentes países (inclusive a própria China), à medida em que a doença avançava pelo mundo, quando ainda nem era conhecida como pandemia.

Cloroquina, corticoides e Ivermectina, assim como inúmeros imunobiológicos já conhecidos, passaram a fazer parte da prescrição de médicos que tentavam cumprir o juramento hipocrático de consolar sempre os doentes. Enganam-se aqueles que pensam que tantos médicos experientes, sérios e éticos defenderiam cegamente esse ou aquele tratamento por questões meramente políticas. No mínimo insensibilidade de algumas pessoas que não estão na linha de frente da guerra.

O Presidente do Brasil é político e, como tal, em meio a tantas incertezas do período, começou a estimular o tratamento precoce. Foi quando a oposição, inconformada com a possibilidade de que essa terapêutica pudesse ter sucesso, iniciou uma busca seletiva por estudos que mostraram resultados ruins com essas drogas, omitindo de forma sistemática tantos outros estudos com bons desfechos em relação à diminuição de morbimortalidade da Covid-19.

Não esqueçamos que o uso de corticoide foi enfaticamente combatido pelos que se diziam defensores da “ciência” antes de saírem trabalhos com nível A de evidência comprovando que o remédio salva vidas. Quantas pessoas não poderiam ter sido salvas no início da pandemia? Algo nunca antes visto na história da medicina passou a ocorrer: exigência de evidência de nível máximo para tratamento de uma doença, quando sabemos que apenas 15% da medicina exercida trabalha com esse nível de evidência.

A palavra “negacionista” entrou na moda e, embora utilizada pela esquerda, julgo que existem dois tipos clássicos de negacionistas no contexto da pandemia. O negacionista de esquerda que nega que exista tratamento precoce e o negacionista de direita que nega existência de eficácia das vacinas contra a doença. Ambos os posicionamentos são baseados em cegueira ideológica e hipocrisia, pois embora existam motivos para desconfiar, em termos de eficácia, tanto do tratamento como da prevenção da doença por meio de vacinas, todas as pessoas, de quaisquer posicionamentos políticos, terminam buscando tratamento tão logo quanto adoecem, bem como buscam vacinação seja qual for a doença, independentemente do nível de mortalidade da afecção ou evidência de eficácia do tratamento ou vacinação. Por que agiríamos de forma diferente em meio a uma das principais pandemias que este mundo já enfrentou?

Tal politização foi e é extremamente ruim para a população neste contexto, pois as pessoas mais facilmente influenciáveis pela mídia convencional passaram a beber unicamente dessa fonte tendenciosa, vindo a questionar prescrições médicas, por medo de reações adversas, que em suas cabeças passaram a matar mais que o próprio vírus. Tal fato feriu preceitos importantíssimos para se fazer medicina de qualidade, tais quais: a boa relação médico-paciente e a autonomia médica em buscar o melhor para o doente.

O resultado disso é que grande número de médicos deixou de prescrever qualquer tratamento para a doença, deixando para os pacientes apenas sintomáticos e a orientação de procurar a urgência em caso de falta de ar.

No Brasil, o auge dessa politização da saúde veio em forma de CPI, onde senadores buscam culpados para as mais de 500 mil mortes no Brasil. Tal CPI seria proveitosa se houvesse fiscalização vasta e irrestrita aos espectros ideológicos, fato este que, infelizmente, não tem ocorrido. A CPI intensificou o enfraquecimento da autonomia médica, através da tentativa de ridicularização dos depoentes médicos convidados, bem como de funcionários públicos federais, defensores do acolhimento precoce dos doentes. O relator da CPI, Senador Renan Calheiros, o presidente da comissão Omar Aziz e o vice Randolfe Rodrigues, seguem na direção dos trabalhos, de forma autoritária e tendenciosa, forçando dos depoentes respostas que caibam em seus relatórios prontos.

Tem sido revoltante assistir a médicos experientes e com muito serviço público prestado ao Brasil serem tratados de forma desrespeitosa e muitas vezes criminosa por esse trio de políticos com ficha nada limpa.

Na última semana, um refrigério. Dois médicos defensores do tratamento precoce foram convocados para prestar esclarecimentos. Francisco Cardoso e Ricardo Zimmermann levaram argumentos sólidos e não se deixaram intimidar pela postura truculenta de Omar, Renan e Randolfe. Quando Renan percebeu o nível de preparo técnico e resiliência mental dos dois cientistas, este simplesmente abandonou a sala de audiência, em total desrespeito aos convidados. Atitude que desonra o Senado Federal e mais um indício de que já se tem relatório pronto debaixo do braço.

Alguns argumentam que, se o tratamento funcionasse, não teríamos mais de 500 mil mortes no país. E eu contra-argumento dizendo que, desde que o tratamento precoce foi desencorajado no Brasil a partir do final de 2020, seja com cloroquina, Ivermectina, Annita ou outros remédios menos polêmicos como budesonida inalatória e bromexina, nos primeiros 113 dias de 2021 foram registradas 195.949 mortes por Covid-19, contra 194.976 em 289 dias da pandemia em 2020. O país ultrapassou o número de mortes registradas durante todo o ano de 2020, em metade do tempo.

Pra finalizar, todos os pacientes a quem Deus me confiou e que tratei desde o início em nível ambulatorial (cedo), nenhum evoluiu a óbito. E assim, apesar da certeza de que pouco se sabe ainda sobre a Covid, sigo com a mesma certeza do início da carreira médica: “curar quando possível, aliviar quase sempre e consolar sempre’’.

 

(*) Dr. Andrey Araújo Lima é médico, com residências em Clinica Geral e Nefrologia.

6 comentários:

  1. Francisco Carlos Araújo21 de junho de 2021 às 19:19

    Li o texto. Muito esclarecedor. Parabéns ao Dr. Andrey Araujo Lima pelo texto e por sua coragem.

    ResponderExcluir
  2. Parabéns, Doutor!

    Obrigado, Mestre José Pedro.

    ResponderExcluir
  3. Amigos, nesta sexta dia 25, Dr. Andrey vai palestrar ao vivo no youtube da OAB Piauí no IV SEMINÁRIO DE LIBERDADE RELIGIOSA DA OAB PIAUÍ. Imperdível!

    ResponderExcluir
  4. Parabéns pelo excelente texto, Dr Andrey.

    ResponderExcluir
  5. Texto excelente para análise diante da complexidade da abordagem.
    Não é texto pronto e acabado. É uma porta que se abre à discussão diante de posições divergentes.
    Dr. Araujinho,seu sobrinho, autor desta matéria,escreve muito bem e recorre a recursos sólidos na formulação dos argumentos.
    Parabéns!
    Abraços, Remy Soares
    Axixá do Tocantins, 21.6.2021

    ResponderExcluir