sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Como assim, tio Patinhas?

Imagem do Google

 

Bruno Giordano de Sousa Araújo (*)

Acordar seis horas da manhã, ajudar a colocar as malas no bagageiro da Marajó vermelha, esconder a caixa de fita cassete do meu pai antes de pegarmos a estrada era quase um ritual. Meu pai também tinha o dele. Acordar cinco para as seis, chamar três crianças preguiçosas para ajudar com as malas e procurar a caixa de fitas que eu havia escondido. Vez ou outra tinha um outro trabalho que era identificar e remover as fitas “trocadas” habilmente dentro da caixinha. Depois era só cair na estrada. Bem, mais ou menos. Durante o tempo de viagem, além de motorista, ele e minha mãe se revezavam na “gestão” de três meninos. Para auxiliar na tarefa, recorriam às revistinhas da turma da Mônica e da Disney. Outro motivo pra confusão, já que havia uma predileção pelas criações do Mauricio de Sousa, enquanto o sr. Wall Disney ficava aguardando a chegada do enfado de ler a mesma revista pela terceira vez.

Mas foi justamente a revista “renegada” que trouxe uma personagem que se destacava das demais: O tio Patinhas. Um pato solteiro, dono da maior fortuna de Patópolis e que possuía uma caixa forte gigante para poder mergulhar nas moedas que possuía. Ele começou como um “pato” pobre, tendo ganho a sua primeira moeda (a sua moeda da sorte) como engraxate. Após um tempo, ele foi para outro país trabalhar com mineração e juntando o que ganhava conseguiu dinheiro suficiente para construir sua caixa forte. Para uma criança, a lição estava clara. O segredo estava em ter a “sorte” de descobrir ouro.

Porém ao ler algumas revistinhas com minha filha, vi que deixei passar as verdadeiras lições que estavam mascaradas pela superficialidade de minha primeira leitura. Percebi que o segredo não estava no trabalho realizado, mas na ATITUDE em relação ao dinheiro.

Tio Patinhas sempre gastava menos do que ganhava. O que muitas vezes o trazia a fama de avarento. Mas observando as histórias, ele possuía uma excelente casa, carros, helicópteros e viajava o mundo todo. Como chama-lo de avarento quando usufruía naturalmente de sua própria riqueza? Outro ponto era que ele diversificava suas aplicações, para que elas gerassem mais riquezas. Tinha uma mineradora, imóveis, bancos, empresas aéreas, alugueis de carros, construtoras, dentre outras. No mundo das finanças chamamos isso de adquirir ativos. Ele possuía empresas nos mais variáveis setores. E cada empresa dessa crescia e gerava riqueza, que alimentava o seu “Way of Life”, sempre atento a gastar menos do que ganhava, investindo religiosamente, o que iria lhe garantir novas fontes de renda, aumentando sua capacidade de gastar e de investir.

Claro que durante suas “aventuras” sempre ocorriam crises. Os irmãos metralhas geralmente estavam envolvidos, querendo ou roubar a Moeda da sorte, num claro erro de perspectiva sobre o motivo da prosperidade do tio Patinhas, ou mesmo roubar a caixa-forte cheia de moedas, outro erro de avaliação, pois a sua fortuna não estava ali. Estava diversificada em vários ativos geradores de riqueza. A caixa forte era só uma excentricidade.

Nas lúdicas páginas dessas revistas criadas em 1947 estavam excelentes lições sobre Finanças: Só através do trabalho se gera riquezas; Gastar menos do que se ganha é obrigatório; Investir habitualmente; diversificar os investimentos para ter segurança e eficiência; e rentabilizar seus investimentos para estes serem suficientes para te garantir o seu “Way of Life”. Após tudo isso, repetir todos os passos. Sempre. 

Finalmente entendi, Tio Patinhas!

(*) Bruno Giordano de Sousa Araújo, é advogado, Assessor de Investimentos e sócio da empresa Perfil Investimentos, empresa credenciado da XP Investimentos.

2 comentários:

  1. Boa tarde, amigo!
    Precisamos convidar o Bruno para auxiliar os nossos políticos e eleitores nas boas práticas de finanças, pois no nosso País os nossos políticos administram muito mal os recursos públicos e nós, contribuintes incondicionais, para quem não sabe o que é contribuinte incondicional, vou tentar explicar, é aquele que não tem como sonegar imposto, porque o seu quinhão tributário vem descontado em folha, recebendo em troca do imposto que paga ao tesouro nacional péssimos serviços tais como: educacionais, de saúde, de segurança, judiciais e de acolhimento social, ainda tendo que, compulsoriamente, pagar uma alta taxa de corrupção para ser roubado e aliciado por aqueles que mandam no poder.

    A impressão que se tem diante desse cenário econômico e financeiro é a de que quando a extrema esquerda está no poder ela pode roubar sem ser incomodada pelos seus apoiadores, assim como quando a extrema direita está no comando máximo da Nação esta pode roubar também o dinheiro do povão, porque a extrema esquerda o fez e ficou uma coisa pela outra, ou seja, o dito fica pelo não dito, como se um roubo justificasse outro, uma vez que agora quem está no comando do País é o opositor do lado que o eleitorado odeia, passando-se a subentendida lição de que não importa o que o nosso gestor faz, mas, sim, o que ele diz no intuito de nos ludibriar.

    Até parece que a situação está num universo paralelo muito diferente do da oposição e daqueles que estão do lado do bom senso, assim como os que entenderam a lição que nos transmite o personagem da revista em quadrinhos, Tio Patinhas.

    Enfim, amigo, eu vou encerrar por aqui o meu comentário com a seguinte frase de efeito: "quem não tem um ladrão de estimação e vive a vida de acordo com o bom senso e a razão, não consegue agradar o povão e nem viver bem com esse jeito esdrúxulo de visão".

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