segunda-feira, 20 de junho de 2022

“Das muletas fiz asas”.


Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)


“Há um livro dentro de cada um, basta tirá-lo”, diz Clarice Lispector, a ucraniana naturalizada brasileira, autora de diversos livros, dentre eles: Perto do Coração Selvagem seu livro de estreia, Laços de Família, A Paixão segundo G.H., A Hora da Estrela e Um Sopro de Vida .
Contador de histórias, escrevinhador, escrevo artigos e crônicas há oito anos; as pessoas sempre me cobravam a publicação do livro. Uns diziam, “Tens material para um livro”, outras, “Está demorando sair o livro”, eu sempre adiando, escrevendo aqui, ali e acolá alguma coisa, às vezes frases soltas que poderiam servir para o tal livro, que nunca saia.


No período da pandemia, grande parte recluso em casa, iniciei o curso de Jornalismo EAD, a distância, e intensifiquei a quantidade de textos para jornais e blogs. Cheguei a escrever para 22 jornais e blogs de diferentes cidades brasileiras, capitais e cidades do interior do Nordeste, atravessei o oceano Atlântico, sendo publicado em um jornal impresso de Luanda, Angola, graças à generosidade de um amigo, Francisco Brandão, português do Porto, que me apresentou aos africanos.
No início de 2021, com o mundo refém do coronavírus, comecei a colocar no papel, rebobinando a memória, revisitando situações vividas ao longo dos anos, o material que deu resultou no livro “Das muletas fiz asas”. Puxando pela memória lembrei dos sonhos de menino, de conhecer o mundo, das férias escolares nas casas dos avós, das visitas à Biblioteca Pública Benedito Leite, majestosa, no centro da minha Ilha do Amor, das muitas viagens imaginárias que fiz, através dos livros. Foi na Biblioteca Pública Benedito Leite que comecei a viajar pelos quatro cantos do mundo.
Lembrei dos meus pais, que partiram, das histórias que vivemos; do acidente em que quase perdi a vida, da fé inabalável no DEUS VIVO, o apoio da minha espetacular família e dos amigos,- quem tem amigos tem tudo. Graças à eles consegui seguir em frente, me reinventei e estou aqui como um Forrest Gump, andarilho e contador de histórias. Após o acidente, cinco anos internado, 43 cirurgias, aprendi a andar com muletas, e para quem não tinha segurança em atravessar as ruas estreitas de São Luís, criei coragem e confiança, atravessei oceanos, pisei em 143 países da terra em todos os continentes. Tornei-me o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade. Nunca fui corajoso, audacioso, ao contrário, sou medroso, mas “já que não tem ninguém, só tem tu, vai tu mesmo”, e assim, na cara e na coragem cai no mundo. Em minhas andanças, aprendi que o mundo trata bem aquele que ousa conhecê-lo, desde que o respeite, e respeite seus povos e a natureza por onde andar.


Quando cruzei a soleira da porta da minha casa, em oração pedi a DEUS, que me abençoasse, guiasse e me protegesse, pois sem ele nada disso seria possível.
Passei por diferentes perrengues, que viraram casos engraçados, narrados no livro, meu DEUS nunca me abandonou, desconfio de que ELE tenha especial atenção com os especiais. Tenho quatro limitações, nenhuma deficiência: ando de muletas, não puxo malas, não falo inglês, e nunca soube o que é ter muito dinheiro. É recorrente as pessoas perguntarem “Você é rico para viajar tanto?”. Não, ao contrário, tenho bolso raso e sonhos profundos. “A minha matéria prima são os sonhos”, o dia que não sonho, não existo. Todos os dias, invariavelmente, tenho a hora do devaneio, quando fujo da difícil realidade do dia, voo para os lugares mais lindo do mundo; faço isso desde criança, deitando no chão frio de cimento vermelho de nossa pequena casa, olhando para o céu, pensando como criaria asas e voaria.


Como DEUS escreve certo por linhas tortas, só criei asas após o acidente, que deixou marcas indeléveis; foi com um par de muletas que aprendi a voar.


O lançamento desse primeiro livro será na próxima semana, dia 22/06, em minha cidade natal, São Luís do Maranhão, minha Ilha do Amor, terra de encantos mil, meu Porto Seguro, para onde volto após me aventurar pelo mundo; São Luís é a minha casa, o mundo meu quintal.
Caro leitor, amiga leitora, se me permitem um breve conselho, lhes digo, nunca deixe de sonhar, os sonhos nos levam para longe, nos tornam grandes, nos enobrecem, nos fazem fugir da mesmice. Continuo um escrevinhador, não ousaria classificar-me de escritor, mas um sou um escrevinhador feliz, por tirar esse primeiro livro de dentro de mim, bem verdade que quase a fórceps, da mesma forma que vim ao mundo. O livro não é mais meu, voou, agora pertence a você caro leitor, amiga leitora, espero que gostem. Já está à venda na Amazon, e livraria do Brasil.
Um agradecimento especial ao amigo dos bancos escolares do Colégio Batista Daniel de La Touche, Raimundo Araujo Gama, dono da N’versos, que edita esse livro, por acreditar em um cabra sonhador e contador de histórias.


Como ainda tem muito chão pela frente, mesmo medroso, sigo em frente, a vida não me cansa. Realista esperançoso tenho uma irresistível vontade de que as coisas deem certo, aos 63 anos ainda tenho muitos sonhos a realizar.


(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva, Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes.

 

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