Aspecto da região onde acredita-se está o tesouro escondido |
Reinaldo
Coutinho
Romancista,
contista e cronista.
Distante uns 40 km da cidade de
Oeiras, antiga capital da Província do Piauí, visitamos um conjunto de
afloramentos areníticos do lugarejo Brejo, já próximo ao município de Nazaré do
Piauí. O local é um extenso pediplano arenoso e pedregoso, típico de semiárido,
com vegetação esturricada de caatinga.
As plantas são pequenas,
tortuosas, de folhas pequenas e espinhentas. Destaca-se ali o faveiro,
gameleira e cactáceas. Dado a inclemência climática e os solos incultos, o
local é escassamente habitado. Uma pequena cascata, de uns seis metros de queda
a pique, ameniza o calor dos excursionistas durante as curtas chuvas de verão.
Aquele relevo ruiniforme nos descortina com arcos,
torres, a "pedra do sete", o "pinguim e o cachorro", além
de outras formas curiosas e pitorescas de erosão.
Na base de um boqueirão os
sertanejos nos mostraram um misterioso "portão de pedra", de
origem natural. A abertura é abobadada e dá acesso a uma lúgubre e estreita
caverna, onde pululam os irrequietos e fétidos morcegos. No lado esquerdo do
túnel há uma estranha fenda vertical, entulhada artificialmente por pequenos blocos
de pedra, que parecem intocados há séculos.
Tudo indica que o entulhamento veda outro salão
natural, de dimensões desconhecidas. O salão subterrâneo possui alguns
“respiradouros”, talvez naturais, talvez artificiais.
O nosso guia, caboclo das redondezas,
nos confidenciou a tradição corrente no lugarejo de que aquelas pedras,
arrumadas em posição tão especial, foram colocadas ali por jesuítas para
esconder alguma preciosidade, durante as perseguições pombalinas de 1759.
Pensam os crédulos sertanejos que
ali haveria uma botija jesuítica, repleta de cobiçadas patacas de ouro e prata
ou de reluzentes joias, à espera de algum explorador resoluto ou desencantador,
decidido a remover o misterioso entulho pétreo.
Trata-se da velha tradição nordestina, que vê a
presença inaciana em qualquer sinal anormal dos sertões, tipo pinturas
rupestres, rochedos inusitados, cavernas, megalitos... Restaria saber o que os
escassos jesuítas do Piauí-Colônia fariam em lugar tão ermo...
O avançado e penumbroso horário
não nos permitiram uma investigação mais profunda naquele antro escabroso. O
que seria mesmo encontrado ao se remover aqueles blocos empilhados da furna? Um
reluzente tesouro ou carcomidos manuscritos? Ou talvez uma necrópole indígena?
Ou talvez...
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