sexta-feira, 17 de junho de 2016

Os Américo de Oliveira - Uma Nova Alternativa de Poder




José Pedro Araújo
 
No período intermediário, entre os primórdios do Curador e os tempos mais recentes, contemporâneos, comandou politicamente o município o grupo familiar dos Américo de Oliveira. Mas, mesmo antes, quando os combates políticos começaram a se agigantar na escolha dos mandatários do município, lá já tinha um deles.  Originários do Piauí, mais precisamente da região de São Raimundo Nonato, de um povoado hoje pertencente ao município de Dom Inocêncio, esta família chegou às terras do Curador e fixou-se definitivamente na região. Corria o ano de 1927, ou um pouquinho depois, quando não passávamos de uma obscura Vila, posto que ainda pertencíamos territorialmente ao município de Barra do Corda.

Acostumado à vida dura que levava na sua terra natal, onde a falta de chuvas deixava o chão seco, esturricado, o chefe do clã familiar, Vicente Américo de Oliveira, encontrou no novo território todas as dificuldades de uma povoação que distava mais de cem quilômetros da sua sede. Nada, contudo, que lhe fosse mais difícil do que viver no semiárido piauiense. Sem estradas trafegáveis, a ligação com os demais municípios era feita no lombo de animais naquele tempo, inclusive o transporte de cargas. E foi essa profissão que o patriarca familiar adotou como forma de vida, passando a labutar como tropeiro. Trabalhador incansável, enquanto se recuperava das viagens longas e difíceis, o jovem pai de família explorava paralelamente as terras da fazenda Lagoa Grande, adquirida quando chegou à região, e aonde situou a imensa família.

Anos depois, com a instalação do novo município em junho de 1944, o dinâmico, e já bem situado Vicente Américo, candidatou-se às primeiras eleições legislativas do Curador. E teve êxito logo na primeira tentativa, passando a fazer parte, portanto, da sua primeira bancada. Foi vereador por sete mandatos consecutivos, encerrando a sua vida legislativa em 1972, já com idade bastante avançada. Enquanto isso, outro membro da família dava início à carreira política: Valeriano Américo de Oliveira. E se manteria ativo como uma das maiores lideranças políticas da região até os dias de hoje, quando já passa dos 90 anos de idade. É sobre esse membro ilustre da família que teceremos nossas considerações daqui para frente.


Valeriano Américo foi desde muito jovem um homem que viu suas possibilidades aparecerem longe do amanho da terra, como era praxe acontecer com o clã desde os seus primórdios, ainda quando exploravam a fazendinha da família no Povoado Moreira, situado no centro geográfico do hoje município de Dom Inocêncio, bem próximo ao estado da Bahia. Inteligente, articulado, logo abraçou a carreira jurídica, provisionando-se como advogado. Foi ainda juiz-substituto e tabelião, antes de assumir um cargo na receita federal, no qual trabalhou até a sua aposentadoria. Mas foi como político que Valeriano se destacou na vida pública. Vice-prefeito por duas vezes, já por esse tempo começou a organizar o seu próprio grupo político, posição que, aliás, o conduziria por duas vezes, e pessoalmente, ao comando político da municipalidade: a primeira delas em 1966, e a segunda em 1973. Mas, mostrando a sua força e carisma junto à população, ainda conseguiu eleger dois aliados, intercalando seus próprios mandatos: Antenor Arruda Leda e Lindomar Lucena de Lima. Antenor Leda, em uma ampla composição política com a oposição, caso raro até então, para um mandato tampão de aproximadamente três anos. E Lindomar Lucena, somente com a força política do seu grupo.


Com os ventos mudancistas que sopraram sobre o município, quando a oposição elegeu o seu primeiro prefeito depois de anos tentando, foi Valeriano Américo o candidato derrotado pelo furação eleitoral Remy Soares. Mas, como já afirmei anteriormente, Valeriano é um político habilidoso, estrategista dos mais competentes e por isso mesmo conseguiu se manter ativo e influente por todos esses anos. Seguindo aquela máxima que diz “se não te achas com força suficiente para derrotar o teu adversário, alia-te a ele”, aliou-se aos antigos adversários para vencer as eleições municipais de 1996. Sua esposa, Eleusina Carvalho de Oliveira, mulher ativa e que exerceu forte influência nos dois mandatos eletivos do marido, compôs a chapa oposicionista com o próprio Remy Soares, na condição de candidata a vice-prefeita. Venceram o candidato da situação, Joaquim Nunes Figueiredo, candidato apoiado pelo prefeito Jurandy Carvalho e por seu grupo político, também conhecido como Arapuás.

O destino mais uma vez pesou a sua mão sobre os políticos jovens do velho Curador, e num acidente tenebroso, levou o prefeito Remy Soares, situação que permitiu à vice-prefeita ascender ao posto maior na política municipal. Voltava ao topo o grupo do ex-prefeito Valeriano Américo. E de volta ao centro do jogo político, conduziu novamente as coisas da forma que mais sabe fazer: com habilidade e profundo conhecimento sobre o assunto. E nessa condição, deu mais uma guinada, passando a poiar o candidato apresentado pelo esquema político agora conduzido por Jurandy Carvalho e o grupo Arapuá, agora já sem o irmão Jean. Incluiu, todavia, na chapa que venceria o pleito, o amigo e protegido político, Wilson Oliveira Silva. Não deu outra. 

Hoje, no que pese afirmar que está aposentado da política, Valeriano Américo de Oliveira mantém-se no centro das grandes decisões políticas no município. Seu grupo político na verdade enfraqueceu, como é natural em política, em que o próprio tempo se encarrega de debilitar uns e fortalecer outros, ocasião em que surgem novas lideranças para ocupar os espaços deixados por aqueles que perderam forças. Recentemente, o jornalista Celso Nogueira publicou uma fotografia do velho líder transitando pelo Mercado Central da cidade, elegantemente vestido com um blazer bem vistoso, conversando tranquilamente com os feirantes como se nada de melhor tivesse para fazer. “Mais perguntando do que respondendo” como afirma o jornalista. Ele, na verdade, estava exercitando o que mais gosta de fazer: conversar com povão para sentir a temperatura política do momento. Ou seja, gosta de beber na própria fonte, e sentir, ao ar livre, os rumos que o vento está tomando.

Quando colhia material para o meu livro sobre Presidente Dutra, estive por diversas vezes na sua casa à procura de informações. Fui otimamente recebido, tratado daquele modo gentil com ele costuma se dirigir às pessoas. E foi ele um dos meus maiores incentivadores e informantes, fazendo-se presente, inclusive, no lançamento do livro na AABB. Fazia anos que não me colocava frente a frente com essa águia política que é Valeriano Américo de Oliveira. Gostei muito desse tete a tete, de sentir aqueles olhos calmos, perscrutadores, sobre mim, por trás daqueles óculos pesados. Pelo que senti, ele consegue ver algo que ninguém vê quando os fixa em alguém. Aprendeu, como ninguém, a investigar, e desnudar, a alma humana com um simples olhar.

Hoje, Valeriano Américo de Oliveira passa a maior parte do seu tempo em casa, em família, recebendo ainda muitas visitas, a maioria para conversar sobre política ou para tratar de alguma causa jurídica, pois ainda põe seus conhecimentos advocatícios em favor de algumas pessoas, em geral, sem cobrar honorários. E nessas causas, sobressai-se o defensor poderoso que sempre foi, advogado dos mais preparados, e duro na defesa de seus constituintes. 

Aos amigos que se baterão no próximo pleito eleitoral que acontece antes que este ano tenha fim, um aviso: prestem bem atenção em qual palanque o decano da política presidutrense estará durante a campanha. O normal é que ele sempre esteja no palanque dos vencedores. 
 
Maria Silvandira Coelho da Costa Américo de Oliveira, é hoje a representante do clã Américo de Oliveira, com eleições sucessivas à Câmara Municipal de Presidente Dutra desde 2004. Concorrendo sempre pelo PV sob o nome Silvia( um contraponto ao seu extenso nome de registro). É casada com o médico-cirurgião Gabriel Américo de Oliveira, ele um descendente direto de Vicente Américo, fundador do clã. É formada em Psicologia. Silvia tem sido eleita com votações consagradoras desde a sua primeira tentativa de ingresso na Câmara Municipal do município. Ocupa atualmente o cargo de 1º Secretária da mesa diretora para o biênio 2019/2020.

12 comentários:

  1. Mais uma lição sobre a história de Presidente Dutra - MA. Texto polido e, por isso mesmo, extremamente agradável. Parabéns, mestre!
    Remy Soares - Brasília - DF, 17.6.2016

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    1. Obrigado, amigo!Vamos remando para resgatar a memória do nosso querido PK.

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  2. A história desse povo batalhador e honrado sempre deu orgulho aos membros descendentes. Por isso me orgulho do nome: Tito Américo Alves Cavalcante de Oliveira. Obrigado, Sr. José Pedro.

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  3. Importante esse seu interesse pela história de P.Dutra...nossa terra merece pessoas cultas como você. Comprei o seu livro: " Viajando do curador a Presidente Dutra"Parabéns!!. Leninha Lucena

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  4. Importante esse seu interesse pela história de P.Dutra...nossa terra merece pessoas cultas como você. Comprei o seu livro: " Viajando do curador a Presidente Dutra"Parabéns!!. Leninha Lucena

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    1. Obrigado, Helena. Estou tentando resgatar a história da nossa terra tentando ser o mais honesto possível com os meus biografados.
      Hoje publiquei o texto sobre a tua família.

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  5. Belo trabalho este que vem fazendo,
    Parabéns!Gostaria de saber onde encontro o livro "Viajando do Curador a Presidente Dutra"

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  6. Obrigado, Maxuel! Acredito que você ainda possa encontrar algum exemplar em Presidente Dutra, na loja do meu irmão, a Complast. A loja fica localizada na Praça Biné Soares, no centro.

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  7. fico feliz em ter conhecido essa lenda que é Valeriano Américo, era um sonho de mais de 50 anos

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  8. Gabriel Américo de Oliveira não é um descendente direto de Vicente Américo, e sim sobrinho neto dele, ou seja um colateral. O genitor de Gabriel Americo de Oliveira Neto é Isaias Americo de Oliveira sobrinho de Vicente Americo.

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