José Pedro Araújo
No período intermediário, entre
os primórdios do Curador e os tempos mais recentes, contemporâneos, comandou
politicamente o município o grupo familiar dos Américo de Oliveira. Mas, mesmo
antes, quando os combates políticos começaram a se agigantar na escolha dos
mandatários do município, lá já tinha um deles. Originários do Piauí, mais precisamente da
região de São Raimundo Nonato, de um povoado hoje pertencente ao município de
Dom Inocêncio, esta família chegou às terras do Curador e fixou-se definitivamente
na região. Corria o ano de 1927, ou um pouquinho depois, quando não passávamos
de uma obscura Vila, posto que ainda pertencíamos territorialmente ao município de
Barra do Corda.
Acostumado à vida dura que levava
na sua terra natal, onde a falta de chuvas deixava o chão seco, esturricado, o
chefe do clã familiar, Vicente Américo de Oliveira, encontrou no novo
território todas as dificuldades de uma povoação que distava mais de cem quilômetros
da sua sede. Nada, contudo, que lhe fosse mais difícil do que viver no
semiárido piauiense. Sem estradas trafegáveis, a ligação com os demais
municípios era feita no lombo de animais naquele tempo, inclusive o transporte
de cargas. E foi essa profissão que o patriarca familiar adotou como forma de
vida, passando a labutar como tropeiro. Trabalhador incansável, enquanto se
recuperava das viagens longas e difíceis, o jovem pai de família explorava
paralelamente as terras da fazenda Lagoa Grande, adquirida quando chegou à
região, e aonde situou a imensa família.
Anos depois, com a instalação do
novo município em junho de 1944, o dinâmico, e já bem situado Vicente Américo, candidatou-se
às primeiras eleições legislativas do Curador. E teve êxito logo na primeira
tentativa, passando a fazer parte, portanto, da sua primeira bancada. Foi
vereador por sete mandatos consecutivos, encerrando a sua vida legislativa em
1972, já com idade bastante avançada. Enquanto isso, outro membro da família
dava início à carreira política: Valeriano Américo de Oliveira. E se manteria
ativo como uma das maiores lideranças políticas da região até os dias de hoje,
quando já passa dos 90 anos de idade. É sobre esse membro ilustre da família
que teceremos nossas considerações daqui para frente.
Valeriano Américo foi desde muito
jovem um homem que viu suas possibilidades aparecerem longe do amanho da terra,
como era praxe acontecer com o clã desde os seus primórdios, ainda quando
exploravam a fazendinha da família no Povoado Moreira, situado no centro
geográfico do hoje município de Dom Inocêncio, bem próximo ao estado da Bahia.
Inteligente, articulado, logo abraçou a carreira jurídica, provisionando-se
como advogado. Foi ainda juiz-substituto e tabelião, antes de assumir um cargo
na receita federal, no qual trabalhou até a sua aposentadoria. Mas foi como
político que Valeriano se destacou na vida pública. Vice-prefeito por duas
vezes, já por esse tempo começou a organizar o seu próprio grupo político, posição
que, aliás, o conduziria por duas vezes, e pessoalmente, ao comando político da
municipalidade: a primeira delas em 1966, e a segunda em 1973. Mas, mostrando a
sua força e carisma junto à população, ainda conseguiu eleger dois aliados, intercalando
seus próprios mandatos: Antenor Arruda Leda e Lindomar Lucena de Lima. Antenor
Leda, em uma ampla composição política com a oposição, caso raro até então,
para um mandato tampão de aproximadamente três anos. E Lindomar Lucena, somente
com a força política do seu grupo.
Com os ventos mudancistas que
sopraram sobre o município, quando a oposição elegeu o seu primeiro prefeito
depois de anos tentando, foi Valeriano Américo o candidato derrotado pelo
furação eleitoral Remy Soares. Mas, como já afirmei anteriormente, Valeriano é
um político habilidoso, estrategista dos mais competentes e por isso mesmo
conseguiu se manter ativo e influente por todos esses anos. Seguindo aquela
máxima que diz “se não te achas com força suficiente para derrotar o teu adversário,
alia-te a ele”, aliou-se aos antigos adversários para vencer as eleições
municipais de 1996. Sua esposa, Eleusina Carvalho de Oliveira, mulher ativa e
que exerceu forte influência nos dois mandatos eletivos do marido, compôs a
chapa oposicionista com o próprio Remy Soares, na condição de candidata a
vice-prefeita. Venceram o candidato da situação, Joaquim Nunes Figueiredo,
candidato apoiado pelo prefeito Jurandy Carvalho e por seu grupo político,
também conhecido como Arapuás.
O destino mais uma vez pesou a
sua mão sobre os políticos jovens do velho Curador, e num acidente tenebroso, levou
o prefeito Remy Soares, situação que permitiu à vice-prefeita ascender ao posto
maior na política municipal. Voltava ao topo o grupo do ex-prefeito Valeriano
Américo. E de volta ao centro do jogo político, conduziu novamente as coisas da
forma que mais sabe fazer: com habilidade e profundo conhecimento sobre o
assunto. E nessa condição, deu mais uma guinada, passando a poiar o candidato
apresentado pelo esquema político agora conduzido por Jurandy Carvalho e o
grupo Arapuá, agora já sem o irmão Jean. Incluiu, todavia, na chapa que
venceria o pleito, o amigo e protegido político, Wilson Oliveira Silva. Não deu
outra.
Hoje, no que pese afirmar que
está aposentado da política, Valeriano Américo de Oliveira mantém-se no centro
das grandes decisões políticas no município. Seu grupo político na verdade
enfraqueceu, como é natural em política, em que o próprio tempo se encarrega de
debilitar uns e fortalecer outros, ocasião em que surgem novas lideranças para
ocupar os espaços deixados por aqueles que perderam forças. Recentemente, o
jornalista Celso Nogueira publicou uma fotografia do velho líder transitando
pelo Mercado Central da cidade, elegantemente vestido com um blazer bem
vistoso, conversando tranquilamente com os feirantes como se nada de melhor
tivesse para fazer. “Mais perguntando do que respondendo” como afirma o
jornalista. Ele, na verdade, estava exercitando o que mais gosta de fazer:
conversar com povão para sentir a temperatura política do momento. Ou seja, gosta
de beber na própria fonte, e sentir, ao ar livre, os rumos que o vento está
tomando.
Quando colhia material para o meu
livro sobre Presidente Dutra, estive por diversas vezes na sua casa à procura
de informações. Fui otimamente recebido, tratado daquele modo gentil com ele
costuma se dirigir às pessoas. E foi ele um dos meus maiores incentivadores e
informantes, fazendo-se presente, inclusive, no lançamento do livro na AABB.
Fazia anos que não me colocava frente a frente com essa águia política que é
Valeriano Américo de Oliveira. Gostei muito desse tete a tete, de sentir aqueles olhos calmos, perscrutadores, sobre
mim, por trás daqueles óculos pesados. Pelo que senti, ele consegue ver algo
que ninguém vê quando os fixa em alguém. Aprendeu, como ninguém, a investigar,
e desnudar, a alma humana com um simples olhar.
Hoje, Valeriano Américo de
Oliveira passa a maior parte do seu tempo em casa, em família, recebendo ainda muitas
visitas, a maioria para conversar sobre política ou para tratar de alguma causa
jurídica, pois ainda põe seus conhecimentos advocatícios em favor de algumas
pessoas, em geral, sem cobrar honorários. E nessas causas, sobressai-se o
defensor poderoso que sempre foi, advogado dos mais preparados, e duro na
defesa de seus constituintes.
Aos amigos que se baterão no
próximo pleito eleitoral que acontece antes que este ano tenha fim, um aviso:
prestem bem atenção em qual palanque o decano da política presidutrense estará
durante a campanha. O normal é que ele sempre esteja no palanque dos vencedores.
Maria Silvandira Coelho da Costa Américo de Oliveira, é hoje a representante do clã Américo de Oliveira, com eleições sucessivas à Câmara Municipal de Presidente Dutra desde 2004. Concorrendo sempre pelo PV sob o nome Silvia( um contraponto ao seu extenso nome de registro). É casada com o médico-cirurgião Gabriel Américo de Oliveira, ele um descendente direto de Vicente Américo, fundador do clã. É formada em Psicologia. Silvia tem sido eleita com votações consagradoras desde a sua primeira tentativa de ingresso na Câmara Municipal do município. Ocupa atualmente o cargo de 1º Secretária da mesa diretora para o biênio 2019/2020.
Maria Silvandira Coelho da Costa Américo de Oliveira, é hoje a representante do clã Américo de Oliveira, com eleições sucessivas à Câmara Municipal de Presidente Dutra desde 2004. Concorrendo sempre pelo PV sob o nome Silvia( um contraponto ao seu extenso nome de registro). É casada com o médico-cirurgião Gabriel Américo de Oliveira, ele um descendente direto de Vicente Américo, fundador do clã. É formada em Psicologia. Silvia tem sido eleita com votações consagradoras desde a sua primeira tentativa de ingresso na Câmara Municipal do município. Ocupa atualmente o cargo de 1º Secretária da mesa diretora para o biênio 2019/2020.
Mais uma lição sobre a história de Presidente Dutra - MA. Texto polido e, por isso mesmo, extremamente agradável. Parabéns, mestre!
ResponderExcluirRemy Soares - Brasília - DF, 17.6.2016
Obrigado, amigo!Vamos remando para resgatar a memória do nosso querido PK.
ExcluirA história desse povo batalhador e honrado sempre deu orgulho aos membros descendentes. Por isso me orgulho do nome: Tito Américo Alves Cavalcante de Oliveira. Obrigado, Sr. José Pedro.
ResponderExcluirEu que agradeço por terem lidos os meus textos.
Excluir*por lerem meus textos.
ResponderExcluirImportante esse seu interesse pela história de P.Dutra...nossa terra merece pessoas cultas como você. Comprei o seu livro: " Viajando do curador a Presidente Dutra"Parabéns!!. Leninha Lucena
ResponderExcluirImportante esse seu interesse pela história de P.Dutra...nossa terra merece pessoas cultas como você. Comprei o seu livro: " Viajando do curador a Presidente Dutra"Parabéns!!. Leninha Lucena
ResponderExcluirObrigado, Helena. Estou tentando resgatar a história da nossa terra tentando ser o mais honesto possível com os meus biografados.
ExcluirHoje publiquei o texto sobre a tua família.
Belo trabalho este que vem fazendo,
ResponderExcluirParabéns!Gostaria de saber onde encontro o livro "Viajando do Curador a Presidente Dutra"
Obrigado, Maxuel! Acredito que você ainda possa encontrar algum exemplar em Presidente Dutra, na loja do meu irmão, a Complast. A loja fica localizada na Praça Biné Soares, no centro.
ResponderExcluirfico feliz em ter conhecido essa lenda que é Valeriano Américo, era um sonho de mais de 50 anos
ResponderExcluirGabriel Américo de Oliveira não é um descendente direto de Vicente Américo, e sim sobrinho neto dele, ou seja um colateral. O genitor de Gabriel Americo de Oliveira Neto é Isaias Americo de Oliveira sobrinho de Vicente Americo.
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