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Praça da matriz de São Sebastião com a mureta original(anos 60) |
José Pedro Araújo
Desde menino ouço falar que, em
época de eleições, os ânimos se acirravam no velho Curador, a ponto de amigos
fraternos passarem meses sem se cumprimentar. Pior, período de eleições era
época de muito choro e ranger de dentes para algumas famílias ao ver a vida de
algum dos seus filhos ceifada precocemente. Por esse tempo, quando ainda
trajava calças curtas, comecei a ouvir dizer que o Curador já havia passado por
um confronto sangrento entre duas das famílias de maior destaque na região. E que do embate, a vida de alguns dos seus membros fora subtraída. Tudo pelo poder de mando de uma
comunidade perdida nos sertões mais profundos do Maranhão. Ouvi, por exemplo, que
homens armados e violentos se apossavam da cidade e transformavam a sua calma
sertaneja em um campo elétrico, onde o menor contato entre as partes poderia se
transformar em um mar de fogo. Fiquei assustado quando minha mãe me falou que,
certo dia, houve um tiroteio tão intenso na Rua Grande, que as pessoas, mesmo
abrigadas em suas casas, tiveram que se projetar no chão e buscar a proteção dos
pés das paredes. Apavoradas com pipocar das armas de fogo, procuravam escapar das balas perdidas que voejavam à procura de uma vítima.
Em um desses dias em que o cheiro
de pólvora se espalhava pelo ar, no que pode ser descrito como o maior dos
confrontos entre os dois grupos familiares já citados no parágrafo anterior, um
primo desse escriba, jovem, ainda imberbe, foi atingido por um balaço que lhe abreviou a
vida ainda em flor. Havia o irrequieto rapaz tomado partido por um dos lados em disputa.
Nesse
tempo, a grita por segurança bateu às portas do Palácio dos Leões na distante capital, São Luís, e o
assunto tomou conta das páginas dos jornais por muitos e muitos dias. A cidade
ganhou fama de violenta e sanguinária, e para os Ludovicenses, passamos a ser um povo
que cultivava a violência. A má fama nos persegue até os tempos que correm. Por
muitas e variadas razões, não podemos nos furtar disso.
Como ninguém mais aguentava tal
situação, o interventor de plantão abriu mão do posto a fim de que o governador
do estado pudesse nomear outro mandatário com poderes para pacificar
os ânimos durante o pleito eleitoral que se avizinhava. O escolhido foi um
Tenente-coronel, ocupante de relevante cargo no âmbito do poder estatal. Este,
contudo, mal terminou o período concernente às eleições, retornou para a
capital e deixou o velho Curador imerso em suas ensandecidas disputas
costumeiras.
No inicio dos anos 60 se instalou
na cidade o batalhão de Engenharia e Construção do 2º BEC. Tinha por objetivo a
conclusão da BR 226 até chegar ao rio Tocantins. Mas os militares fez muito mais que isto.
Debelaram a violência na cidade durante os anos em que ficaram instalados na Praça
Biné Soares, em local pertencente à família do senhor Celso Sereno. Patrulhas
armadas saíam todas as noites pela cidade com o propósito de proteger a cidade e permitir que os
presidutrenses pudessem dormir em paz e segurança. Por esse tempo os políticos
também se comportaram e respeitaram as mais básicas regras democráticas.
E foi sempre assim a história
política do velho Curador até alguns anos atrás. Como no processo político cabe
a apenas um grupo o poder de mando, sempre havia um terrível entrechoque entre
aqueles que queriam para si essa primazia. Em épocas nem tão distantes assim, a
violência tirou a vida de alguns representantes da mais alta estirpe política
local, criando um clima de insegurança que muitos pensavam haver ficado
soterrado no passado. Foi, talvez, o período mais doloroso e sangrento desde a
época em que o município recebeu a sua emancipação.
Ultimamente as coisas se mostram diferentes.
Muito bate-boca toma conta da cidade, que já não é tão pequena assim. E as
desavenças, no máximo, chegam aos desforços pessoais, e são resolvidas com alguns
murros e bofetões. Mas isso acontece em todo o país. No Brasil, a força da
palavra não é o bastante para dissipar as nossas diferenças e/ou desavenças.
No pleito que aconteceu domingo
passado, o município elegeu um represente para a Assembleia Legislativa
estadual depois de muito tempo. Até onde sei, tudo transcorreu na mais perfeita
ordem, na mais absoluta paz. Abandonamos a velha prática curadoense e chegamos,
por fim, aos tempos presidutrenses. Que seja assim por séculos e séculos sem
fim. Amém!
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