quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O Ineditismo do Futebol de Minha Terra(2) - Árbitro x Bandeirinha.




Mazaniel Almeida(*)

            Antes de qualquer coisa, devo fazer um elogio ao futebol do Estado Maranhão. Lá não temos clubes homônimos, o que facilita e muito a comunicação. No Brasil se formos contar o número de clubes de futebol com o nome de América, daria para encher um balde. No futebol do Piauí certa feita, tínhamos Flamengo, Fluminense e Botafogo. Por sacanagem a Caixa Econômica Federal colocou na loteria Esportiva um jogo de Flamengo x Fluminense do Piauí e o Brasil todo marcou coluna do meio, ou seja, empate, quando nós sabíamos que o Fla daria uma goleada no Flu.
            Corria o ano de 1968 e o campeonato piauiense de futebol se desenrolava sem maiores atrativos até que veio o último clássico do primeiro turno entre Flamengo x Piauí, no domingo sete de julho.
            Desculpe-me os torcedores do Flamengo carioca, mas o time de vocês não é o único a se beneficiar de arbitragens escandalosas. O Flamengo do Piauí também trouxe essa sina. O Flamengo perdia por 1 x 0 quando o árbitro Antônio Rodrigues SANTA ROSA, validou um gol do Flamengo feito pelo atacante em completo impedimento (offside). O juiz de linha (bandeirinha) permaneceu em pé junto a bandeira de escanteio com a bandeirinha levantada, marcando o impedimento. Imediatamente os jogadores do Piauí E. Clube partiram pra cima do árbitro, apontando a marcação do bandeirinha. O árbitro por sua vez correu para se entender com o juiz de linha, Sr. Jamil Gedeon Filho com quem travou o seguinte diálogo:
Árbitro Santa Rosa: Eu marquei gol. O que você tá fazendo com esse pau duro em pé?
Bandeirinha Jamil Gedeon: Foi gol, mas em impedimento e o pau e meu e deixo como quero. Você não manda em meu pau!
Árbitro: Mas eu estou marcando gol e você assim com esse pau em pé me desmoraliza.
Bandeirinha: Não vou abaixar meu pau, se você quiser que valide, mas         estava de offside. Meu pau não desmoraliza ninguém!
Árbitro: Você e seu pau estão atrapalhando meu trabalho, por isso você está expulso de campo com bandeirinha e tudo.
            A introdução dos cartões vermelhos e amarelos no futebol mundial se deu dois anos depois, na Copa do Mundo de 1970, no México. Nessa copa nenhum jogador recebeu cartão vermelho e o primeiro jogador a receber cartão vermelho numa Copa do Mundo foi o nosso zagueiro de área Luis Pereira, na Copa de 1974, contra a Polônia, na decisão do terceiro lugar.
            Os cartões tiveram como inspiração para a criação, os sinais de trânsito, isso para facilitar a comunicação dos árbitros com os jogadores e também para o entendimento das torcidas, em face da quantidade de idiomas reunidas nos estádios que mais parecia uma imensa Babel. Ainda não havia esse enorme intercâmbio de atletas internacionais, hoje tão comum. Até então, o árbitro ao expulsar de campo um jogador era um tal de assoprar de apito e gestos espalhafatosos que dava dó. Foi o que se viu a seguir com o árbitro Santa Rosa expulsando seu bandeirinha de campo. O bandeirinha Jami Gedeon por sua vez, fez questão de sair com o pau da bandeira em pé, apontando para cima, numa flagrante afirmação de suas convicções.
            Tanto o árbitro Antônio Rodrigues Santa Rosa, quanto o bandeirinha Jamil Gedeon Filho, infelizmente já esticaram as canelas e bateram as botas, indo à viagem sem volta, com passagem só de ida. Bem que eles poderiam assinar esse trabalho. Como pessoas eram excelentes. Cidadãos de primeira linhagem, mas como árbitros de futebol, ofício ingrato e que costuma desagradar as duas torcidas, praticavam lá seus deslizes e protagonizaram esse caso único no mundo. O resultado do placar deixou de ser relevante diante dessa anomalia, ninguém mais se importou com a partida e a expulsão gerou comentários pra mais de mês, pra lá de léguas de comprimento. Carlos Said, o mais conhecido comentarista de arbitragem do Estado, falou tanto nisso que ficou rouco.
            Ah, quase me esqueço! O jogo terminou empatado de 1 x 1 com o gol de impedimento validado.
             Eu estava lá, vi e conto.
             São coisas de minha terra.


(*)Mozaniel Almeida é piauiense, poeta e cronista.

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