quarta-feira, 10 de abril de 2019

Fragmentos da Memória de uma Viagem a Portugal e Itália(Parte 2)

Lisboa - Monumento aos Descobrimentos(ao fundo Ponte 25 de abril sobre o rio Tejo) -foto do autor


CHEGADA A PORTUGAL
O
O avião da TAP pousou no Aeroporto da Portela, em Lisboa, às 6:30 da manhã do dia 22 de março. A cidade ainda estava acordando de uma noite típica de final de inverno e o sol travava uma luta difícil com uma leve bruma que tornava o ambiente frio para os nossos padrões tropicais. O aeroporto era enorme, mas não tivemos dificuldades em identificar a nossa guia (Catarina) que nos acompanharia nos dois dias que passaríamos no país dos nossos ancestrais. A ideia era realizar logo de imediato um tour pela bela cidade de Lisboa, visitando seus principais pontos turísticos.  A emoção de estar pisando em solo português é indescritível e tomou conta dos nossos sentidos desde o primeiro instante.
Em menos de 24 horas – contando ai o tempo de permanência em Brasília - havíamos chegado a Lisboa, localidade de onde partiram os primeiros portugueses que se aventuraram em navegar por mares bravios, rumo ao atlântico sul para, afinal, descobrirem o Brasil. Se naquele tempo eles levavam até noventa dias para fazer a travessia, em pouco menos de 24 horas havíamos feito o mesmo trajeto, em sentido inverso. Mesmo com as diferenças de fuso e o tempo gasto em conexão (a viagem transoceânica, caso partíssemos de Fortaleza, duraria menos de dez horas). Sinal dos tempos, mas, e principalmente, em função da forma de transporte por nós escolhido.

LISBOA
  E
Embarcamos em um micro-ônibus que realizou sua primeira parada cerca de 7 km depois. Estávamos no alto do Parque Eduardo VII contemplando a beleza da cidade baixa, especialmente conhecida como Baixa Pombalina. Trata-se de uma homenagem ao ministro plenipotenciário português que reconstruiu Lisboa por ocasião do grande terremoto de 1755. Pombal é muito citado na história da nossa região, tendo tido importância vital na criação da Província do Piauí e na nomeação do seu primeiro presidente, João Pereira Caldas. Foi dele também a decisão de expulsar os jesuítas que administravam as trinta e três fazendas de gado, antes pertencentes a Domingos Afonso Mafrense. Dessas fazendas sairiam, depois do confisco, parte significativa dos recursos que abasteceriam o tesouro provincial. Fazíamos, assim, nosso primeiro contato com a história de nossos países.
Não havia como controlar a curiosidade a cada monumento que avistávamos o que nos levava a indagar se tinha alguma relação com a nossa pátria. Afinal, Portugal viveu o seu apogeu exatamente na época do Brasil Colônia, ocasião em que a metrópole importava a maior parte das riquezas que permitira ao país lusitano a reconstrução da sua capital arrasada pelo terremoto, e até mesmo antes disto.
                Depois das primeiras fotos tiradas naquele belo lugar, embarcamos novamente no nosso ônibus e, em poucos minutos já estávamos no famoso bairro do Chiado, um dos mais conhecidos da capital lusa, após atravessarmos o não menos famoso bairro do Rossio. Logo mais, após trafegar por menos de um quilômetro, já chegávamos à Cidade Alta, belo e frequentado bairro boêmio da cidade. A cada momento nos deparávamos com a beleza desta cidade que encanta pela sua arquitetura muito parecida com a que temos em São Luís, Olinda, Recife e Salvador, além das cidades históricas de Minas. Descemos, em seguida, no sentido da beira mar, para o belo e muito cultuado bairro de Alfama. Muito central, dista menos de três quilômetros de onde nos achávamos, e é um dos pontos mais bonitos da cidade, enfeitado pelos seus casarões aparentemente ainda mais antigos, cuja arquitetura deve-se aos antigos Mouros quando ocupavam a península ibérica.  
A esta altura do dia, Alfama fervilhava de gente a procura do comércio que naquela área é muito intenso. Pena que não tenhamos parado em cada local daqueles para fazer algumas fotos. Todos os lugares por onde passamos durante esse curto trajeto nos atraia enormemente e clamava por uma parada. Infelizmente o tempo era escasso, pois estávamos em busca de um dos mais belos cartões postais da cidade, o Mosteiro dos Jerônimos.  Mas, antes, precisávamos passar por um lugar também importante para fazermos nosso primeiro lanche em terras portuguesas: a Pastelaria de Belém, local especial por onde passam milhares de pessoas para se deliciar com os famosos e gotosíssimos Pastéis de Belém. A propósito disto, em um letreiro no frontispício do estabelecimento, já se pode observar o tamanho da tradição daquela casa comercial. Ano de fundação: 1837. Entrar em local com aquela tradição já é algo que mexe com os nossos sentidos; degustar suas iguarias, aí já atropela dois deles, o olfato e o paladar. O tal pastelzinho que já foi considerado pelo prestigiado Guia de Viagem Lonely Planet como um das onze melhores iguarias de rua do mundo, é feito ali desde a fundação do estabelecimento. O interior do local é muito aconchegante e a vista dos famosos doces, quitutes e salgados expostos em seus belos e vetustos balcões, enche-nos a boca de saliva. Alguns colegas de viagem não acharam grande coisa, os tais pasteizinhos. Eu, por meu turno, me deliciei com a sua história e o seu sabor incomparável. Estava degustando a história portuguesa através dos séculos. E isso, para mim, não tem preço. Poucos anos depois voltei lá, mas a multidão de clientes impediu-me de me aproximar do balcão para pedir um daqueles pitéus deliciosos.
                Andamos poucos metros para pisar a calçada do Mosteiro dos Jerônimos, monumento construído por D. Manuel I na primeira metade do século XVI, para homenagear as grandes descobertas realizadas por Portugal, que teve início quando do retorno de Vasco da Gama com a notícia do descobrimento da América. Construído em estilo manuelino, de frente para o Rio Tejo, exatamente no ponto de onde partiam as famosas caravelas em busca de novas descobertas, seu interior é de uma beleza incomparável. E guarda muitas surpresas, como a representação nas colunas das desconhecidas frutas tropicais encontradas pelos descobridores das novas terras. Atas, abacaxis, entre outras frutas, disputam lugar com florezinhas belas e singelas, também desconhecidas dos lusitanos.  
Para afirmar a sua importância histórica, basta dizer que no seu interior estão sepultados o próprio Vasco da Gama, D. Manuel I e sua mulher, Dona Leonor – bem como outros reis de Portugal. Está lá sepultado também, Fernando Pessoa, considerado o maior poeta lusófono da era moderna.
                Saindo dali, mais em decorrência do tempo restante do que propriamente por nossa vontade, nos dirigimos a um imenso e bonito parque, O Parque das Nações, espaço em que antes ficava a praia de Belém, e onde agora estão erguidos vários monumentos relativos aos descobrimentos, como o próprio mosteiro já descrito, a Torre de Belém e o Monumento aos Descobrimentos. Somente neste local que transpira história, passamos a maior parte desse dia admirando a beleza do lugar e fazendo incontáveis fotografias. Aqui a emoção aflorou de forma incontrolável ao observarmos o ponto de onde partiram as Caravelas de Pedro Álvares Cabral para descobrir o Brasil. A viagem já estava bem paga, não restava a menor dúvida. Mas ainda teríamos muito a ver e a admirar nesse nosso périplo por terras Portuguesa.
                Após conhecer as belezas acima descritas, era hora de nos recolhermos ao hotel para o nosso check-in, e para descansar um pouco também. Afinal, há mais de 24 horas estávamos no ar, com curtos intervalos de sono durante o voo de Brasília a Lisboa. Mas não nos demoramos muito no hotel e logo já estávamos prontos para conhecer uma loja de departamentos muito famosa que fica a poucos metros do nosso hotel, a El Corte Inglês.  As primeiras compras em terra europeia foram realizadas naquela importante casa comercial. Ali também nossos bolsos começaram a ficar aliviados do peso dos Euros que destinamos para a viagem. Foi preciso pedir parcimônia nas despesas, senão todo o nosso dinheirinho ficava ali, e no primeiro dia da viagem.
                Como se não bastasse o cansaço do dia puxado, à noite fomos conhecer uma bela casa de Fado. Lá se servia uma ótima comida durante a apresentação das várias cantoras deste apaixonado ritmo musical português que esteve muito na moda no nosso país anos atrás. O Fado é daqueles ritmos musicais que entornam paixão por todos os poros: ou se gosta ou se abomina. Corroborando com o segundo caso, as artistas que se apresentaram naquela noite não traziam propriamente consigo a beleza das raparigas portuguesas. Mas, em apoio a primeira opção, possuíam uma ótima voz que somada à bela música, e ao excelente vinho, compensaram com folga este pequeno senão. A casa que visitamos, no melhor estilo lisboeta, encravada em um prédio com vários séculos de existência, ficava no tradicionalíssimo Bairro Alto ( Café Luso, se não me engano). E apesar da entrada singela, possuía no seu interior o luxo e o bom gosto das grandes casas do ramo. O bacalhau servido, acompanhando  bom vinho português, também foi algo que deve permanecer nas nossas lembranças por muitos anos ainda. Passava da meia noite quando resolvemos que era hora de nos recolhermos ao hotel. O dia seguinte nos reservaria muitas surpresas e exigiria mais esforço físico da nossa parte. Faríamos de Ônibus uma rápida visita a Sintra, Cabo da Roca, Cascais e Estoril.


Um comentário: