quarta-feira, 24 de abril de 2019

Fragmentos da Memória de uma Viagem a Portugal e Itália (Parte 4)

O Duomo de Milão(foto do autor)

José Pedro Araújo

A PARTIDA PARA A ITÁLIA

   A
cordamos no dia seguinte tomados por uma saudade enorme da bela Lisboa, mas com o coração aflito para conhecermos o famoso “país da bota”, a bela e decantada Itália. De volta ao luxuoso aeroporto de Lisboa, embarcamos num voo da TAP para dar prosseguimento ao nosso rápido giro pela Europa. Nosso destino era Milão, a capital da moda italiana. A proposta era passar uma tarde e noite na cidade, tempo muito curto, infelizmente. E de lá seguirmos de ônibus no sentido de Roma, nossa parada final em terras italiana.

MILÃO

Foi uma viagem relativamente curta até Milão. Durou pouco mais de duas horas e meia, ocasião em que sobrevoamos a Espanha, parte da França, até chegarmos ao espaço aéreo dos descendentes de Caruso. Pouco depois, coração apertado por estarmos prestes a conhecer La Bella Itália, descíamos no aeroporto da Milão. Malpensa é um aeroporto moderníssimo que dista cerca de 50 km do centro da cidade. A curiosidade era muito grande e a sensação de estarmos pisando solo Etrusco fazia nossos corações transbordarem de emoção. Demoraríamos pouco ali na capital da região da Lombardia, norte da Itália, de onde partiríamos no dia seguinte para fazer um virtuoso arco rodoviário conhecendo outras cidades importantes, transitando por várias outras regiões, até chegarmos, como já esclarecemos, à bela Roma.
Apreciando a paisagem da janela do ônibus que nos apanhou no aeroporto Malpensa, partimos para o nosso hotel, o Una Scandinavia, situado próximo a  uma via expressa, quase nos subúrbios da cidade. Sem perda de tempo, concluímos nosso check in em tempo recorde, trocamos de roupa mais rapidamente ainda e logo estávamos ocupando uma Van que nos levaria para o centro da cidade. Nosso destino era o coração de Milão, a estonteante Piazza del Duomo, ao lado da também famosíssima Galeria Vittorio Emanuelle II, a meca das grifes italianas, próxima ao não menos famosos Teatro Scala. Somente ao desembarcarmos ao lado da famosa galeria foi que nos demos conta de que o relógio já marcava duas e meia da tarde e nós não havíamos almoçado ainda. Foi uma discussão acirrada: almoçamos ou vamos logo conhecer as belezas do lugar. Logo alguém avistou uma lanchonete da rede Mac Donald’s e propôs uma rápida refeição antes de começar a nossa breve visita ao centro da cidade. Concordamos de pronto com a ideia. Não gostaríamos de perder tempo com... comida.
Proposta aceita, refeição rapidamente realizada, começamos o nosso périplo. A tal galeria Vitorio Emanuelle é realmente algo de um refinamento a toda prova. Construída nos idos dos de 1865, é o mais antigo centro comercial da Itália. Seu espaço central é recoberto por uma cúpula com vitrais belíssimos e um piso de mosaico com vários e maravilhosos desenhos, em especial do Touro que simboliza a cidade. Naquele espaço nababesco convivem lojas da Versace, Doce e Gabbana, Prada, Gucci e Armani, entre outras feras da moda mundial. Pena que nossas carteiras não pudessem suportar os preços ali praticados. Até mesmo entrar em uma loja daquelas nos constrangia. Saímos de lá como entramos, de mãos abanando, e rapidamente nos dirigimos para a vizinha Catedral da Cidade, o Duomo.
A Catedral de Milão é a sede da Arquidiocese e sua construção teve inicio em 1386, na idade média, portanto. Sem dúvidas o Duomo merece a fama que tem. Belíssimo prédio em estilo gótico passou por alterações em sua fachada ao longo dos séculos, sem que o charme e a beleza sofresse o mais leve arranhão. Não há como não se encantar e se emocionar com a visão daquele templo erguido em homenagem ao cristianismo. Difícil mesmo é não se perder em meio àquele mar de turistas de todas as nacionalidades que ocupam cada centímetro da praça que abriga a famosa Catedral. Lugar para sentar, descansar as pernas, nem pensar. Tudo está ocupado pela avalanche de turistas, a maioria de olhinhos puxados, descendentes de orientais. Se no passado os japoneses já ocupavam o primeiro lugar no mundo em termos de turismo, agora, com a chegada dos chineses, o mundo foi tomado por uma maré de semblantes oriental ainda maior. E essa visão estaria fadada a acontecer durante todo o nosso percurso. Para registrar as ocasiões, ficava quase impossível não enquadrar algum oriental em nossas fotografias.
                Todavia, as pernas precisavam de descanso e, finalmente, decidimos procurar assento em um dos cafés existentes na Galeria Vitorio Emanuelle II. Estávamos dispostos a gastar uns poucos euros tomando uma cervejinha enquanto descansávamos. Um dos companheiros de viagem, ressabiado com o preço das coisas, logo se apossou de um cardápio e começou a compulsá-lo, procurando pelo preço da cerveja. De repente, não mais que de repente, ele apontou assustado para o preço da minúscula garrafinha de cerveja que mal dava para encher um copo. O que vimos naquele cardápio provocou uma reação em cadeia: levantamo-nos a um só tempo, com que picados por  um enxame de abelhas e fomos logo procurando a saída. Os outros amigos já estavam se distanciando o mais que puderam daquele ambiente que cobrava inacreditáveis doze euros por uma garrafinha minúscula de cerveja. O cansaço nas pernas e a dor nos pés que aguardasse por ocasião que atacasse menos os nossos bolsos. Aliás, durante toda a viagem verificamos que os italianos cobram mais pelo assento do que propriamente pelos produtos que vendem. Ai que saudade de casa! 
                O tempo passou rápido naquela curta tarde de primavera, nosso primeiro dia em chão italiano. Foi apenas um pequeno aperitivo do que viria nos dias que se seguiriam. Já era noite quando nos recolhemos ao nosso hotel, e lá jantamos e conhecemos o grupo ao qual nos juntaríamos. Agora, ao invés de nove pessoas, formaríamos uma trupe numerosa que ocuparia todos os lugares de dois belos ônibus de turismo. Permaneceríamos juntos, doravante, por longos oito dias, até a nossa parada final, em Roma, ocasião em que cada um retornaria a sua cidade de origem.
Finalizo a descrição da nossa estadia em Milano, afirmando que o grupo de turistas que se juntou ao nosso, era composto por brasileiros de vários estados, com exceção de um Argentino e um Português, que, contudo, eram casados com brasileiras e residiam no Brasil.
Começamos bem. A breve parada em Milão encantou a todos, abriu com chave-de-ouro as portas da velha bota. O sonho de conhecer a Itália estava sendo realizado com pompa e circunstancia.
Fomos dormir naquele dia com a gostosa sensação de que o futuro nos reservaria belos dias no velho continente. Estávamos certíssimos, é o que veremos a seguir.


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