quarta-feira, 17 de abril de 2019

Fragmentos de uma Viagem a Portugal e Itália (Parte 3)

O moderno e o antigo convivendo harmoniosamente no Estoril(Foto do autor)



SINTRA/CABO DA ROCA/CASCAIS E ESTORIL

José Pedro Araújo

L
ogo após um reforçado café da manhã embarcamos no nosso ônibus com destino a Vila de Sintra, Patrimônio Mundial da UNESCO, terra que os nobres portugueses escolheram para erigir seus belos e luxuosos palácios de verão. Não apenas cidadãos com sangue real circulando pelas veias escolheu o lugar para descanso, mas toda uma plêiade de velhos ricos e novíssimos detentores de fortunas mirabolantes procuraram Sintra e ali ergueram verdadeiros monumentos de beleza arquitetônica que rivalizam com os mais belos palácios europeus. Escolha também de religiosos mais preocupados com o sagrado do que com o mundano, no alto das montanhas de Sintra também foram erguidos inúmeros conventos, posto que diversas ordens religiosas também escolhessem a região como lugar para meditar sobre os pecados do mundo, local ideal para mergulhar por inteiro na clausura. O inicio da história dessa vila bela e aconchegante, data de 1154 e está recheada de ocupações por estrangeiros, mas também de retomadas espetaculares por renomados heróis portugueses. Depois de ocupada pelos romanos, muçulmanos, pelos franceses de Napoleão Bonaparte, mas também pelos vizinhos espanhóis, Sintra tem vivido em paz nos últimos séculos para satisfação de toda a humanidade que tem enviado para lá levas de turistas cada vez maiores.
Andar de maneira descompromissada pelas ruas, becos e ladeiras da vila é um exercício prazeroso e que requer algum preparo físico, em razão das inúmeras ladeiras que suas vielas serpenteantes possuem. Algumas delas levam tão alto, até onde se situam os castelos mais belos e estonteantes que, vistos das partes baixas, parecem tocar nas nuvens. Para aqueles menos compenetrados com a sua forma física, sempre existem as lojinhas repletas de belos suvenires e os cafés espalhados na parte baixa da vila estonteante.
                Situada a pouco menos de trinta quilômetros de Lisboa, ou a pouco mais de trinta minutos de uma deliciosa viagem, chegamos a Sintra antes das oito horas da manhã de um belo dia de sol. Uma brisa fria, mas profundamente aconchegante, nos acolheu logo que descemos do nosso veiculo. Estava armado o clima para um belo dia de visita aos arredores da bela Lisboa. Difícil foi embarcar novamente no ônibus para continuar a viagem rumo ao Cabo da Roca. No trajeto observamos as belas quintas – como são chamadas as chácaras portuguesas – que os endinheirados do mundo inteiro mantem na região. O solo rochoso e acidentado do local é recoberto por uma bela e verde vegetação formada por árvores de porte alto e luxuriante.
                Tomamos uma estradinha sinuosa, mas bem conservada no sentido de Cabo da Roca. Difícil era manter o olhar fixo em um ponto único. A paisagem estonteante e a beleza das Quintas que íamos encontrando pelo caminho nos surpreendiam a cada instante, impedindo que aquela imagem que acabávamos de capturar instantes atrás ficasse gravada para sempre na nossa memória. O todo, o conjunto da obra, tomou o lugar do individual e ficará para sempre nas nossas recordações.
                Por fim, Cabo da Roca. Ponto mais ocidental da Europa, seus paredões rochosos avançam mar adentro, recebendo a um só tempo as fortes lufadas de vento e as chicotadas das águas do Oceano Atlântico. No alto, ponto culminante daquela fração de terreno rochoso, um imponente farol serve de aviso aos navegantes, que descem para o sul ou de lá estão voltando, é que o local guarda imensos perigos. Luís de Camões descreveu com a maestria da sua pena, e o canto lírico brotado da sua alma, a importância de Cabo da Roca: “Eis aqui, quase cume da cabeça de Europa toda, o Reino Lusitano, onde a terra se acaba e o mar começa e onde Febo repousa no oceano”.
                Fizemos muitas fotos, grande parte delas voltada para o mar sem fim, como se quiséssemos enquadrar como pano de fundo da imagem os contornos sinuosos e o verde das matas do nosso país distante. Não sabemos se as nossas mulheres guardam boas lembranças daquela parte de Portugal uma vez que aquele impertinente vento teimava em deixá-las assanhadas, mandando ao espaço os laquês e as escovas que levaram horas para deixar seus cabelos bem arrumados para a posteridade nas fotografias que tão freneticamente se prepararam em poses compenetradas. Mas, afinal, devem ter gostado sim. Testemunhar aquela beleza selvagem e a dureza da rocha íngreme ficará para sempre na nossa memória de viajante. Perder mesmo, só aconteceu ao Jônatas que teve o seu novíssimo boné arrancado pelo vento indomável. Havia sido adquirido poucas horas antes, em Sintra. Deve hoje proteger a cabeça de alguma entidade marinha que habita aquelas velhas águas ibéricas.
                Hora de seguir em frente. Embarcamos novamente e seguimos em direção a Cascais. Aliás, Cascais e Estoril, estas duas cidades gêmeas, apresentam um padrão de beleza idêntica também. Mas contrastam frontalmente com o estilo barroco das construções de Sintra. Enquanto esta transpira antiguidade e beleza, aquelas duas irmãs apresentam uma feição mais moderna e clássica, no que pese ainda estarem de pé alguns belos e antigos palácios, como a atestar que, apesar de modernas, já estão plantadas ali há séculos. Se perguntarmos a alguém pouco afeito ao local, dificilmente saberá dizer em que ponto termina Cascais ou começa Estoril.
Paramos no Estoril para apreciarmos a beleza incomparável do lugar e, como já está se tornando hábito, fazermos as nossas fotografias. A mistura de história antiga e moderna, aqui se funde como em nenhum outro lugar. A presença do Forte de São Pedro defronte a um conjunto de moderníssimos prédios de apartamento na conhecidíssima, e cara, Praia da Poça, é um exemplo patente de como o velho e o novo podem conviver harmonicamente sem alterar a beleza da paisagem natural. A vista idílica da baia, coalhada de embarcações de todos os tipos e tamanhos atrai a quantos tem a sorte de conhecer tão aprazível lugar. Tudo isso, bordejado por uma linda avenida recheada de belas palmeiras e coloridos jardins que acompanha o formato sinuoso da bela baia. A visita não comporta palavras exatas para a sua descrição, mas encerra, e traduz bem, o que foi a nossa maravilhosa manhã. Precisávamos retornar a Lisboa, pois ainda tínhamos muito a apreciar no restante do dia.
                Fomos deixados no Shopping Center Vasco da Gama para o almoço. Como sempre, as mulheres foram logo em busca das vitrines e com muito custo chegamos até a uma bela churrascaria brasileira instalada na Praça de Alimentação (Somente para constar: Homens também gostam de vitrine. E mais ainda do interior da loja, aonde já vão descuidadamente enfiando a mão na carteira). Comida boa, churrasco ao gosto do brasileiro e um Chopp para distrair, foi o que tivemos. Foi também a última alimentação parecida com a nossa excelente culinária até o término da viagem (Apenas doze dias fora do nosso país e já ficamos loucos por um prato de feijão com arroz, não é mesmo Henrique Almeida?). Sem querer desmerecer o estupendo bacalhau português, é claro.
Depois fomos conhecer o comentado Oceanário de Lisboa. Maravilhoso, é tudo que podemos dizer de imediato. Caminhar pelo fundo do mar e ficar a menos de um metro de Tubarões e Arraias gigantes, e sem sermos molestados, é tudo de bom. A sensação é indescritível. Vale a pena passar pelo local quando estiverem em Lisboa. A imagem daqueles peixinhos coloridos convivendo com alguns grandões na maior paz e harmonia é algo que deve servir como reflexão.
Depois de admirar as belezas contidas no Oceanário, fomos passear um pouco e tomamos o teleférico do Parque das Nações. A vista é admirável, como tudo o que vimos na terra dos nossos patrícios. O Rio Tejo, que tanto ouvimos falar na história que une os nossos países, é visto de um ângulo maravilhoso, vários metros acima do solo. Os portugueses fizeram um trabalho primoroso ao construir um espaço moderno e arrojado para a EXPO 98, a Feira Mundial que o país sediou em 1998. Onde existiam construções decadentes, foram erguidos monumentos em arquitetura moderna e de altíssimo bom gosto, deslanchando o desenvolvimento da região e proporcionando o aparecimento de um bairro chique para a novíssima classe média-alta da cidade. Mais uma passadinha no Shopping para um jantar frugal e retornamos ao hotel para uma noite de descanso merecido. Precisávamos nos aprontar para a viagem à Itália. Milão nos esperava com a sua perfeita e harmoniosa união entre o antigo e o novo sem grandes preocupações com os puristas.  


2 comentários:

  1. Como disse anteriormente, estou de carona(0800) nessa maravilhosa viagem ao velho mundo, narrada com maestria pelo nosso prestigiado e nobre amigo Dr. Araújo. Estou de olho na próxima etapa desse périplo.

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    1. Sempre cortês, meu velho amigo Acoram. Quarta tem mais, vamos para a Itália.

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