segunda-feira, 1 de março de 2021

Um ano dentro de casa.

Imagem do Google    

 

Luiz Thadeu(*)

Nesta semana fez um ano da minha última viagem; desde então estou em casa: recluso, pouco saio, minhas incursões pelo o mundo exterior são parcimoniosas, extremamente necessárias.

Em fevereiro de 2020, parti do aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza, para uma trip de quinze dias por Paris, Barcelona e Amsterdã, três cidades que sempre que posso e o bolso permite visito. Foi a última vez que atravessei o Atlântico.

Ao desembarcar em Paris, em uma manhã fria, ninguém ainda usava máscara, todos livres, leves, soltos como se não houvesse amanhã, afinal de contas estávamos em Paris, que segundo Ernest Hemmingway, “Paris é uma festa”. A cidade luz é garantia permanente de boas energias. 

Desembarquei na terra de Antoni Gaudi, que embora nascido em Reus, mas é em Barcelona que estão suas obras, as pessoas seguiam em seus cotidianos, e as notícias vindas de Wuhan ainda não assustavam ninguém. 

De Barcelona voei para Amsterdã, terra de Vicent van Gogh, já percebi muita gente usando máscaras, o que chamou minha atenção. O tom de preocupação, via noticiário, havia subido de tom. 

De volta, aterrissei em Fortaleza, em seguida voei para São Luis, o motorista de aplicativo, que me conduziu até em casa já falava na doença misteriosa que vinha da China, ele me perguntou como estava lá fora. Logo em seguida foram fechadas as fronteiras, morreu a primeira pessoa no Brasil, em São Paulo, que viera da Itália. O restante da história é conhecido.

A única vez que viajei foi para vir a Teresina, de carro, pela BR 135, para entrevistas de TV, para o jornal O DIA, e gravar um documentário para dois jovens jornalistas.

Desde então, não soube o que é arrumar uma mala, despedir da família, ir para o aeroporto, passar por minha placa afixada, contando minha história de andarilho pelo mundo, próxima ao porta de entrada, fazer check in, ir para sala de embarque, entrar na aeronave, geralmente nos primeiros assentos, garantidos por lei federal, já que tenho limitação de locomoção, acomodar meus pertences de mão no bagageiro acima das poltronas, observar as pessoas embarcarem, cumprimentar um ou outro conhecido, o comissário anunciar o encerramento do embarque, travar a porta, e anunciar que voo vai decolar, reclinar o assento e fazer uma oração de agradecimento por mais uma vez estar nos ares. Descer em um outro aeroporto e começar um passeio, que é sempre uma experiência nova, mesmo que já estivera naquela cidade. 

Tenho oito passagens áreas compradas, pagas, e mais de uma vez adiada, para diferentes países em todos os continentes, inclusive uma volta ao mundo completa.

Tive a oportunidade de visitar países em todos os continentes, mas foram viagens pontuais, nesta viagem de volta ao mundo, pretendo abrir a passagem em três países por continentes e tomar banho em todos os oceanos em uma só viagem.

Minha matéria prima são os sonhos, disso não abro mão, e como os sonhos me nutrem, em casa, confinado por causa da pandemia do coronavírus, vou mudando, ajustando, refazendo, o roteiro da viagem a cada semana.

As viagens de volta ao mundo, ou Round The World (RTW), foi criada pela aliança mundial da Star Alliance, hoje é ofertada pelas demais constelações, SkyTeam, One World, e consiste que com “apenas” um bilhete aéreo permite voar para todos os continentes em uma só viagem. 

Tem várias regrinhas para se comprar os bilhetes, mas um dos primeiros é que os voos podem ser no sentido horário ou no sentido anti-horário do globo terrestre.

Mas enquanto planejo, corto, ajusto, sonho com a viagem, somente quem viaja por todos os países é o coronavírus, o poderoso, sem pagar passagem, nem respeitar alfândega, imigração, agentes de fronteira.

Esse foi um ano sabático, tive tempo de organizar muita coisa; pelo ritmo frenético das viagens, e no afã de conhecer lugares diferentes, deixei em segundo plano.

Agora, é ser grato à Deus por estar vivo: com saúde física, mental e espiritual.

(*) Luiz Thadeu Nunes e Silva é Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, já visitou 143 países em todos os continentes.

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