Foto de período equivalente ao da crônica abaixo |
(José Pedro Araújo)
Lá
pelos idos de 1966, me deparei pela primeira vez com a tua magnifica visão. Foi
paixão à primeira vista, amor eterno. Fiquei extasiado com a beleza retilínea das
tuas ruas; com a simplicidade agradável das tuas arborizadas praças, e com o
sentimento de compenetração dos teus felizes habitantes. Naquela época, meus
olhos jovens encantaram-se com o frescor da tua mocidade, e meus ouvidos se
apaixonaram pelo som alegre que brotava do interior das tuas moradas. Foi pura
emoção, primeiro encontro entre amantes. Paixão eterna e indissolúvel, como
alguém que se encanta em sua primeira olhadela ao mar.
Naqueles dias, o mundo se
encantava também com um grupo de jovens nascidos em Liverpool, na Inglaterra,
que cantava palavras de ordens incitando a juventude a quebrar as velhas regras
e a criar um mundo em que só existisse a paz e o amor.
Aqui, como em todos os
cantos do planeta, teus jovens cabeludos também lançavam fora suas roupas
sisudas e incolores e vestiam-se com outras em cores vivas e berrantes, como a
avisar para a humanidade que não aceitavam mais a velha ordem estabelecida, e
que se insurgiam contra o arcaico sistema patriarcal. E olha que já estávamos
no terceiro ano de um governo militar que instalava uma linha duríssima,
fechando as fronteiras do país a toda e qualquer novidade que pregasse a
insubordinação e a adoção de uma nova ordem onde o cidadão fosse de fato o dono
do seu nariz.
Mas eu, não estava nem ai
para as questões políticas, de endurecimento do sistema ou de cassação dos
direitos mais comezinhos do ser humano, que é a sua liberdade de ir e vir, e de
falar o que sente; dizer o que estava doendo em meu peito de ave de arribação
não estava entre as minhas prioridades. Antes, continuava embevecido com o teu
desabrochar primaveril, com a elegância de teu caminhar em direção ao futuro de
metrópole sem perder o ar de vila interiorana.
Preocupava-me em caminhar pelas tuas ensolaradas ruas; em contemplar as
cores dos teus jardins em flor; embriagava-me
de felicidade ante as coloridas bancas de revista, mais interessado nos
gibis do Zorro do que nas dirigidas noticias dos jornais engarrotados.
De lá para cá já se vão quarenta
e sete anos e eu continuo cada vez mais apaixonado pelo verde do manto de
folhagem que te cobre inteira, e pelo azul metálico do véu que cobre o teu céu.
Continuo me emocionando com as manhãs douradas de maio, com o vento geral que
varre a tua planície de sonhos para depois subir cantante pelos teus morros de
esperança. Regozijo-me à vista de aves que como eu escolheram esta cidade para
fazer a sua morada definitiva, seu lugar de descanso e de labor, em busca de
serena sobrevivência.
Ainda estou por aqui porque
te escolhi como minha ilha de Utopia, e porque me destes acolhida como o bom
estalajadeiro aceita o viajante cansado que procura abrigo para fugir do sol
inclemente ou dos perigos da noite escura. Já não és mais a cidadezinha com ares
provinciano e compenetração de megalópole que eu conheci. Cresceste
verticalmente, e extensas ruas e avenidas foram incorporadas ao teu seio de mãe
dadivosa, mas continuas faceira e gentil, acenando convidativa para tantos
quantos têm a felicidade de contemplar a tua face de menina assanhada.
Por conta disto, continua
chegando gente de outras plagas que procuram matar a sede bebendo das tuas
águas cristalinas, e aplaca a fome comendo das delícias da tua mesa farta. E
tu as aceita sem resmungos, sem cara feia, dividindo as tuas riquezas e somando
mais um filho, a quem cobres de proteção.
Se alguns te criticam por
querer ser a eterna menina cantada pelos poetas e trovadores, pelos poderes a
mim conferidos pela felicidade de morar no teu regaço, eu te declaro a
mãe-menina de todos nós.
Como todo filho, sou também
egoísta, e me esqueci de homenagear-te no dia consagrado às mães. Mas agora
me penitencio pelo erro cometido declarando-te todo o meu amor e respeito:
Parabéns, Teresina!
Dia inspirado. Jorrou uma maravilha de sentimentos para com a nossa Teresina. Parabéns e obrigado pela parte que me cabe como filho desta mãe menina.
ResponderExcluirPrezado amigo, tenho por esta cidade que me acolheu tão maternalmente, um sentimento de profundo respeito e cumplicidade. Imagino vocês, nascidos naquela Teresina ainda bem interiorana, pacata. Devem sentir saudades!
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