segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

No Caminho de Volta pra Casa Niguém se Perde

Foto extraída do Blog do André Jardim



José Pedro Araújo
Vivi menos de quinze anos na minha terra, na minha querência, dos mais sessenta que tenho hoje. No mais, minha convivência com o velho Curador tem sido menor do que eu desejava. A necessidade de batalhar pelo pão de cada dia me levou para longe da singeleza que tanto aprecio, lugar em que vi a claridade do sol brilhar pela primeira vez.

Todavia, mesmo para passar fugazes momentos, começo a sentir aquele friozinho gostoso na barriga desde o dia anterior ao da partida. Aliás, preciso fazer um parêntese aqui para justificar porque uso tão frequentemente o nome Curador no mais das vezes em que me refiro à terrinha. Querem mesmo saber? Porque tem maior sonoridade, é mais palatável, deixa sabor na língua, gosto e som do passado. Acho-o mais poético até. Sinceramente, experimentem falar Presidente Dutra ao se referirem à terra querida. Depois, empreguem o termo Curador. Sou de Presidente Dutra. Sou do Curador. Gosto mais da segunda frase. Entretanto, não discuto com quem ache o contrário. Trata-se, apenas e tão somente, de um jeito de ver as coisas, de sentir gosto ao pronunciar o topônimo das duas maneiras. Já quanto ao gentílico, tenho dúvidas se presidutrense não é mais gostoso de pronunciar do que curadoense. Mas, voltemos à estrada que trafegávamos antes de investir por este atalho.

Falei que já sinto um friozinho leve na barriga ao se aproximar o dia da minha viagem à minha querência. Esse sentimento aumenta à medida que ultrapasso os chapadões de Caxias e começo a ver os coqueirais de Codó, ali bem antes do Dezessete. Notem que estou trafegando pela estrada habitual e de melhor condição, a BR-316. Em Peritoró então, já me sinto em casa. Pouco mais de uma hora depois já avisto a torre da matriz de São Sebastião, ai então o friozinho se transforma em pura adrenalina. A alegria de voltar para casa me faz entrar em profundo êxtase, em um estado de felicidade total.

Certo pensador inglês, George Moore, cunhou a seguinte frase: Um homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo que precisa e volta a casa para encontrá-lo. É como me sinto ao voltar para casa. Tal alegria só encontro lá. Caminhar pelas ruas da cidade é como reviver um passado que sempre teima em voltar à memória. Sinto-me andando pela minha casa de morada. Não preciso da claridade para andar firme e seguro pelas ruas por onde sempre andei, corri, tropecei e aprendi a me erguer a cada tombo.

Estar com os meus, abraçar a minha mãe e os meus irmãos e amigos, é um aditivo a mais nesse alegre exercício de voltar no tempo. Claro, a falta que meu pai me faz, não pode ser substituída por nenhum outro sentimento. Do mesmo modo, sinto a falta daqueles parentes e amigos que já nos deixaram. Consolo-me ao adentrar em  alguma das casas onde moraram. Requer forças redobradas para impedir que as lágrimas me toldem os olhos. Somos recompensados com a imagem dessas pessoas nas fotografias pregadas nas paredes ou postadas sobre os móveis na sala. Sei que eles ainda estão ali, em espírito, mas, estão e sempre estarão de qualquer modo.

Tenho procurado, nos últimos anos, conviver diariamente com as coisas do meu querido torrão, através das pesquisas. Tudo o que aconteceu no passado me interessa. Quero reviver os acontecimentos que nortearam a nossa caminhada para recontar a todos que se interessam pela história de um povo que precisou superar todos os tipos de dificuldades para tornar aquela região deserta e insalubre em um lugar bom para se viver. Deste modo, todos os dias estou em contato com o meu passado. O presente também me interessa sobremaneira. E as novas tecnologias tem facilitado isso. A internet e o telefone são instrumentos que me ligam diariamente ao meu velho e querido Curador. As tristezas e as alegrias são vividas quase em tempo real. Portanto, estou sempre retornando ao meu pedaço de chão.

Como agora quando tento passar para o papel o presente texto.  


3 comentários:

  1. "...ama com fé e orgulho a terra em que nascestes...."

    É isto aí meu ilustre amigo, amar a terra natal é um dos predicados que só brotam e prosperam em homens com sensibilidade e caráter.

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  2. "...ama com fé e orgulho a terra em que nascestes...."

    É isto aí meu ilustre amigo, amar a terra natal é um dos predicados que só brotam e prosperam em homens com sensibilidade e caráter.

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    1. Obrigado, meu amigo e incentivador. À medida que a senectude vai se apossando de mim, mais sinto saudades do meu cantinho perdido no sertão conhecido no passado como Japão. O termo definia um lugar longínquo e de difícil acesso.

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