sexta-feira, 22 de julho de 2016

O Caçador de Pipas

Foto Arq. Google




José Pedro Araújo
Já falei, em alguma das minhas crônicas anteriores, que sou louco por pipa, ou papagaio, no dizer dos maranhenses da região central deste imenso e belo estado. Tão louco, que até bem pouco tempo, já homem barbado, sonhava empinando um Suru de cores brilhantes sob o céu azul de maio. Mas a minha loucura foi mais além: tentei passar para os meus filhos o gosto pela arte pipeira, porém, o sucesso foi apenas parcial. Apenas o filho do meio ainda se anima com os papagaios e, quando o inverno se vai e chegam os ventos, compra um ou outro em uma esquina qualquer da cidade, onde alguns abnegados tentam ganhar alguns trocados comercializando este instigante produto lúdico.
A propósito disto, num sábado desses, estava eu curtindo minha preguiça, estirado em uma rede na sala de estar de minha casa, quando meu filho chegou com um papagaio novinho em folha e me convidou para empiná-lo. Saltei da rede de pronto, espantei a preguiça para longe, e o acompanhei até a esquina mais próxima. É claro que empinar papagaio não é mais a mesma coisa. Os fios elétricos estão por toda parte atrapalhando o voo livre dos artefatos voadores, para desgosto da criançada. Mas, o primeiro problema foi decidir com meu filho quem iria empinar a pandorga e quem deveria segurar o bicho no alto para facilitar a decolagem.  
Problema resolvido, coube-me a tarefa menos nobre de ser o co-piloto, ou seja, o coadjuvante na empreitada de fazer o bicho subir aos ares. Estava iniciada a brincadeira. Um pouco destreinado, meu filho demorou um pouco a livrar a pipa dos fios e da copa das árvores. Parece ser assim como andar de bicicleta. Perde-se a habilidade, mas não o jeito. E assim, o nosso brinquedo subiu aos ares, não sem antes resolvermos um pequeno problema de equilíbrio, já que o bicho teimava em querer rodar. Já viu se tivéssemos que colocar um rabo nele! Seria desmoralizante para alguém que se arvora de ser um grande expert no assunto.  
Passado algum tempo, aproveitando a sombra de uma árvore, imaginei que a brincadeira poderia se tornar mais agradável: corri até a minha casa e apanhei na geladeira uma cerveja véu-de-noiva, coloquei-a em um isopor e voltei para debaixo da árvore. Dava umas lanciadas no papagaio e, após instantes de pura veneração, voltava para tomar outro gole da minha gelada. Descobri a pólvora: a combinação empinar papagaio/tomar uma cervejinha estupidamente gelada, em um dia de folga, é uma das coisas mais relaxantes que eu conheço. Pura delícia.  
Mas, justificando o título acima, volto a afirmar que fui um dos maiores caçadores de pipa no Curador. Quem já brincou de empinar papagaio sabe que existe uma regra imutável na função: “Artigo Único: se a linha do teu papagaio se romper, ou mesmo, se alguém a cortar, quem conseguir apanhá-lo será o seu novo dono”.
Pelo que parece, funciona assim em todo o mundo. Quem já leu o best seller O Caçador de Pipas, sabe do que eu estou falando. Um dos pontos altos da trama desenvolvida pelo autor é sobre a habilidade do menino Hassan em caçar as pipas que tinham suas linhas cortadas. Da mesma forma, quando criança, consegui me apropriar de muitas pipas que caiam na região da lagoa do Curador. Como os ventos sempre sopram de sul para norte, ou seja, da praça da igreja para a praça da bomba, os papagaios empinados no largo do mercado e região, sempre eram levados pelo vento e caíam nas imediações da lagoa, quando tinham suas linhas quebradas. E eu, sabedor disto, ficava a olhar para o céu procurando alguma pipa perdida. Depois, era correr para o local onde sabia que elas sempre caíam e, depois de muito custo, pois elas sempre se embaraçavam nas árvores, apanhá-las e sair mostrando o troféu.
Na verdade, meu interesse maior era pela linha que ela carregava, cujo preço era muito alto para os meus padrões. Tanto fazia ser linha zero ou linha oito, a torcida era para ter o maior tamanho possível. Bons tempos aqueles, quando o céu ficava coalhado de papagaios coloridos e seus besouros roncadores. São lembranças como esta que me levam ao meu tempo de criança, época em que as responsabilidades se restringiam a estar em casa na hora das refeições e tomar banho nos finais de tarde.  
Deitar nas calçadas, com o olhar fixo no céu azul, vendo lá no alto uma pipa brincalhona fazendo travessuras, era um programa que me deixava muito feliz.  
As crianças de hoje quase não brincam mais com elas. Elas passam as horas de recreio deitadas em algum sofá, sem exercitar os músculos. E por esta razão, mostram-se, a maioria, obesas e entediadas. Se me propusesse, algum dia, dirigir os destinos de uma cidade, por menor que ela fosse, criaria a praça dos papagaios, um espaço bem amplo onde a criançada pudesse por em prática suas habilidades aeronáuticas. Naquele espaço, seriam proibidas as concentrações políticas ou religiosas. Não se permitira também a montagem de barracas ou quiosques para comercializar outro produto, que não o material para a confecção de papagaios ou gostosos lanches, a ser devorado nos intervalos entre o empinar de um Suru e outro.
A propósito do título acima, um dos meus irmãos, tão aficionado como eu pelos papagaios, me lembrou que o menino Hassan da história de Khaled Housseni, sofreu violência nas mãos de uns meninos maus quando apanhava um papagaio perdido. Esta, aliás, foi uma das passagens mais tristes da bela história. Menos mau que por aqui não existia gente de tão má índole. Tirando alguns arranhões e/ou ferroadas de insetos, nada de mal nos acontecia.
o por toda a parte, atrapalhando o veclamaçnha casa, quando meu filho chegou com um papagaio novinho em folha e me convidou par  

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