Cel. Sebastião Gomes (Acervo família) |
José Pedro Araújo
A história do
município de Presidente Dutra está associada à da família Gomes de Gouvêia
desde os seus primórdios, é o que podemos inferir das pesquisas realizadas. Ou
mais precisamente, desde quando o Curador não passava de uma vila inexpressiva,
escondida no mais profundo da região central do Maranhão. A primeira referência
que encontramos sobre a família, data de antes de 1920, quando o Coronel
Sebastião Gomes, oriundo do município de Carolina, cidade situada às margens do
Tocantins, detentor de patente conferida pela Guarda Nacional, foi chamado pela
população do Curador para lhe dar proteção contra desmandos ali praticados por
Manoel Bernardino e por sua tropa paramilitar. A história do revolucionário
Bernardino está registrada no meu livro intitulado “Do Curador a Presidente Dutra – história, personalidades e fatos”. Adianto
apenas que Manoel Bernardino de Oliveira partira naquele dia do povoado Mata do
Nascimento para ocupar a Vila de Curador, juntamente com um exército de homens
armados. O coronel Sebastião Gomes, ainda residente em sua fazenda no lugar
conhecido como Graça de Deus, hoje município de Tuntum, acorreu ao chamado da
população alarmada do Curador, mas não mais encontrou os tais revoltosos, que
já haviam retornado à sua base de operações.
Pelas
informações que temos, Sebastião Gomes era a autoridade maior na região, e foi
esta uma das razões que o levaram a ser nomeado Subdelegado de Polícia pelo
líder político barra-cordense Frederico Filgueira, de quem era grande amigo e
aliado. Em vista da atuação de Bernardino, foi Sebastião Gomes nomeado chefe
das tropas que dariam combate ao revoltoso. Com ele veio também o Delegado
Geral, Dr. Costa Gomes, que ocupava cargo que equivale ao de Secretário de
Segurança nos dias de hoje. O Coronel Sebastião Gomes também foi recebedor de
um montante em dinheiro de 2.633.850,00 (dois contos de réis, seiscentos e
trinta e três mil, oitocentos e cinquenta réis), dinheiro que seria utilizado para
adquirir suprimentos para abastecer as tropas. O caso do movimento armado na
região, bem como os assassinatos cometidos pela polícia do Capitão Henrique Dias
na Mata do Nascimento, passou a ser chamado pela imprensa da capital de Crimes
da Matta. É uma página sangrenta que já parte da história oral e escrita da
região.
Exemplificando
o açodamento político que já tomava conta da região naqueles tempos inóspitos,
dependendo do jornal que a noticiava, era o Coronel Sebastião elevado à condição
de herói, ou de malfeitor. Os dois jornais mais importantes em circulação na
capital, que se encarregavam de promover esse antagonismo, era o Diário de São
Luís, governista, e O Combate, duro diário oposicionista.
Mesmo passados
os anos, o Coronel Sebastião Gomes sempre esteve envolvido diretamente com os
acontecimentos políticos mais importantes do Curador, desempenhando papel de
prócer maior, ora como representante do governo, ora como líder da oposição. Aproveitamos
estes fatos para passar um recado aos que querem reescrever a história partindo
única e exclusivamente do que noticiavam os tabloides da época. No caso
especifico do Coronel Sebastião Gomes de Gouvêia, que nos interessa em
particular, o mesmo jornal O Combate, que o atacava seguidamente em 1921,
lançando sobre ele palavras duras e pejorativas, durante a campanha de 1950 estampava
o seguinte título de capa: “Na Realidade o Coronel Sebastião Gomes nunca esteve
com o situacionismo”. E escrevia loas e boas sobre as qualidades morais e
políticas do velho político curadoense. O próprio coronel não deixava dúvidas
sobre suas opções políticas. Em 1945, por exemplo, o velho líder se encarregaria
de deixar claro de que lado ele estava. Em nota publicada no jornal o Combate,
ele se expressou assim: “Declaro que, em
virtude do senhor Vitorino Freire fazer parte da chapa para deputados do PSD,
venho, na qualidade de presidente do subdiretório do mesmo partido no Curador,
declarar que retiro o meu apoio ao mesmo partido, por considerar o referido cidadão
o maior dos meus inimigos. Declaro, outrossim, que desta data em diante
passarei a fazer parte dos Partidos Coligados, isto é, Partido Republicano e
União Democrática Nacional. São Luís, 31 de outubro de 1945. Ass. Sebastião
Gomes de Gouvêia”.
Era um homem
corajoso. É o mínimo que se pode afirmar. Pouquíssimas pessoas teriam peito
para enfrentar o velho cacique Vitorino Freire deste modo. Enquanto isso, do
outro lado, no jornal que lhe era favorável anteriormente, a história agora era
bem diferente. Dizia-se que o velho político não tinha mais forças, que a
liderança agora estava com o seu filho Honorato. Isso e outras coisas mais.
Deste modo, precisamos nos acautelar, pois dos jornais engajados a facções
políticas, devemos filtrar os acontecimentos com discernimento e cuidados
extremos, não como verdade absoluta, portanto.
Cap. Honorato Gomes(Acervo família) |
Por esse tempo,
de fato, já pontificava politicamente na região do Curador seu filho Honorato
Gomes de Gouvêia, e com ele os irmãos, Nereu e Orfileno. O Capitão Honorato,
indubitavelmente, foi uma das maiores lideranças políticas do Curador e deixou descendência
política que pontifica politicamente no município até os dias de hoje. Portanto,
com a velhice do pai, foi ele, Honorato, quem passou a comandar a facção dos
Gomes de Gouvêia no Curador. E na primeira eleição municipal de 25.12.1947,
disputou, e ganhou, uma vaga de vereador, cerrando fileira ao lado dos Léda. Atestando
a sua liderança, foi escolhido como o primeiro presidente do legislativo
municipal.
Nas eleições
seguintes, com pretensões de ser o candidato do grupo do prefeito, de quem era
aliado histórico, teve o seu nome preterido. E por isso mesmo, lançou-se
candidato a prefeito no pleito de outubro de 1950 pelas oposições. Foi
derrotado nessas eleições pelo candidato apoiado pelos Léda, José de Freitas
Barros, que tinha o comerciante Gerson Sereno como vice. Mesmo assim, o grupo
de Honorato fez uma bancada numerosa na câmara municipal, e passou a fazer uma
oposição dura e sistemática ao prefeito empossado. Tão dura que o eleito, pouco
afeito aos embates políticos, vez que era verdadeiramente um comerciante,
renunciou ao seu mandato antes de completar seis meses no cargo.
Começava ali renhida
luta pelo poder. Mais dura e sangrenta. O vice-prefeito, Gerson Sereno, sobre
quem já falamos em crônica anterior, negou-se a assinar também a sua renúncia,
preferindo não abrir mão de um direito adquirido nas urnas. O que que se seguiu
é do conhecimento de todos. Presidente Dutra passou por momentos de pura
insegurança, e alimentou os jornais da capital com notícias horripilantes sobre
os acontecimentos daqueles anos. A violência, a insegurança e o desrespeito aos
mais comezinhos preceitos constitucionais prosseguia na região, e ainda passaria
muito tempo até que a ordem fosse estabelecida de vez.
Honorato
continuou militando politicamente na região, mas somente no pleito realizado em
03 de outubro de 1960, seria eleito prefeito do município de Presidente Dutra,
tendo como companheiro de chapa, o Sr. Valeriano Américo de Oliveira, sobre
quem já falamos em crônica anterior. Valeriano assumiu o mandato de
vice-prefeito pela segunda e consecutiva vez. Agora, junto ao candidato das
oposições, e contra os Léda. Honorato, já em fase idosa, logo se descobriu com
um câncer que o debilitaria muito e o impediria de fazer uma administração mais
efetiva. Mas ainda teve forças para ajudar a eleger o primeiro representante
presidutrense a assembleia legislativa do Maranhão, o deputado estadual Ariston
Costa.
Durante o seu mandato teve inicio o regime
militar de 1964, e com ele grandes mudanças ocorreram no país. O capitão
Honorato Gomes ainda viu ser assassinado o seu deputado Ariston, e ele próprio
veio a falecer durante o seu mandato, fatídico acontecimento ocorrido no dia
15.06.1965. Seu vice, Valeriano, abriu mão de assumir ao cargo de prefeito para
não perder a oportunidade de um mandato completo. E por isso coube ao Sr.
Raimundo Lopes de Sousa, o Dico da Serra, então presidente da câmara municipal,
assumir os destinos do município.
O quadro
político local sempre contou com alguém ligado à família Gomes de Gouvêia até
os dias de hoje. Um parente próximo, Nacôr Gomes, foi eleito em dois mandatos
consecutivos à câmara municipal, para a 2ª e 3ª legislaturas. Orfileno Gomes de
Gouvêia, irmão de Honorato, para a 5ª legislatura, mas faleceu em pleno mandato.
Eduardo Gomes, filho de Honorato, foi eleito vereador para a 10ª legislatura. Mais
recentemente um neto de Honorato voltou à terrinha para trabalhar como médico e
logo retomou o projeto político dos Gomes de Gouvêia, do ponto em que foi
interrompido. Refiro-me ao Dr. Orlando Pinto, atual vice-prefeito do município,
esposo da vereadora eleita para 16ª legislatura, Karita Gomes. Ela também uma
neta do velho e aguerrido Honorato Gomes de Gouvêia. Os dois são bisnetos de
Sebastião Gomes de Gouvêia, chefe do clã em terras do velho e querido
Curador.
O coronel
Sebastião Gomes ao mudar para o Curador situou a fazenda Fortaleza, onde passou
a residir. O Capitão Honorato, dono de muitas terras, organizou a Fazenda Santa
Maria, situada bem próxima à sede do município, e lá residia. As terras da
Santa Maria foram divididas entre os herdeiros, ficando a sede com o filho
Eduardo, já falecido. Mas a sua viúva, Lídia Morais Gomes, ainda reside na
vetusta casa dos Gomes de Gouvêia. Quando ao herdeiro político, Orlando Pinto,
situou-se em uma bela morada também dentro das terras da antiga fazenda. É lá
que ele recebe seus correligionários para planejar as futuras ações políticas.
Sobre Manoel Bernardino, que era comunista, espírita e vegetariano cabe lembrar que este foi quem abriu a estrada que liga hoje Dom Pedro a Presidente Dutra em 1915.
ResponderExcluirChamar seus 'amigos' de tropa paramilitar é um exagero, não passava de 15 pessoas.
Chamar-los de arruaceiros outro grande anacronismo.
Se hoje as pessoas que lutam por justiça não são vista com bons olhos, imaginemos como devia ser há mais de 90 anos.
Relve Marcos
Caro Relve,
ExcluirObrigado pelo acesso ao blog no qual tentamos resgatar a história perdida da região do Curador e adjacências.Não sei de onde vc tirou a informação de que o revolucionário Manoel Bernardino de Oliveira adentrou a vila do Curador com "apenas" 15 homens. Como não existe registro documental de tal episódio, baseei-me em depoimentos de pessoas(3 pelo menos) que já habitavam na dita vila naquela época. Por outro lado,certos cronistas que faziam parte da Coluna Prestes afirmam que Bernardino juntou o maior contingente de homens armados em todo o trajeto feito por ela ao longo dos mais de 20.000 quilômetros pelo interior do país.Todos eles fardados e armados com rifles Winchester. Isso é mais do que um batalhão,você há de convir. Deste modo, não acho que tenha exagerado ao chamar o grupo de Bernardino de tropa, se pensarmos na sua capacidade de arregimentar combatentes. Por fim, não os chamei de arruaceiros, como também não os brindei com o título de herói.
Gostaria que me fornecesse as fontes sobre essa questão do contingente de Bernardino.
ExcluirPois li os jornais e o depoimento do dito cujo na época e os relatos são de poucas pessoas.
Além do mais causa muita estranheza o fato de tão bem armado "batalhão" não ter resistido as investidas do capitão Henrique Dias que chacinou os três moradores da Mata sem maiores consequências.
Att.
Relve Marcos
Vejo que você é interessado por história, especialmente história regional, muito pouco difundida entre nós. Mas, respondendo à sua indagação, afianço-te que a historiografia, especialmente a que trata de assuntos regionais, ou localizados, como é o caso da do nosso Bernardino, é bastante vasta, não na quantidade e qualidade que deveria, mas muito melhor do que jamais foi.No caso específico do A. Bernardino,encontramos no livro do jornalista Lourenço Moreira Lima, intitulado Coluna Prestes, Marchas e Combates, muitas referências sobre ele. Lourenço foi exatamente o Secretário e relator da marcha, uma das fontes mais insuspeitas, e por isso mesmo consultadas pelos historiadores sobre a Coluna. Mas não somente ele. Nelson Werneck Sodré, grande historiador brasileiro, autor de importantes obras sobre os principais movimentos militares ocorridos no país,militar com um viés de esquerda, e por isso mesmo caçado pela revolução de 64, autor muito consultado, foi o autor da informação que te passei: "Antonio Bernardino juntou-se à Coluna em Picos(Colinas), com cerca de 200 homens armados. foi o maior contingente de homens liderados por um único indivíduo que se juntou à Coluna nos 25.000 km que a marcha empreendeu pelo país". Bernardino foi um dos subcomandantes da coluna, e isso atesta o seu poderio bélico e a sua liderança. A historiografia piauiense também é farta em informações sobre a passagem da Coluna pelo estado, e traz muitas informações sobre Bernardino.Galeno Edgar Brandes, no seu livro Barra do Corda na História do Maranhão,transcreve, inclusive alguns bilhetes encontrados com lideres oposicionistas presos, e que apoiavam a coluna no estado, e afirma que Barra do Corda e região teve as suas vias de acesso cortadas por Bernardino e seus homens, e esteve ameaçada de invasão, tudo isso na tentativa de soltarem dois importantes membros da coluna aprisionados na cidade. Codó, e a própria capital, também sofreram ameaças de invasão. Bernardino não era uma andorinha só, posso de afiançar. Mas não sei também se era tudo o que dizia ele próprio ser. As informações são muitas, e não cabem aqui neste espaço, contudo. Grato pelo interesse.
Excluir*Cassado.
ExcluirUma bela história!😞 Mas me resguardo em falar algo dos primórdios deste clã. Uma vez q faltou diálogo com meus antepassados.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLinda história da família 👪 gomes
ResponderExcluirOlá! Achei a história sobre os Gomes de Gouveia muito interessante. Pude conhecer um pouco mais sobre minha família, meu pai é primo em segundo grau do Sr. Honorato Gomes de Gouveia. Somos de Balsas, sul do Maranhão. Meu bisavô, Pedro Gomes de Gouveia é irmão do Sr. Sebastião Gomes de Gouveia, que migrou de Carolina para Presidente Dutra enquanto meu bisavô Pedro Gomes migrou para Balsas. Meu pai, Pedro Gomes de Gouveia Neto, conhece muito da história da família, mas agora estamos conhecendo bem mais graças ao seu blog. Muito obrigada
ResponderExcluirTambém sou dessa numerosa família, sou neta do José Gomes Goveia. Não os conheci. A Tia Tivi, esposa do tio Hanorato Gomes. Gosto muito de saber as origens da minha família.
ExcluirMeu neto é dos Gomes da parte de pai ele é Neto da Maria onilde Gomes filha do Honorato Gomes
ExcluirIrani, desculpe-me por não ter agradecido o seu comentário que muito me alegrou, por poder escrever um pouco sobre as famílias que tiveram grande influência política na região centro-sul do nosso estado. Grato pelas suas palavras!
ResponderExcluirOlá bom dia. Sou tataraneto de Sebastião Gomes de Gouvêia e bisneto de Nazi Gomes e João Paulo. Atualmente resido em Goiânia e sou neto de Pedro Paulo Gomes da Silva e filho de João Paulo Alves da Silva. Sou natural de Estreito-MA. Gostaria muito de ter exemplar de seu livro e tudo mais que possa me informar sobre a história de minha família.
ResponderExcluirDesde já, muito obrigado.
Aguardo retorno.
Email. Marcus.mp7@gmail.com
Como eu falei acima, também sou da família Gomes Goveia. Sou bisneta do Sebastião Gomes, neta do José Gomes e filha do Raimundo Cardoso Gomes. Gostaria muito de saber mais sobre meu avó José Gomes Goveia. Se não me engano, mataram ele. Não tenho certeza.
ExcluirSebastião Gomes de Gouveia, nasceu em 1875. Até 1910, era proprietário da Canafístula, dos Paca, no município de Tuntum e, que era transpassada pela antiga estrada carroçal Curador - Tuntum. Neste,era dono também das terras Lagoa D'Anta.
ResponderExcluir"O coronel Sebastião Gomes, ainda residente em sua fazenda no lugar conhecido como Graça de Deus, hoje município de Tuntum (...)".
ResponderExcluirO nobre escritor, poderia informar onde se localizava antigamente a Fazenda Graça de Deus? Corresponde a algum povoado atualmente? Se corresponde, qual?
Jean Carlos Gonçalves.
Ele era da minha cidade Carolina Má.Vocē sabe o nome do pai dele? O meu bisavô era conhecido como tenente coronel Emiliano Gomes de Gouveia. Não temos informações de quem é filho, ele morava com a família na fazenda Sítio Novo, Município de Carolina-Ma.
ResponderExcluirsabe se Job de Gomes de Gouveia era da sua familia?
ExcluirMeu neto é dos Gomes ele é dos Gomes da parte do pai dele ele é Neto da Maria onilde Gomes filha do Honorato Gomes
ResponderExcluirMeu Avô era daquela região do Maranhão, se chamava Vicente Gomes de Gouveia (1897 a 1989), o pai dele era irmão do Sebastião Gomes de Gouveia, meu pai o saudoso Valdemar Gomes contava muito essas histórias dos Gomes de Gouveia.
ResponderExcluirMeu é Vicente de Aguiar Gomes.
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