Interventor do Curador, Antenor Dias de Carvalho |
José Pedro Araújo
A história do meu Curador está
intimamente ligada a mim, à minha vida, mesmo estando distante do local onde
abri os olhos pela primeira vez para a luz da vida, por isso vivo imerso em suas
lembranças. Por isso também, resgato tantos fatos lá acontecidos e, depois, os publico
aqui nesse espaço. Agora mesmo, passando em revista um trabalho ficcional que
pretendo publicar proximamente, veio-me à mente uma parte importante da sua
história, aquela que diz respeito às primeiras eleições ocorridas após a sua
emancipação política.
Não tenho em mãos registros sobre
o que digo nesse parágrafo, mas acredito, pelo tanto que as paixões elevaram a
temperatura política no novo município, que as disputas pelo poder no velho
Curador antecedem em muito ao período da sua transformação em município. Os
primeiros registros existentes nos dão conta do poderio de uma única família,
os Gomes de Gouvêia, e até mesmos dos Leda, ligados a esses últimos, mas não há
qualquer ocorrência sobre disputas travadas por opositores políticos na época da
Vila do Curador. Registros de 1921 já apontavam o coronel Sebastião Gomes como
subdelegado do distrito, no governo Urbano Santos. Entretanto, todas as
pendengas políticas registradas tiveram início após a criação do novo município
em 1943. É bem verdade que havia uma grande alternância na nomeação do
subdelegado de polícia nomeado para a vila, ocasião em que o Coronel Sebastião Gomes
era substituído no cargo pelo senhor Virgolino Cirilo de Sousa, para, pouco
tempo depois, retornar para aquele mesmo posto. Isso talvez ateste que já havia
um princípio de embate entre dois grupos pela hegemonia política local, mas não
existem anotações, nem mesmo registros na imprensa da capital falando
explicitamente sobre isso, e muito menos na memória oral dos velhos habitantes.
Pelo menos nunca conseguiu levantar isso na sua inteireza.
Por outro lado, o Curador já era
assunto que, vez por outra, ocupava a capa de um jornal na capital, mas por
outras razões: a política estadual. Por volta de 1921, por exemplo, quando o
caso Manoel Bernardino de Oliveira ganhou as manchetes dos jornais da capital –
posicionando-se uns contra, e outros a favor -, o velho Curador já aparecia
como um lugar violento, em que tudo era resolvido sob a égide dos trabucos e
das balas. Nesse período, o longevo coronel Sebastião Gomes já ditava as regras
como já tive a oportunidade de aqui mesmo neste espaço relatar. Era o coronel
contra os “revoltosos”, como se dizia na época. Mas, o que estava em jogo era
uma luta surda e violenta pelo poderio político do Estado do Maranhão. E o
Curador se achava no centro dos episódios mais violentos, uma vez que a base
política de Bernardino, representante dos oposicionistas da capital no alto sertão,
era o vizinho povoado da Mata do Nascimento.
Portanto, embate político mesmo,
com duas alas em constante disputa pelo poderio local, ocorreu quando houve a
decretação da maioridade política do Curador, através do Decreto-Lei 820, de 30
de dezembro de 1943. Como era praxe, nomeava-se um interventor para dirigir os
destinos do novo município, que normalmente vinha a ser uma autoridade estadual
lotada na região e, via de regra, um coletor, figura onipresente em todas as
povoações maiores. E isso se dava até a nomeação de um político, ou indicado
político de algum grupo hegemônico com maior poder na capital.
Assim aconteceu no Curador. O
primeiro interventor nomeado para dirigir os destinos do novo município foi o
coletor de tributos estaduais, José Lúcio Bandeira de Melo. Com larga
experiência administrativa adquirida ao tempo em que dirigira os destinos
políticos de Itapecuru Mirim, como prefeito, município que administrou no
quadriênio 1926 a 1930, achava-se ele no local certo, e no momento certo, escrevendo
o seu nome na história de Presidente Dutra. José Lúcio, que deveria permanecer
pouco tempo no cargo, demoraria nove longos meses na função. Muito tempo, se
cogitarmos que fora nomeado apenas temporariamente para o cargo. Mas as
disputas pela indicação do novo interventor devem ter sido travadas com todos
os requintes de uma campanha eleitoral, pois o nome do escolhido demorou mais
tempo do que o programado. Todos queriam um administrador à frente do novo
município, lutando pela eleição do seu candidato. Mas, afinal, venceu o grupo
encabeçado pela família Leda em conjunto com os Gomes de Gouvêia.
O escolhido para ocupar a função
foi o Major Valdemir Bezerra Falcão, já em avançada idade, mas com experiência
administrativa, por já ter sido presidente do Conselho de Intendência do
município sede, Barra do Corda. As disputas continuaram na capital, de modo
que, poucos meses depois, era nomeado Nelson Sereno para o lugar de Valdemir
Falcão. Havia se passado apenas cinco meses da sua nomeação. Ganhava a disputa
o grupo de Virgolino Cirilo de Sousa. Mas a vitória seria efêmera. Pouco mais de
dois meses depois voltava o Major Valdemir Falcão ao cargo de interventor. Aqueles
que acham que acabou ali a disputa ferrenha pelo poder de mando no Curador, aguardem
um pouco mais. O grupo ao qual Nelson Sereno pertencia, não satisfeito com a
sua saída da interventoria, voltou à carga e conseguiu que ele voltasse ao poder,
pouco tempo depois, numa reviravolta que somente atestava o embate político que
era travado.
Mas as disputas não ficavam
somente na substituição de um dirigente por outro, gerava violência,
desassossego, extrapolava as raias da política partidária, do embate limpo e
direto pelo voto. Essa parte, talvez um dia eu escreva sobre ela.
Nelson Sereno voltou ao cargo,
mas a insegurança para as eleições que se avizinhavam permaneceu a mesma,
forçando o Interventor Saturnino Belo a reunir, em São Luís, os representantes
da situação e da oposição para um conversa reservada no Palácio dos Leões, cujo
objetivo era encontrar uma saída para o problema enfrentado pelo município. Foram
à capital, além do interventor municipal, Nelson Sereno, e provavelmente outras
lideranças do seu grupo, seus adversários pelo PSD, Honorato Gomes e João Paulo
da Silva. A reunião, segundo a imprensa da época, deu-se em clima de paz e concórdia.
E dela resultou o impensável. Demonstrando grande altruísmo e preocupação com os
rumos tomados pela campanha travada para prefeito municipal, Nelson Sereno
apresentou ao interventor o seu pedido de renúncia ao cargo, em 03/12/1946,
permitindo que este nomeasse para o posto alguém da sua estrita confiança.
E assim se fez. A escolha recaiu
sobre o Tenente Coronel Antenor Dias de Carvalho, uma figura de destaque na
segurança estadual que, por aquele tempo, ocupava no governo o cargo de
Delegado da Ordem Política e Social, equivalente ao de secretário de segurança.
Antes deste desfecho, já com
vistas ao apaziguamento e ao controle do pesado clima de insegurança reinante,
havia sido nomeado para o cargo de Delegado de Polícia do Curador, o 2º Tenente
Aristeu do Rêgo Maranhão, em decreto publicado no dia 12/09/1946, portanto,
poucos dias antes da nomeação de Antenor Carvalho. O interventor Carvalho
chegou ao município assessorado por uma força militar condizente com o tamanho
do problema, e dirigiu as eleições marcadas para o dia 19/01/1947 com todo o
cuidado, pois se achava munido de uma representação que equivalia a uma carta
branca emitida pelo próprio interventor maranhense. Conduziu bem o processo,
fez-se respeitar, implantou a tranquilidade necessária ao desenvolvimento do
pleito, mas demorou-se pouco no cargo, pouco mais de um mês, apenas o tempo
necessário para a realização do pleito, logo voltando para São Luís. A sua
saída, como já vimos em crônica anterior, trouxe de volta a insegurança e a
intranquilidade política.
Abertas as urnas e procedida a
contagem dos votos, logo o velho problema voltaria a agitar o pequeno município.
O resultado do pleito foi contestado, e o candidato declarado vencedor não
conseguiu ser efetivado no exercício do primeiro mandato administrativo no
velho e problemático Curador. A história desse pleito ainda precisa ser esclarecida
em sua totalidade. Partidários dos dois candidatos concorrentes, Virgolino
Cirilo de Sousa, declarado eleito pelo juiz que conduzia o pleito, e Ariston
Arruda Leda, seu opositor, apresentam histórias diferentes para o mesmo caso. O
Juiz Porciúncula de Morais, que presidiu ao pleito, declarou
vencedor o coronel Virgolino Cirilo de Sousa. Já o TRE-MA, após contestação, conferiu a
vitória a Ariston Leda. Aos historiadores só resta aprofundar as pesquisas e
estudar o caso em sua profundidade.
As altercações políticas
continuaram no Curador após a volta do Interventor militar para São Luís,
mostrando que os problemas, na sua integralidade, nunca foram efetivamente
resolvidos. Mais que isto, durou até poucos anos atrás, mas, finalmente, é
página virada. Digo mais. As querelas políticas atuais, apesar de renhidas e
muito disputadas, ficam no campo da troca de ofensas e do próprio embate de ideias,
nunca mais foram travadas ao sabor da violência explícita. Menos mal. Em uma
democracia as armas utilizadas são os discursos convincentes, as propostas bem
elaboradas e a credibilidade dos oponentes. O resto é selvageria, atraso.
Fiquei muito feliz em ver essa máteria ,pois sou neta do Coronel Antenor Dias de Carvalho,me chamo Joseane Dias de Carvalho.
ResponderExcluirPrezada amiga, desculpe somente agora te responder, pois me perco dentre os muitos comentários que recebo. Mas, hoje vi o teu comentário e me interessei sobremaneira por ele. Gostaria, se puderes, estabelecer algum canal onde possamos trocar algumas informações sobre a história do teu avô. Seria muito importante para a história de Presidente Dutra. Aguardo resposta.
ExcluirGrato.
JPA.
Olá,meu whatsapp e 21 964641706.Aguardo resposta.
ExcluirParabéns pelo texto, nobre José Pedro!
ResponderExcluirExcelente!
Meu obrigado super atrasado, meu caro amigo.
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