Caminhões carregados de algodão em PK(Acervo Salomão Soares) |
José Pedro Araújo
Aqueles
caminhões de cores variadas e suas lameiras dependuradas na carroçaria com
provérbios engraçados me atraiam a atenção de forma exacerbada. As placas
fixadas nos para-choques indicavam a sua procedência diversa e também aguçavam
a minha curiosidade e me levavam a perguntar como seria viver naquelas cidades.
Não restavam dúvidas de que elas deveriam ser muito maiores do que o nosso
Curador, afinal, já havia visto tantos carros cujas placas denunciavam a mesma
procedência! Jaguaribe, Icó, Sobral, Cajazeiras, Patos, Caruaru, Arcoverde,
Petrolina, Campo Maior, Piracuruca, Picos, eram tantos, com nomes tão vistosos!
Os caminhões a que me refiro ficavam estacionados em frente às usinas
beneficiadoras, enquanto aguardavam o carregamento de arroz. Corria um tempo em
que este cereal era produzido em larga escala na região. Mas, deixa-me voltar
ao começo, conferir fidelidade ao nome do texto posto acima.
A
região de Presidente Dutra já foi celeiro dos mais importantes produtos de
exportação agrícola do nosso estado, especialmente o algodão e o arroz. Talvez os dois mais importantes na pauta de
exportação do Maranhão. O algodão, por exemplo, durante muitos anos, conferiu
ao estado o título de grande exportador. Por conta disto, inúmeras fábricas de
tecidos foram instaladas no seu território, especialmente em São Luís, Codó e
Caxias. E a região de Presidente Dutra se sobressaia entre os maiores
produtores desse produto. Em conversa com um dos maiores compradores do produto
no município, o empresário Salomão Soares, obtive dele a informação de que a
produção dessa pluma era tão grande na região, que um certo empresário de Codó
fazia anualmente uma carreata com os caminhões que chegavam à cidade trazendo o
tal produto, e que a fila se estendia por quilômetros de extensão. Comprovou o
que dizia com uma fotografia, depois publicada por mim no livro sobre a
história do nosso município. Nela é possível ver uma fila enorme de caminhões
carregados com o produto, quase todos originários da região de Presidente Dutra
e Tuntum.
Atestando
a importância do algodão, o município contava com muitas bolandeiras para
descaroçar e enfardar o produto. Nessa época, deu guarida a um grande número de famílias
originárias do Rio Grande do Norte, estado com grande tradição no cultivo desse
vegetal, e as assentou em terras pertencentes ao Sindicato dos Proprietários Rurais, situando-os na região da Caatinga de Porco. Parte dos seus descendentes ainda
está na região, ficaram por aqui mesmo, assentaram-se definitivamente na terra
que não contava com o fantasma da seca.
O mesmo acontecia com o arroz. Produto com larga importância na mesa do
maranhense, era produzido em quantidades alarmantes e deu sustentação a
economia local por muito tempo. E, nesse tempo, proliferavam as usinas de
beneficiamento do produto. Mas, isso ficou no passado.
O
algodão sumiu dos nossos campos, perdeu importância. Desapareceu ao ponto de, hoje, não
mais existir um único produtor conhecido na região. Quase a mesma coisa
aconteceu com o arroz. Poucas famílias ainda cultivam essa gramínea entre nós,
e mesmo essas a produzem apenas para o seu próprio consumo. Hoje, a maioria dos
nossos agricultores prefere colher na mercearia mais próxima da sua casa, o
arroz necessário para o seu dia-a-dia. O produto consumido por nós vem de
regiões tão distantes, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ou mesmo do
Tocantins. Os caminhões agora aportam por aqui para trazer o produto antes tão
presente nos nossos campos e não para adquiri-lo. Para alguns
críticos, isso se deu em função da invenção das tais bolsas gratuitas que o
governo federal distribui para a população. Ninguém quer mais rachar as costas
no cabo da enxada para produzir o seu próprio sustento, e lançam mão do
dinheiro recebido e vão direto ao comercio. Passaram de produtor a consumidor,
pura e simplesmente. Produzir arroz ou algodão, agora é coisa para empresário.
Isso
trouxe um custo social alto para a população mais carente. Se não mais
produzem, por que viver no campo? E assim migraram em massa para a cidade. Incharam
a periferia, passaram a fazer ponto nos botecos que se espalharam pelas vielas
mais pobres como a tiririca, planta invasora que atormentava a vida deles no
tempo em que precisavam derramar o suor do próprio rosto para prover o sustento
da sua família. Continuam tão pobres como antes, ou até mais. E ainda por cima
assistiram impassíveis os filhos se consumirem em noites regadas a muita
bebida, droga e prostituição. Eles haviam perdido o costume de laborar em busca
do seu próprio sustento ou não aprenderam a fazê-lo.
Hoje,
a maioria desses jovens transita pelas ruas a ermo, sem ter nada para fazer, e
alguns desandam a praticar toda a sorte de coisa ruim, tomam o que querem de
quem tem na base da violência, para poderem fazer frente ao consumismo exagerado
que aprenderam com as pessoas da cidade. Espalham a violência que, pouco
depois, os transformam em vitimas também. A maioria tem a sua vida abreviada.
Um dito popular afirma que “mente vazia é oficina do diabo”. Será que ainda
temos jeito?
Não
é saudosismo, mas precisamos voltar à vida de tempos passados, quando colhíamos
o feijão verde, o arroz, a abóbora, o tomate, a mandioca e o milho no nosso
próprio quintal. A galinha era motivo de festa no almoço de domingo, e era
servida ao molho ou assada no próprio forno “rabo quente”, criada e engordada
no terreiro e não em industriais granjas onde hoje recebem o estimulo de
venenosos hormônios para apressar o seu crescimento. Sem constar que produziam
ovos em quantidades alarmantes. Além de mais saudáveis, era muito mais saborosa,
a tal galinha caipira. Isso também era alegria, diversão, contato puro com a
natureza.
Precisamos
voltar a aprender a criar os nossos próprios meios de sobrevivência. Esse pobre
dinheiro que nos chega através dos tais programas sociais, tem tido um custo
alto para a maioria das famílias que são beneficiárias deles. Enquanto isto,
sem o menor escrúpulo, ficam eles com a parte do leão. O que deveria ser
utilizado em saúde, educação e segurança, é desviado e passa a engordar as
contas desses ladravazes que se mantêm no poder a custa do voto comprado com o
nosso próprio dinheiro. Não acuso diretamente este ou aquele partido pelos
males que nos assola e agride a família brasileira. Aponto o dedo na direção de
todos os que estão se perpetuando no poder há séculos, àqueles que se iniciaram
tão pobres quanto nós na política e que hoje estão se cevando com o dinheiro
público. Pobre Brasil! Pobres brasileiros!
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