quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Presidente Dutra - Mudança de Foco

Caminhões carregados de algodão em PK(Acervo Salomão Soares)


José Pedro Araújo

Aqueles caminhões de cores variadas e suas lameiras dependuradas na carroçaria com provérbios engraçados me atraiam a atenção de forma exacerbada. As placas fixadas nos para-choques indicavam a sua procedência diversa e também aguçavam a minha curiosidade e me levavam a perguntar como seria viver naquelas cidades. Não restavam dúvidas de que elas deveriam ser muito maiores do que o nosso Curador, afinal, já havia visto tantos carros cujas placas denunciavam a mesma procedência! Jaguaribe, Icó, Sobral, Cajazeiras, Patos, Caruaru, Arcoverde, Petrolina, Campo Maior, Piracuruca, Picos, eram tantos, com nomes tão vistosos! Os caminhões a que me refiro ficavam estacionados em frente às usinas beneficiadoras, enquanto aguardavam o carregamento de arroz. Corria um tempo em que este cereal era produzido em larga escala na região. Mas, deixa-me voltar ao começo, conferir fidelidade ao nome do texto posto acima.

A região de Presidente Dutra já foi celeiro dos mais importantes produtos de exportação agrícola do nosso estado, especialmente o algodão e o arroz. Talvez os dois mais importantes na pauta de exportação do Maranhão. O algodão, por exemplo, durante muitos anos, conferiu ao estado o título de grande exportador. Por conta disto, inúmeras fábricas de tecidos foram instaladas no seu território, especialmente em São Luís, Codó e Caxias. E a região de Presidente Dutra se sobressaia entre os maiores produtores desse produto. Em conversa com um dos maiores compradores do produto no município, o empresário Salomão Soares, obtive dele a informação de que a produção dessa pluma era tão grande na região, que um certo empresário de Codó fazia anualmente uma carreata com os caminhões que chegavam à cidade trazendo o tal produto, e que a fila se estendia por quilômetros de extensão. Comprovou o que dizia com uma fotografia, depois publicada por mim no livro sobre a história do nosso município. Nela é possível ver uma fila enorme de caminhões carregados com o produto, quase todos originários da região de Presidente Dutra e Tuntum.

Atestando a importância do algodão, o município contava com muitas bolandeiras para descaroçar e enfardar o produto. Nessa época, deu guarida a um grande número de famílias originárias do Rio Grande do Norte, estado com grande tradição no cultivo desse vegetal, e as assentou em terras pertencentes ao Sindicato dos Proprietários Rurais, situando-os na região da Caatinga de Porco. Parte dos seus descendentes ainda está na região, ficaram por aqui mesmo, assentaram-se definitivamente na terra que não contava com o fantasma da seca.

O mesmo acontecia com o arroz. Produto com larga importância na mesa do maranhense, era produzido em quantidades alarmantes e deu sustentação a economia local por muito tempo. E, nesse tempo, proliferavam as usinas de beneficiamento do produto. Mas, isso ficou no passado. 

O algodão sumiu dos nossos campos, perdeu importância. Desapareceu ao ponto de, hoje, não mais existir um único produtor conhecido na região. Quase a mesma coisa aconteceu com o arroz. Poucas famílias ainda cultivam essa gramínea entre nós, e mesmo essas a produzem apenas para o seu próprio consumo. Hoje, a maioria dos nossos agricultores prefere colher na mercearia mais próxima da sua casa, o arroz necessário para o seu dia-a-dia. O produto consumido por nós vem de regiões tão distantes, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ou mesmo do Tocantins. Os caminhões agora aportam por aqui para trazer o produto antes tão presente nos nossos campos e não para adquiri-lo. Para alguns críticos, isso se deu em função da invenção das tais bolsas gratuitas que o governo federal distribui para a população. Ninguém quer mais rachar as costas no cabo da enxada para produzir o seu próprio sustento, e lançam mão do dinheiro recebido e vão direto ao comercio. Passaram de produtor a consumidor, pura e simplesmente. Produzir arroz ou algodão, agora é coisa para empresário. 

Isso trouxe um custo social alto para a população mais carente. Se não mais produzem, por que viver no campo? E assim migraram em massa para a cidade. Incharam a periferia, passaram a fazer ponto nos botecos que se espalharam pelas vielas mais pobres como a tiririca, planta invasora que atormentava a vida deles no tempo em que precisavam derramar o suor do próprio rosto para prover o sustento da sua família. Continuam tão pobres como antes, ou até mais. E ainda por cima assistiram impassíveis os filhos se consumirem em noites regadas a muita bebida, droga e prostituição. Eles haviam perdido o costume de laborar em busca do seu próprio sustento ou não aprenderam a fazê-lo. 

Hoje, a maioria desses jovens transita pelas ruas a ermo, sem ter nada para fazer, e alguns desandam a praticar toda a sorte de coisa ruim, tomam o que querem de quem tem na base da violência, para poderem fazer frente ao consumismo exagerado que aprenderam com as pessoas da cidade. Espalham a violência que, pouco depois, os transformam em vitimas também. A maioria tem a sua vida abreviada. Um dito popular afirma que “mente vazia é oficina do diabo”. Será que ainda temos jeito? 

Não é saudosismo, mas precisamos voltar à vida de tempos passados, quando colhíamos o feijão verde, o arroz, a abóbora, o tomate, a mandioca e o milho no nosso próprio quintal. A galinha era motivo de festa no almoço de domingo, e era servida ao molho ou assada no próprio forno “rabo quente”, criada e engordada no terreiro e não em industriais granjas onde hoje recebem o estimulo de venenosos hormônios para apressar o seu crescimento. Sem constar que produziam ovos em quantidades alarmantes. Além de mais saudáveis, era muito mais saborosa, a tal galinha caipira. Isso também era alegria, diversão, contato puro com a natureza.

Precisamos voltar a aprender a criar os nossos próprios meios de sobrevivência. Esse pobre dinheiro que nos chega através dos tais programas sociais, tem tido um custo alto para a maioria das famílias que são beneficiárias deles. Enquanto isto, sem o menor escrúpulo, ficam eles com a parte do leão. O que deveria ser utilizado em saúde, educação e segurança, é desviado e passa a engordar as contas desses ladravazes que se mantêm no poder a custa do voto comprado com o nosso próprio dinheiro. Não acuso diretamente este ou aquele partido pelos males que nos assola e agride a família brasileira. Aponto o dedo na direção de todos os que estão se perpetuando no poder há séculos, àqueles que se iniciaram tão pobres quanto nós na política e que hoje estão se cevando com o dinheiro público. Pobre Brasil! Pobres brasileiros!

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