A agricultura e o extrativismo – Costuma-se afirmar que o criador de gado não gosta de
trabalhar com atividade agrícola, por a considerarem por demais simplória
naquele tempo. Mas os nossos bandeirantes haveriam de cultivar seus próprios
alimentos, à falta de mercado onde pudessem obtê-los. Trouxeram consigo a
experiência do trabalho com o milho, o feijão, a batata-doce, o inhame, e a
mandioca, cultivados à larga em seus estados de origem. E logo alguém vindo das
regiões úmidas nas imediações da capital, trouxe também a experiência do
cultivo de um cereal que logo cairia no gosto do novo colonizador: o arroz. Sem
querer, estavam adotando o costume dos seus homônimos orientais. Lá no Japão, o
arroz faz parte da culinária local como alimento básico e insubstituível. Além
disto, o caule da planta também é utilizado para a fabricação de esteiras,
tatames, chapéus, entre tantas outras finalidades. E nosso Japão, além de se
integrar na dieta regional, dado à flexibilidade do seu caule, passou a ser
utilizado no enchimento de colchões para dormir.
Antônio Bernardino Pereira do Lago,
tenente coronel português, incumbido por D. João VI, em 1818, de elaborar As Cartas Topográficas da Capitania do
Maranhão, afirma que na Província já se cultivava o arroz, não o que conhecemos,
branco e gostoso, mas um arroz vermelho,
também chamado “arroz da terra”. Discorrendo sobre a cultura que
caiu no gosto dos maranhenses, o militar português afirmou: “O arroz era ainda mais antigo, porém
vermelho, chamado “da terra”, e alguns querem que seja natural do país;
entretanto, em 1765 é que foi introduzida e promovida no Maranhão a cultura do
“branco da Carolina”(USA), pelas diligências da Companhia e em 1767 começou
logo a exportar 2.847 arrobas”. (pág. 42, 1822).
Observa-se através do depoimento
acima, que o arroz, mesmo o de qualidade ruim, já fazia parte da alimentação do
maranhense, daí a sua importância desde o começo da nossa colonização como um
dos produtos que compunham a nossa pauta de exportação, e também da dieta
maranhense.
A
terra que produzia alimento em profusão, também aceitava, com vantagens, a
plantação do algodão, do fumo e da cana-de-açúcar. Nessa época alguns engenhos
foram surgindo e seus proprietários passaram a produzir rapadura, e até mesmo o
açúcar que consumiam, o mascavo. O fumo também era industrializado em pequenas
unidades familiares em forma de grossos rolos para comercialização, como fazia
o pioneiro José Nunes de Almeida em sua fazenda Caiçara(bisavô deste escriba).
Todos esses produtos eram vendidos na vila que começava a se formar, mas, em
maior escala, eram transportados para as vilas de Caxias, Pedreiras, Barra do
Corda e Codó.
As
dificuldades do início da povoação foram assim superadas com muita luta e
destemor. Mesmo se situando em uma região com um excelente índice
pluviométrico, ainda ocorriam problemas com a má distribuição de chuvas, que
vez por outra afetava a produção de alimentos.
Um fato relatado por
D. Feliciana Nunes Guterres(falecida recentemente aos cem anos), revela como
esses pioneiros ainda haveriam de se defrontar com muitas barreiras até que o
mercado se consolidasse perfeitamente. Com a memória ainda muito viva, lembrou
que, certa vez, por volta de 1927, o Coronel Diolindo Luiz de Barros passou por
um aperto muito grande, como de resto passaram também muitas famílias que ali
residiam, quando lhe começou a faltar arroz para o consumo da família.
Economicamente remediado, até possuía o numerário para adquiri-lo, mas não
encontrava o produto na praça, pois a safra do ano anterior havia sido muito
pequena em razão da escassez das chuvas que haviam caído irregularmente.
Assim, o arroz que era
o principal item da alimentação do maranhense, estava em falta e ninguém tinha
para lhe vender. Por conta disso, teve que empreender viagem para a região de
São Domingos, povoado que se formava mais ao sul, em busca do produto.
Preocupava-o ainda mais o fato de daí a poucos dias estar recebendo um numeroso
grupo de parentes e amigos que vinham de Pedreiras para visitá-los. Para sua
felicidade, encontrou o que procurava na região da Serra Negra e pode retornar
para casa mais tranquilo.
O fato narrado acima mostra o quanto
era difícil a vida dos nossos pioneiros. Qualquer erro de estratégia poderia
levá-los a um enorme aperto, senão a contactar novamente com o fantasma da
fome, no que pese as condições favoráveis de solo e clima que encontraram na
região.
Nada disto impediu que logo a região
passasse a se destacar como um grande celeiro de alimentos para o nordeste,
produzindo também o algodão em larga escala. Foi nesse tempo que se abriram
estradas mais seguras e largas, e os primeiros caminhões começara a chegar até
a região para o transporte do arroz, do algodão e do babaçu.
A propósito disto, esta palmácea é
um vegetal de múltiplas finalidades. Da amêndoa se extrai um excelente óleo
comestível, que durante muitos anos ocupou posição de destaque na nossa pauta
de exportação. A palmeira, que é encontrada em abundância no estado, fornece
desde a palha para a cobertura dos casebres, ou para a feitura de esteiras e
cofos, até talos para a construção de cercas provisórias, e o próprio caule,
cilíndrico e grosso, é utilizado para a feitura de currais e pontes primitivas.
Da casca do fruto, ou mesocarpo, produz-se um carvão com altíssimo teor
calórico que substitui com vantagens o carvão proveniente da madeira.
Foi em razão da
presença dessa palmácea, que em Codó, Caxias e São Luís, não demoraria a surgir
as primeiras indústrias de extração de óleo, impulsionando a economia da região
a uma velocidade fenomenal. Ainda hoje, com menor importância, centenas de
famílias pobres têm, na extração do babaçu, um dos principais componentes da
renda familiar.
Passando por um
período de pouca importância, a renda obtida com o produto não se sobressai
mais. Contudo, uma grande quantidade de famílias maranhense continua a retirar
dele o óleo de cozinha para o próprio
consumo. Em outras regiões do estado,
quebradeiras de coco, contando com a ajuda de organizações não governamentais,
já estão produzindo outros produtos com maior valor agregado, como o sabonete e
o shampoo, além de cremes com propriedades terapêuticas para o combate aos
radicais livres que provocam o envelhecimento precoce.
O babaçu, indiretamente, contribuiu para abalar
negativamente a economia maranhense. Milhares e milhares de trabalhadores que
antes laboravam na cultura da cana-de-açúcar na ilha de São Luís, e ribeiras do
Mearim e Itapecuru, deixaram os engenho atraídos pela notícia de que na região
dos cocais as terras eram livres e ainda contavam com uma palmeira, chamada
babaçu, com a qual se poderia tirar boa renda. Assim, o babaçu contribuiu em
muito para a ocupação do solo da região do Japão, mas, ao mesmo tempo, teve
importância decisiva para a derrocada da cultura canavieira na região mais
próxima ao litoral.
Eurico Teles de
Macedo, um engenheiro carioca que aqui chegou
no início do século XX, para trabalhar na construção da estrada de ferro São
Luís-Teresina, relatou em seu excepcional livro O Maranhão e suas riquezas(Coleção Maranhão Sempre - Editora
Siciliano), que:
[...] Os engenhos de açúcar, e até mesmo as boas usinas de
açúcar, como a de Cristino Luz no Engenho d’Água, próxima a Caxias, viram-se de
braços com as maiores dificuldades para produzir safras mínimas, porque o êxodo
dos trabalhadores para os cocais se tornou notavelmente elevado e, não fora a
cachaça, que encontra grande número de admiradores e gozadores em todo o
Brasil, os alambiques teriam secado de uma vez e não mais os engenheiros
poderiam sentir o álacre cheiro da cana fermentada, ou do néctar
alcoólico...”.(pág. 63, 2001).
A região da mata do Japão, escolhida pelos pioneiros em
razão da riqueza do seu solo, devolveu com abundância cada semente lançada à
terra, permitindo o crescimento exuberante das culturas repatriadas de outras
terras nordestinas. No solo visguento e rico em fertilidade, as sementes
trazidas de outras terras rendiam aqui o dobro ou mais do que produziam lá. O
algodão arbóreo, cultivado no Piauí e no Ceará, aqui se transformava, de fato,
em árvore de porte avantajado, produzindo plumas tão alvas e fibrosas que logo
transformou a região no reduto de maior produção dessa cultura no estado. O
milho que emitia espigas pequenas com grãos minúsculos em outras terras, ao ser
lançado no massapê dava origem a
touceiras muito avantajadas e soltavam espigas fabulosas, com grãos cheios e a coloração do mais puro ouro.
A
cana-de-açúcar, uma das primeiras culturas a ser implantada no Maranhão, aqui
se expandiu com velocidade, dando margem a instalação de muitos engenhos onde
se produzia rapadura, cachaça, e até mesmo o escuro açúcar mascavo. Era rara
uma propriedade que não dispusesse do seu engenho. No final dos sessenta,
início dos setenta, ainda era possível encontrar alguns engenhos funcionado a
pleno vapor no município. Como o do senhor Jorge, no São Benedito, o dos
Carvalho, próximo à residência do Senhor Basto Ferreira, ou mesmo o do senhor
Beltrão Campelo, na Canafístula. Este último talvez tenha sido o maior engenho
em atividade durante muitos anos, produzindo uma cachaça amarelada, dourada
mesmo, bem ao gosto dos apreciadores do produto. Quando criança, ainda
testemunhei a presença de um engenho instalado dentro do quintal da casa hoje
pertencente ao senhor Avelino Bezerra, em plena Rua Grande.
O fumo foi outra
cultura que rendeu bons dividendos às famílias advindas de outros estados
nordestinos, onde essa cultura era bem cultivada. Aqui se produziam uma grande
quantidade de fumo-de-corda, que depois era comercializado em outras regiões,
como já afirmei.
Mas nenhuma cultura
teve tanta importância econômica quanto o arroz. A orizicultura foi, durante
muitos anos, a principal atividade econômica da região. Cultivado em todas as
propriedades agrícolas, ensejou a instalação de muitas usinas de beneficiamento
no município, algumas ainda hoje em funcionamento. Foi,
sem dúvida, a base da economia local, ajudando a formar algumas das maiores
fortunas que se tem no município.
Assim, todas as sementes semeadas
respondiam com produção muito acima do esperado, enchendo paióis e formando
mesas tão fartas de alimentos que logo a fama da região ganhou mundos,
provocando a vinda de novas e numerosas famílias para a terra antes
desconhecida. A região passou a ser vista como um celeiro de produtos
agrícolas, abastecendo as maiores cidades da região nordestina, tão logo as
primeiras estradas foram abertas e permitiu o tráfego de caminhões.
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