sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Nascem as primeiras indústrias no Curador (História de Presidente Dutra - Parte 24)



Nascem as primeiras indústrias no Curador – O maranhão já vinha organizando seu parque industrial desde a segunda metade do século dezenove, mas teve sua maior pujança na virada do século XX, quando as usinas de açúcar e as tecelagens, fiações e fábricas de tecidos se expandiram na capital e na ribeira dos rios Mearim e Itapecuru.
A atividade industrial ganhava forças e colocava o estado entre os de maior importância no país, exportando seus produtos para vários países do mundo. O Brim, o Riscado e o Morim, apesar de não serem tecidos de prestígio para a alta costura, eram requisitados pela sua qualidade e durabilidade para servir como vestimenta aos trabalhadores da indústria e das fazendas, o que fazia deles, produtos altamente respeitado e requisitado por todo o mundo.
As fiações também forneciam fios de algodão para a confecção de redes em todo o nordeste, e por aqui começaram a surgir algumas pequenas fábricas deste artefato tão necessário aos nordestinos.
            Foi um período áureo da economia maranhense, ocasião em que vários navios partiam carregados com a matéria prima, e com os produtos manufaturados, para portos do mundo inteiro. E enquanto na capital eram erguidas fábricas em diversos seguimentos, com suas chaminés de tijolos vermelho apontando para o céu azul da ilha, no interior os campos se enchiam da brancura das plumas do algodoeiro, gerando riquezas e promovendo o povoamento do interior dantes desconhecido.
            Entretanto, a economia está sempre em constante mudança. Muda a importância dos produtos, com a consequente subida de preços de alguns e a queda de valor de outros; muda a situação geográfica onde esse produtos são mais procurados. O fato é que o mundo dos negócios está sempre em transformação, ensejando o aparecimento de grandes negócios em um dia, para, no outro dia, já está de partida o seu eixo para outros lugares.
             Um exemplo, de como essas coisas acontecem, deu-se em meados do século XIX.  Com o fim da guerra separatista entre o norte e o sul dos Estados Unidos, os ingleses voltaram a comprar o algodão e o tecido produzidos pelos americanos, deixando de lado o produto brasileiro.
Por aqui, as fábricas começaram a desligar suas caldeiras, e as chaminés pararam de jogar fumaça no ar, enquanto nos campos os produtores que haviam se endividado, acreditando no crescimento do mercado externo, faliam miseravelmente. Passamos de exportador de produtos manufaturados e de algodão, para exportador de máquinas e sucatas para outros estados da federação.
O jornalista francês Gilles Lapouge desembarcou em 1973 na ilha de São Luís, com o intuito de colher informações para a elaboração de algumas matérias para jornais com os quais contribuía, e logo se apaixonou pela cidade. Como um observador sensível e arguto que era, colheu também informações preciosas sobre a vida econômica da Ilha, dados que viriam a fazer parte de um livro que logo lançaria sobre a sua viagem pelo Brasil, denominado Equinociais – Viagem pelo Brasil dos Confins.
              Contundente, e ao mesmo tempo satírico, discorreu sobre a crise industrial que atingiu a economia maranhense em fins do século XIX e começo do século XX, demostrando possuir um olhar de lince, e contundente agudeza na percepção  dos problemas de gestão que cercaram os empreendedores da terra:

A decadência desta cidade foi brutal. Normalmente, os impérios precisam de um século, de um milênio para desabarem. São Luís liquidou seu caso com muita desenvoltura. Os historiadores nos diriam as datas, praticamente exatas, de sua decadência – foi no final do século XIX, quando as prósperas manufaturas de São Paulo(?) foram atacadas ao mesmo tempo pelas tecelagens de Manchester e pela expansão dos Estados Unidos, uma vez o sul vencido pelo norte. Foi um naufrágio de Titanic, alguns burburinhos e os destroços no mar”.

E continuou com a sua prosa ferina e certeira, destrinchando fio a fio a teia mortal em que a economia do estado se enredou, acabando com o sonho de prosperidade que nos embalou durante uns poucos anos, e empurrando-nos de volta para o vale triste da pobreza que nos persegue desde o nosso nascimento. “A cidade não se deu ao trabalho de disfarçar suas cicatrizes. Se quer teve vontade de concluir todos os edifícios que estavam em construção antes que a crise chegasse”.
 A cultura algodoeira ainda teve outro período de prosperidade entre nós. Novas fábricas foram erguidas na capital, mas também, em Codó e Caxias, capitaneadas por empresários da região. Desta vez entramos de cabeça nesse sonho e imensas plantações cobriram as terras do Japão em lugar de suas florestas possantes. Duraria pouco mais de vinte anos a sua importância econômica, esse novo sonho agroindustrial.
No Curador, empreendedores como Raimundo de Melo Falcão, instalaram suas bolandeiras movidas à tração animal, e passaram a industrializar o algodão aqui produzido, acondicionando-o em fardos enormes que depois eram transportados para as fabricas de tecidos de Caxias, Codó ou São Luís. Anos depois, aproveitando-se da importância da cultura para a região, o empresário Celso Sereno implantou uma indústria de beneficiamento de algodão no município, com maquinários movidos à vapor. Beneficiava-se com a alta produção dessa cultura, situação que havia nos guindado à condição de principal região produtora em poucos anos.
Depois dele, um cidadão chamado João Furtado instalou uma outra usina na cidade, na esquina da travessa Nelson Sereno com a rua Cel. Sebastião Gomes. A febre só aumentava, e logo esses foram seguidos pelos empresários Salomão Soares e Gerson Sereno, que montaram também suas usinas de beneficiamento. Esta informação atesta a importância do algodão para a economia local, fato que fazia partirem daqui diariamente uma frota de caminhões carregados com fardos do produto descaroçado e enfardado, para abastecer as fábricas de tecidos de São Luís, Codó e Caxias.
Desde 1892, com a instalação da Companhia Manufatureira e Agrícola do Maranhão, e em 1921, com a construção e funcionamento da estrada de ferro São Luís-Teresina, o algodão, o arroz e o babaçu, voltaram a alavancar a economia do Estado, trazendo riqueza e prosperidade para muitos municípios.
Em seguida vieram as usinas de beneficiamento de arroz, com suas máquinas barulhentas e eficientes, a descascar milhares de toneladas desse cereal que ocupa lugar de destaque na dieta alimentar do brasileiro. A economia pujante do município fazia com que partissem daqui caminhões e mais caminhões carregados com o produto já beneficiado, com destino a diversos municípios, mas também para outros estados nordestinos. A economia se consolidava definitivamente na região, baseada na aptidão agrícola e pecuária da terra abençoada, e na força empreendedora dos moradores do lugar.
Hoje, produtos como o algodão, sumiram da pauta de exportação, a ponto de não termos uma só usina de beneficiamento funcionando no lugar. O aparecimento de doenças ou pragas, como a do bicudo, somados a perda de importância do produto em razão da queda de preços no mercado internacional, e ao fechamento das fábricas de tecidos e tecelagens em Codó, Caxias e São Luís, fez com que essa cultura fosse perdendo importância até desaparecer totalmente como item de exportação.
Desaparecia um produto que alavancou a economia da região, formando as primeiras fortunas e gerando emprego a muitas famílias. Nos campos brancos em razão das plumas dessa bela cultura, e que também se caracteriza como uma oleaginosa, já não se vê mais a presença de trabalhadores em grande quantidade, necessidade imposta pela exigente planta.
O babaçu foi outro produto que praticamente sumiu da pauta, substituído que foi pela soja que começou a ser produzida em escalas monumentais no sul do país, e depois no centro oeste, até se instalar também no cerrado maranhense. Foi a pá-de-cal lançada sobre esse produto extrativo que muito contribuiu para o desenvolvimento da região e do estado do Maranhão.
Hoje, praticamente só conserva a sua importância nos povoados da região, quando o cheiro da amêndoa cozida para a extração do óleo se eleva gostoso às alturas, relembrando a importância que o babaçu já teve entre nós.
É certo que ainda existem algumas fábricas de óleo e de fabricação de sabão e detergentes no estado, mas, tudo muito longe do frenesi que esse produto da terra provocou em décadas passadas. As palmeiras decantadas pelo nosso poeta maior, Gonçalves Dias, hoje estão sendo arrancadas para darem lugar às pastagens.
 Por último, outro produto tão caro entre nós, o arroz, foi perdendo importância com a chegada de grãos com melhor aparência e preços mais atraentes, produzidos no estado de Goiás ou no Rio Grande do Sul, reduzindo a participação do nosso cereal na economia regional. Hoje, ainda existem algumas usinas funcionando no município, em torno de seis na sede, diferentemente dos outros dois produtos acima citados. Mas, as maiores indústrias, encontram-se com suas portas baixadas, mudas. As montanhas de casca de arroz que se viam com frequência pelos caminhos, hoje é uma visão do passado. É certo que existem ainda muitas famílias que tiram o seu sustento cultivando essa cultura, mas o cereal não possui a importância que tinham tempos atrás.
          Finalmente, dos inúmeros engenhos de cana-de-açúcar que existiam na época, restaram poucos também. As moageiras de cana com seus cilindros de madeira, tocadas por uma junta de bois que giravam em circulo, estão paradas, não gemem mais. Eram elas que esmagavam a cana e tirava dela o suco doce que depois de fermentado em grandes gamelas era levado ao fogo para a fabricação de rapadura e cachaça, e açúcar, no princípio. Sumiram como atividade econômica.
E, a não serem pela existência de um ou outro engenho perdido no interior do município, poucos resistiram à passagem do tempo e às mudanças econômicas. Alguns desses empreendedores se notabilizaram como importantes produtores de aguardente, produzindo uma cachaça com coloração dourada, muito consumida pelo povo da região. O gosto pela velha cachacinha ainda é grande, mas o número de seus fabricantes diminuiu sensivelmente. Nosso povo prefere meter a mão no bolso e comprar uma garrafa da “marvada” no primeiro boteco da esquina a colocar para funcionar novamente as velhas moendas. A tradição perdeu-se no tempo também.
As serrarias também proliferaram na região ante à ocorrência de florestas recheadas por madeiras nobres e de grande procura por parte de compradores de outros estados nordestinos. Durante muito tempo procedeu-se grande derrubada de madeiras nobres como o cedro, o pau d’arco, a aroeira, a maçaranduba, e o jatobá, dentre outras espécies de grande valor econômico, de tal modo que hoje essa madeira, antes abundante, está por demais escassa. As maiores serrarias, hoje não passam de cinco, e mesmo estas, especializaram-se na fabricação de portas, esquadrias e móveis, sobrevivendo em meio a um mercado bastante promissor, utilizando-se da madeira que ainda resta, ou da originária do Pará. Mudaram o foco do empreendimento para não desaparecerem do mercado.
Hoje já existem na região algumas pequenas fábricas instaladas, como a de caixas-d’água, pias e outros produtos, pertencente ao empresário José Aarão de Oliveira Barros, que comercializa seus produtos em quase toda a região maranhense e tocantina. Fabricam-se também outros produtos como cadeiras, velas, detergentes e sabões, além de confecções, produtos metalúrgicos e móveis, empregando um número razoável de pessoas.
Entretanto, o forte do município atualmente é o comércio, que muito se desenvolveu nos últimos anos, setor este que abordaremos a seguir.  



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