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Afresco de Michelangelo na Capela Sistina |
Elmar Carvalho é poeta, cronista, contista, romancista e membro
da APL.
Acho importante registrar neste
diário que, no final de 2100 e nos três primeiros meses do ano seguinte deste
novo século, algo muito estranho aconteceu. Muitas pessoas começaram a morrer,
de uma forma que inicialmente fez lembrar a pandemia da Covid-19, doença
provocada pelo novo corona vírus, no ano de 2020. Ainda foram iniciadas as
quarentenas e outras modalidades de distanciamento social.
Contudo, logo os médicos e os
cientistas notaram que havia uma grande diferença. Os infectados morriam
rapidamente e sem sofrimento. Era quase uma espécie de morte súbita. A pessoa
se sentia fraca e logo perdia a vida. Muitos de nós sentiam um verdadeiro terror,
outros se resignavam, enquanto alguns passaram a orar fervorosamente, em
verdadeiro misticismo. Havia os medrosos, os covardes, os corajosos e os
estoicos. Mas quanto a isso não havia distinção por parte da nova e estranha
doença.
Notou-se que os infectados, em sua maioria, eram
pessoas de índole ostensivamente má; depois se descobriu que havia os
hipócritas e fariseus, que dissimulavam suas perversões e maldades, mas eles
também sucumbiram. A história da ciência não registrava nada semelhante, embora,
é claro, desde muito tempo se saiba que há doentes e há doenças, e que a doença
e a cura sempre foram consideradas psicossomáticas.
Ainda no início os mais modernos exames, testes,
autópsias e sofisticados aparelhos descobriram que o mal não era contagioso,
pelo que era inútil qualquer forma de quarentena. Também nunca encontraram o
menor indício de vírus ou bactérias, razão pela qual concluíram que era
produzida de forma autônoma pelo próprio organismo de cada infectado. E todos
os casos foram letais e de imediato desfecho.
Dada a radicalidade e rapidez dessa espécie de
praga ou pandemia, as câmaras frigoríficas e fornos crematórios funcionaram em
capacidade máxima, já que não havia condições de tempo e espaço para o
sepultamento de tantos mortos.
O mais estranho, e para isso cada um tem a sua
própria explicação, é que a sociedade, como um todo, se tornou muito melhor,
mais amável e mais generosa, e o que considerávamos crimes e pecados
desapareceram. As relações sociais e os costumes mudaram de forma radical.
Não houve mais morte e nem doença, e nota-se que
está acontecendo um processo gradual de rejuvenescimento, com os corpos se
tornando mais belos e mais poderosos. A ciência não tem explicação para esse
fenômeno.
Para mim e para todos os que conheço a única
explicação é que houve uma intervenção direta de Deus.
Bela e oportuna crônica. Já compartilhei. Transmita meus parabéns ao Dr Elmar
ResponderExcluirObrigado, meu amigo e leitor assíduo. Vou repassar a sua avaliação positiva ao autor.
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