Elmar Carvalho é poeta, romancista, cronista e membro da APL.
Hoje, por causa da Corona (novo
coronavírus), o homem de bem anda mascarado, em estranho e extemporâneo
carnaval, sem música, sem alegria, sem dança e sem saracoteios.
Enquanto isso, os assaltantes, com a
sua inata audácia, andam a cometer seus crimes de cara limpa, com a sua cara de
pau, em frente às câmeras de monitoramento e de segurança, de celulares ou
mesmo de televisão, em plena luz do dia, como se fossem mocinhos e não
bandidos. Não raro, são muito sensíveis, nervosos e violentos, muitas vezes sem
a menor necessidade, pois a vítima lhes entrega o que exigem, sem opor a menor
resistência.
Outrora, um ladrão tinha vergonha, e
só praticava seus furtos e roubos em alta madrugada, no escuro e da maneira
mais discreta possível, de modo a não incomodar a vítima.
Eram verdadeiros e talentosos
artistas: eram peritos em escalar muros e paredes, como legítimos
“homens-aranha”; sabiam desarmar armadilhas, driblar obstáculos e se esquivar
de cachorros. E quase nunca matavam ou espancavam suas vítimas, até mesmo
porque faziam tudo para não ter contato com elas.
Agora, muitos assaltantes são do
tipo “ostentação”. Eles mesmos filmam suas “operações” e os “produtos” de seu
labor, e exibem o vídeo ou “live” na internet, como se tivessem orgulho de sua
atividade, como se fossem os mocinhos de moderno filme de bangue-bangue, em que
a vítima passou a ser o bandido.
Tanto isso é verdade, que eles
costumam anunciar o assalto chamando o ofendido de “vagabundo”. E ai do
ofendido se se sentir ofendido, e se queixar de alguma coisa ou simplesmente
olhar a face do meliante. Será espancado ou morto.
Oh tempos, oh costumes! Antigamente,
apenas Deus não admitia ser olhado em plena face.
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