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Vista Aérea do Centro da Cidade (Autoria de Carlos Magno de Oliveira) |
José Pedro Araújo
Por muitos séculos a região
interiorana do Maranhão, em especial a parte do território que ficava afastado
do perímetro da grande ilha de Upaon-Açu (ou ilha do Maranhão), sofreu com o
isolamento e com o pouco caso das autoridades da capital. Alguns municípios
litorâneos, como Cururupu, Tutóia, Ribamar, Alcântara ou mesmo outros situados
nas margens dos nossos principais rios, a exemplo de Caxias, Itapecuru Mirim, Pedreiras,
Bacabal, Coroatá, Codó, e em menor medida Barra do Corda, Colinas, Carolina ou
Imperatriz, ainda recebiam, mesmo que esporadicamente, um pequeno agrado ou
aceno das autoridades da capital. Quanto ao restante, somente em épocas de
eleições eram lembrados. Basta dizer, que a capital, São Luís, viveu isolada do
restante do estado por séculos a fio.
Não havia estradas de ligação da capital com o restante do seu
território. Quem ainda se situava à margem de algum rio navegável, como já
afirmamos, poderia contar, em épocas de inverno dadivoso, com algum contato de
vez em quando com a bela capital. A Ilha, portanto, não se ligou com o
continente por muito tempo. A ponte sobre o Estreito dos Mosquitos, que veio
interligar Upaon-Açu ao restante do corpo territorial, denominada Ponte Benedito
Leite, só veio a ser construída por volta de 1928. Portanto, 316 anos após a
sua fundação, a cabeça do território maranhense, São Luís, ligava-se, por fim,
ao restante do estado, ao seu corpo propriamente dito.
Comitiva do Gov. Magalhães de Almeida(de Chapéu) é recepcionada pelo povo e por Frei Heliodoro Inzago |
Foi por esse tempo também que a
população do velho Curador, povoado situado no centro geográfico do Maranhão,
pode ver pela primeira vez a face da autoridade maior do estado, o seu
governador. Irrequieto e preocupado com essa falta de contato do povo da
capital com os seus irmãos sertanejos, um governante resolveu, pessoalmente,
inaugurar vários trechos de rodovia pelo interior mais profundo e
distante. E foi deste modo que tomamos
contato com o primeiro deles. O Comandante Magalhães de Almeida foi o
governante de número 136 do Maranhão, e olha que não estou levando em conta apenas
aqueles que estiveram comandando a terra maranhense por alguns meses apenas ou
mesmo por alguns dias. E estes foram tantos! Assim foi que o nosso líder maior,
o governante de nº 136, portanto, pisou o pó do Curador. Felizmente seu irmão,
o Deputado federal Artur Magalhães de Almeida, registrou este fato para a
posteridade com a sua câmera fotográfica, e nos deixou algumas fotografias como
prova. Isso se deu em pleno Largo de São Bento, depois Praça de São Sebastião,
no Curador de 1928.
Passados quase vinte anos, uma
figura que teria muita importância no processo de emancipação do velho Curador,
passa pela povoação. Consta que este cidadão, o médico Dr. Otávio Vieira
Passos, amigo do Interventor Federal Paulo Martins de Sousa Ramos, voltava de
Barra do Corda e passou pela Vila, registrando em sua memória parte das suas
observações e conclusões. A memória popular diz ter ele se encantado com a
sobriedade e o desenvolvimento daquela povoação tocada quase que sem ajuda dos
poderes constituídos pelo povo que nela habitava. Deste modo, ainda de acordo
com a história oral, atestada pelo Barra-cordense ilustre Galeno Edgar Brandes
no seu livro sobre a história da Barra do Corda, o Governador ouviu com
interesse as informações sobre o lugar e depois concluiu que aquele povoado tão
importante na interligação da capital com o sertão deveria ser alçado à
condição de cidade, município. E foi assim que, sem o interesse dos políticos
da região (Não há registros históricos de nenhuma liderança política laborando
pela elevação da vila em município sede), fomos alçados à condição de município.
Esclarecedor também é o fato do Dr. Paulo Ramos, Interventor Federal do Estado,
ter estado em Barra do Corda naquele ano de 1943. E deve ter tirado a prova
sobre o que lhe disse o amigo Otávio Passos junto ao seu interventor municipal
Jamil de Miranda Gedeon.
Antes desses acontecimentos, um outro
interventor da Barra do Corda, Natal Teixeira Mendes, com o propósito de
descentralizar a educação municipal, enviou as primeiras professoras para a
vila, bem como um professor para São José dos Basílios. Vieram ministrar
conhecimento as nossas crianças e jovens, as professoras Joana Lima de Macedo e
Edelves Maranhão Pinto, e o professor Raimundo Alves.
Os fios postais e a agência dos
correios também foram instalados no povoado. Por uma dessas coincidências da
vida, a sede da Agência Postal, bem como a residência do primeiro chefe do
posto, Adelino Barros, foi instalada na casa em que nasci e que pertence à
minha família até hoje, à rua Magalhães de Almeida, nº 74. O Curador já podia
se comunicar com a capital ou com o restante do país através dos fios do
telegrafo. Saíamos do anonimato naquele idos dos anos trinta.
Foi no Governo do Sr. Paulo
Ramos, portanto, que nos desligamos do nosso município-mãe, chegamos à
maioridade e tomamos nas nossas próprias mãos o nosso destino. Não foi fácil o
início da caminhada com as nossas próprias pernas. Já tive oportunidade de
contar aqui nessas páginas que os embates pela tutela do recém-nascido deixaram
marcas profundas, fizeram a população derramar muitas lágrimas sobre o solo
sagrado.
Como vila, éramos administrados
por um representante da Prefeitura de Barra do Corda que distava 148 km
(Naquele tempo era essa a distância, pois a estrada passava pelo Tuntum e
seguia depois para o sertão das Areias no sentindo norte-sul, para depois
retomar o sentido da cidade sede do município. Hoje, são apenas 98 km, depois
da linha reta traçada pela rodovia Central do Maranhão que ligou o litoral ao
Tocantins). Esse representante era o Agente Distrital, ou Fiscal do Consumo,
como era mais conhecido pela população. Esse servidor público, além de fiscal
arrecadador de tributos, era também o responsável pela execução das poucas
obras públicas na Vila. A outra autoridade, responsável pela segurança da
população, era o subdelegado. Pelo que consta, o primeiro Agente Distrital foi
o Sr. Fenelon Moreira, nomeado pelo interventor municipal Francisco de Sá. Edson
Falcão Costa Gomes, ex-prefeito de Barra do Corda, também ocupou o cargo de
Agente do Consumo. E meu avô, Diolindo Luís de Barros, o precursor da numerosa
família Barros na região de Presidente Dutra, também foi Agente Distrital por
alguns anos. Tenho em minhas mãos uma carta enviada por ele ao seu superior
hierárquico em Barra do Corda, no qual ele pede exoneração da função, além de
vários recibos de cobrança de impostos sobre animais abatidos para
comercialização da carne entre os moradores da Vila de Curador. Era muito
dispendioso ter que viajar a cavalo para a sede do município com o propósito de
prestar contas do apurado. E ele tinha outros planos para a sua vida.
No mesmo período da Emancipação(1944). Ao fundo, a Igreja de São Sebastião em construção |
Mas, enfim, chegou o dia da boa
notícia da nossa elevação à categoria de município. Como vivíamos em tempos da
ditadura Vargas, a Assembleia Legislativa do Maranhão estava fechada e não
editava leis, daí termos sido criados por um Decreto-Lei (Decreto-Lei 820, de
30/12/1943), e não por uma lei especifica, obra de algum deputado estadual,
como já falei. A alvissareira notícia deve ter enchido de jubilo e
contentamento a população do Curador. Entretanto, teriam que espera seis meses
até que houvesse a proclamação oficial da nossa maioridade. Foi a 28.06.1944
que a festa se deu. Enfim, os curadoenses puderam comemorar a assunção à
condição de município autônomo. O governador, por aqui não veio. Tinha outros
afazeres, inclusive participar da festa de elevação de outros municípios mais próximos
do seu palácio e que passavam pelo mesmo processo de elevação. Enviou o Sr. Interventor Federal um representante para o substituir.
E junto com ele um jornalista do jornal O Diário de São Luís para registrar o
fato. Deste modo, nas páginas do jornal, edição de 27.05.1948, falava-se sobre
a festiva posse do primeiro prefeito eleito do Curador, assim:
“POSSE
DO PREFEITO E VICE DO CURADOR- Júbilo popular naquele município”.
“Às 10:00 horas do dia 19 do
corrente, verificou-se nesta cidade a posse do prefeito, vice-prefeito e
vereadores municipais. O ato ocorreu sob as mais calorosas manifestações de regozijo
do povo. Usaram da palavra o Dr. Raul Porciúncula, juiz de direito da Comarca,
o Sr. Ariston Léda, prefeito municipal, e o vereador Ataliba Almeida, cujas
orações foram verdadeiros hinos de esperança do grande futuro que aguarda a
coletividade curadoense. Às 14:00 horas democraticamente realizou-se a eleição
da Mesa da Câmara Municipal. Foram eleitos os Senhores Honorato Gomes,
presidente; Ilídio Fialho, vice-presidente; Ataliba Almeida e Virgílio Feitosa,
primeiro e segundo secretários. Este ato foi presidido pelo juiz de direito da
comarca que discursou e ao encerrar a sessão levantou um brinde ao Presidente
Eurico Gaspar Dutra. Ainda falaram o estudante Marciano Chaves e a professora
Maria Bonfim, bem como o Sr. Almir Silva, que depois de apreciar o ambiente,
passou a falar das qualidades dos eleitos, fazendo também elogiosas referências
ao Presidente Dutra, ao Governador do Estado, ao Senador Vitorino Freire e aos
doutores Alfredo Duailibe e Afonso Matos, bem como a outros próceres do PST.
Cumpre também destacar a colaboração eficiente e brilhante que emprestou a
todos os atos a presença do Educandário São Francisco, sabiamente dirigido
pelas zelosas e abnegadas Irmãs Franciscanas, organização que vem prestando
grandes e relevantes serviços à mocidade de Curador, bem assim como a presença
dos virtuosos e abnegados irmãos carmelos”.
Educandário São Francisco, local da posse do 1º Prefeito |
O provável local em que ocorreu a
solenidade, foi a sede do Educandário São Francisco, situado na esquina da praça
São Sebastião, no prédio onde hoje funciona a Diretoria Regional de Educação, e
que era o único edifício em condições de abrigar um evento daquela natureza. Em
postagem anterior tivemos o cuidado de afirmar que na solenidade se fez
presente o então prefeito de Barra do Corda, Sr. Jamil Gedeon. Identificamos
também o nome de cada um dos presidutrenses que assinaram o livro de ata de
posse dos primeiros eleitos, passando todos, desta forma, para a história do
município.
Parabéns, cidade amada! Feliz 76º Aniversário!
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Grande história.👏👏
ResponderExcluirEra o começo da nossa caminhada.
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