Há dias venho
pensando em escrever algo sobre esse bem de valor tão significativo para todos
nós. Mas escrever o quê, se quase tudo já foi dito sobre ela. Água, aliás, é
uma coisa tão comum na vida das pessoas que ao nascermos já temos o nosso
primeiro contato com ela. E depois passamos o resto das nossas vidas mantendo
uma relação estreita e diária com esse elemento natural. De mais a mais, somos praticamente todo
composto por água, uma vez que 70% do nosso corpo é feito desse liquido
essencial.
Então,
por que damos tão pouca importância à preservação desta riqueza que é
limitante à própria vida? Se tanto o ser humano, ou mesmo animais irracionais, e as
plantas, alimentícias ou não, dependem 100% dela para sobreviver, por que tanto descaso?
Nasci
no limite da região nordestina, na confluência entre o nordeste sem
chuvas e o norte úmido e chuvoso. Presenciei invernos tenebrosos com chuvas
torrenciais que levavam dias caindo sem parar. E talvez, por conta disso, não
soubesse identificar a importância de uma boa chuva em regiões como a do
semiárido nordestino. Isso só fui saber quando comecei a viajar para essa
região, por obrigações relativas ao meu trabalho. Foi um choque muito grande, o
que senti. A luta diária das famílias em busca de uma pequena quantidade de
água para fazer face às suas necessidades mais elementares causou em mim um
profundo sentimento do tipo “eu era feliz e não sabia”.
Certo
dia, ouvi de um pequeno agricultor da caatinga a frase: “a água é o sangue da
terra”. E justificou depois dizendo que sem ela nenhuma planta subsistiria.
A
natureza foi pródiga com o Brasil, costumamos ouvir. Aqui não temos terremotos,
maremotos, e a água é abundante, nunca vai nos faltar. É bom pararmos com isso.
É certo que temos uma rede hidráulica espetacular, mas essa fica
concentrada em algumas regiões, como o Norte, em especial, o Centro-Oeste e o Sul.
No Nordeste já não temos tantos rios caudalosos assim. Mais. Em grande parte desta região brasileira não temos rios perenes. A luta diária, por conseguinte, de
parcela considerável da população brasileira por água é uma constatação. A
figura dos caminhões pipa e dos jegues com suas ancoretas de água no lombo é
presença constante nos jornais televisivos mal a temporada de chuvas vai
embora.
Agora
o assunto tomou grande importância. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais entraram na luta pela economia de água. Choveu pouco nas nascentes
dos rios que abastecem as nossas maiores metrópoles, dizem. Somente isso? Será
que não faltou um pouco de responsabilidade, de parte a parte, na preservação
desse bem tão importante e vital? Mas ninguém quer assumir a culpa pelo erro.
Nem gestores, nem muito menos os consumidores que desperdiçam centenas de
litros do precioso liquido lavando calçadas ou limpando seus vistosos e
potentes veículos automotor.
Mas um
culpado, pelo menos, já encontramos. A agricultura. Essa desperdiça água demais
em irrigação. Mas foi na frase de um técnico da Embrapa que encontrei a resposta
mais acertada para essa acusação: “A água que entra na cidade vira lixo e
poluição. Na agricultura, quando entra poluída, sai potável”. Mais ou menos
assim, eu diria. Não totalmente assim.
O
certo mesmo é que o brasileiro não se deu conta ainda que a água é um bem
finito, como tudo o que a natureza nos propicia. Não temos a cultura de preservar
os nossos mananciais e muito menos sabemos economizar aquilo que nos chega
confortavelmente pelas torneiras. Mas o tempo do desperdício já passou. Já
imaginaram a logísticas que será necessária para se abastecer uma população de
cerca de 20 milhões de pessoas, somente na grande São Paulo! Haja carro pipa,
burro aguadeiro ou outra forma qualquer de transporte de água. Seria
contraproducente viver na Paulicéia desvairada nessas condições. Jamais
atenderíamos a população total dessa região. E se somarmos as outras
metrópoles... Nem seria bom pensar.
A
história nos dá conta de que civilizações hegemônicas em épocas passadas foram
completamente dizimadas em razão da falta de água. Historiadores andam
descobrindo civilizações monumentais que foram varridas completamente da face
da terra em razão de alterações climáticas. É o caso da Civilização do Vale do
Indo, que habitou extensa região da Índia Moderna e do Paquistão ai por volta
de 3300 a 1300 A.C. Tinham na agricultura, na caça e na coleta de frutos, o seu
principal sustentáculo. Desapareceu quando o regime das monções se alterou e os
rios já não fertilizavam a terra em decorrência da falta de enchentes. Aqui na
América, os antigos Puebloans habitavam vasta região entre os EUA e o México
entre 1.200 A.C. a 1.150 D.C. Historiadores atestam que essa civilização
hoje desaparecida tinha grande preocupação com o meio ambiente e praticava uma
agricultura muito desenvolvida para a época. Desapareceu quando a água começou a
rarear na região por eles ocupada.
A
história relata ainda que a primeira guerra provocada pela posse de um
manancial hídrico se deu entre os Sumérios(Iraque moderno), por volta de 2.500
A. C. E que o fato se deu quando o rei da cidade-estado de Lagash desviou o curso
do rio Eufrates, deixando a população da outra cidade-estado, Umma, sem água.
Nos
tempos atuais a água tem sido alvo de disputa entre nações e entre povos de uma
mesma nação. O “novo petróleo”, como já é chamada, tem aumentado o clima
beligerante entre nações de todas as regiões do planeta. Acredita-se, por
exemplo, que a China invadiu e se apropriou do Tibete para ter completo controle
sobre as águas das geleiras do Himalaia, que abastecem todos os rios da região.
A África, região em permanente clima de confrontação entre povos e etnias, o
tema água, ou mais propriamente a falta dela, tem levado muitas nações ao
conflito armado. Desde 1963, o Sudão e o Sudão do Sul tem travado uma guerra
fratricida pelo controle da água, provocando a morte de milhões de pessoas.
Por
aqui, logo teremos também os nossos problemas em razão da escassez desse
produto tão necessário. Recentemente os estado de São Paulo e Rio de Janeiro travaram
na justiça uma verdadeira guerra pela utilização das águas do rio Paraíba do
Sul. Os cariocas temem que os paulistas possam comprometer o abastecimento da população
de seu estado ao promover a captação de um grande volume de água daquele
manancial. Tudo isso se dá porque não fizeram o dever de casa. A cidade de São Paulo,
por exemplo, é cortada por dois extensos e caudalosos rios: o Tietê e o
Pinheiros. Suas águas, entretanto, não podem ser utilizadas porque perderam a
sua potabilidade. Estes dois rios hoje são esgotos a céu aberto.
O que dizer de
um povo que emporcalha a sua principal riqueza? Cito São Paulo apenas porque é
o estado que atualmente passa pelos piores problemas decorrentes da falta de
água. Mas, aqui mesmo em nosso meio também temos alarmante exemplo da falta de
gestão da água. O rio Poti já possui
alto grau de poluição das suas águas e elas não se prestam mais ao consumo
humano. E o Parnaíba, segundo maior rio nordestino em importância? Este, agoniza há anos
sem que as autoridades façam nada para reverter a sua situação de moribundo
prestes a expirar. Aqui o agravante é enorme. A maior parte da população do
estado BEBE diretamente da água desse rio.
Pobre
de um povo que não cuida dos seus próprios interesses. Logo estaremos chorando
o leite derramado, ou mais propriamente, a água desperdiçada.
Para lição de
casa: reduza em cinco minutos o tempo de banho; mantenha fechada a torneira enquanto
escova os dentes; faça o mesmo com o chuveiro, enquanto se ensaboa; repita isso
ao ensaboar pratos e talheres; use água de um balde ao lavar o carro; use
regadores ao molhar as plantas do jardim; e, principalmente, dê uma destinação
correta ao lixo que você produz. Somente com esses pequenos gestos estaremos
contribuindo enormemente com a preservação e conservação da nossa água e,
também, da nossa espécie.
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