Todas
as manhãs, logo cedo, preparo-me para alimentar os pássaros que crio... soltos.
São inúmeras rolinhas fogo-apagou e uma ou outra sangue-de-boi. E em meio a
estas, alguns pardais se apressam para fugir das bicadas desferidas pelas
columbinas. São tantas e tão bravas que passo momentos de puro deleite a
observá-las lutando bravamente pelo alimento. Acho interessante, sobretudo, a
forma que elas partem para o ataque: empalmam uma das assas como se fosse uma
espécie de escudo e vão à luta. As duas sangue-de-boi são as mais temidas.
Botam as outras pra correr continuamente. E os pardais são os menos valentes.
Malandros, ficam rodopiando em torno das pombas, bicando rapidamente os
alimentos. Nem se incomodam com a valentia das pombinhas.
Mas
crio outros pássaros também em liberdade no meu quintal. Pipiras, periquitos,
cambaxirras (Garrincha), bem-te-vis, estes também em grande quantidade. Estes últimos
fizeram até mesmo alguns ninhos nas minhas árvores. Para alimentar alguns
desses pássaros tenho fruteiras que produzem todo o ano. Manga e mamão são
alimentos que atraem também outros visitantes temporários. Até mesmo um
pica-pauzinho pedrês apareceu certo dia.
Hoje em dia
esses bichinhos emplumados estão se mudando também para a cidade grande. Como
vantagem, neste novo habitat não são caçados como acontece no campo. E eles
logo se adaptam ao barulho da cidade. É reconfortante ouvir o canto livre
desses pássaros manhã cedinho. Eleva a alma e alimenta o espírito. Como à
tardinha quando os bem-te-vis despedem-se do dia com um coral bem uniforme. São
magníficos cantores que batem as asas alegremente enquanto sopram melodia no
ar. Bonito demais de se ver e ouvir.
Mas,
nem sempre foi assim. Menino formado e forjado nas coisas do interior fui um
caçador implacável desses voadores. Aprisionei muitos e também pratiquei o chamado
“avecídio” outras tantas vezes. Cheguei a ter várias gaiolas com vim vim,
guriatã, bigode, canário belga, entre tantos pássaros canoros. Eram tantos os
pássaros aprisionados que eu empregava parte do dia alimentando-os ou limpando
as prisões, digo as gaiolas. Também comercializei alguns. Em suma, pratiquei
tudo o que uma criança bem orientada nos dias de hoje já não pratica. Os vim vins
sofreram mais que os outros pássaros. Aprisionei centenas deles.
Estou
tentando me redimir. Por isso, vou passar o resto dos meus dias praticando o
bem com esses passarinhos. E devo dizer que não é nenhum peso para mim, pois
eles me retribuem com seus cânticos e outras peripécias que me enchem de prazer
e alegria.
A
minha netinha, que mal completou dois anos, parece também gostar muito dessas
avezinhas. Observo que ela acompanha com muito interesse o voo desses pequenos
bichinhos quando eles saltam de uma árvore para outra. E se ela gosta, é porque é
bom. É porque é belo vê-los livres, leves e soltos.
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