domingo, 7 de junho de 2015

Criador de Pássaros Livres




                Todas as manhãs, logo cedo, preparo-me para alimentar os pássaros que crio... soltos. São inúmeras rolinhas fogo-apagou e uma ou outra sangue-de-boi. E em meio a estas, alguns pardais se apressam para fugir das bicadas desferidas pelas columbinas. São tantas e tão bravas que passo momentos de puro deleite a observá-las lutando bravamente pelo alimento. Acho interessante, sobretudo, a forma que elas partem para o ataque: empalmam uma das assas como se fosse uma espécie de escudo e vão à luta. As duas sangue-de-boi são as mais temidas. Botam as outras pra correr continuamente. E os pardais são os menos valentes. Malandros, ficam rodopiando em torno das pombas, bicando rapidamente os alimentos. Nem se incomodam com a valentia das pombinhas.
                Mas crio outros pássaros também em liberdade no meu quintal. Pipiras, periquitos, cambaxirras (Garrincha), bem-te-vis, estes também em grande quantidade. Estes últimos fizeram até mesmo alguns ninhos nas minhas árvores. Para alimentar alguns desses pássaros tenho fruteiras que produzem todo o ano. Manga e mamão são alimentos que atraem também outros visitantes temporários. Até mesmo um pica-pauzinho pedrês apareceu certo dia.      
Hoje em dia esses bichinhos emplumados estão se mudando também para a cidade grande. Como vantagem, neste novo habitat não são caçados como acontece no campo. E eles logo se adaptam ao barulho da cidade. É reconfortante ouvir o canto livre desses pássaros manhã cedinho. Eleva a alma e alimenta o espírito. Como à tardinha quando os bem-te-vis despedem-se do dia com um coral bem uniforme. São magníficos cantores que batem as asas alegremente enquanto sopram melodia no ar. Bonito demais de se ver e ouvir.
                Mas, nem sempre foi assim. Menino formado e forjado nas coisas do interior fui um caçador implacável desses voadores. Aprisionei muitos e também pratiquei o chamado “avecídio” outras tantas vezes. Cheguei a ter várias gaiolas com vim vim, guriatã, bigode, canário belga, entre tantos pássaros canoros. Eram tantos os pássaros aprisionados que eu empregava parte do dia alimentando-os ou limpando as prisões, digo as gaiolas. Também comercializei alguns. Em suma, pratiquei tudo o que uma criança bem orientada nos dias de hoje já não pratica. Os vim vins sofreram mais que os outros pássaros. Aprisionei centenas deles.
                Estou tentando me redimir. Por isso, vou passar o resto dos meus dias praticando o bem com esses passarinhos. E devo dizer que não é nenhum peso para mim, pois eles me retribuem com seus cânticos e outras peripécias que me enchem de prazer e alegria.
                A minha netinha, que mal completou dois anos, parece também gostar muito dessas avezinhas. Observo que ela acompanha com muito interesse o voo desses pequenos bichinhos quando eles saltam de uma árvore para outra. E se ela gosta, é porque é bom. É porque é belo vê-los livres, leves e soltos.

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