José Pedro Araújo
Quando
conclui o ginasial, lá pelos idos de 1969, estava encerrado o meu período de
aprendizagem em colégios do velho PK. O que fazer depois disso, foi um dilema.
E o tempo não nos era favorável. De certeza mesmo, somente a necessidade de
buscar outras plagas para dar continuidade aos estudos, pois já estava mais que
comprovado que eu não prestava para exercer outra tarefa. Então, o caso tomava
ares de grande problema. E para piorar, meus pais não atravessam um período
muito favorável, financeiramente. Havíamos acabado de fechar a loja de tecidos
da qual tirávamos o nosso sustento, e ainda restavam algumas dívidas a serem
pagas.
Meu
pai, como sempre, muniu-se de grande força de vontade e de uma boa dose de
confiança, e outro tanto de fé, e foi tentar solucionar o problema em Teresina.
Lá estaria o meu futuro, pensava ele. E com razão, como nos mostrou o porvir.
Governava o
Estado naquela época, um parente distante, Helvídio Nunes de Barros, picoense
como meu pai. Meu velho chegou à capital do Piauí com alguns planos na cabeça e pouco
dinheiro no bolso. E logo que chegou à cidade, foi direto para o palácio de
Karnak. Não precisou nem fazer contato com o governador, pois se encontrou com
um primo que exercia o cargo de Chefe da Casa Civil. Saiu de lá com um bilhete
endereçado ao diretor do Liceu Piauiense. Estava resolvido o problema do
colégio. Agora só faltava encontrar um lugar para este escriba ficar. Problema difícil
de resolver, mas não impossível, para quem possuía um rol de amizades como o
meu pai. Como ele sempre buscava força nas suas orações acreditava que logo
Deus o confrontaria com uma solução para o problema. Ele sabia que precisava
arranjar um local por um curto espaço de tempo, até aparecer uma solução
definitiva para o meu caso. E a solução apareceu. Como sempre acontecia na vida
desse homem feito de fé e de muita esperança.
A
solução a qual me refiro estava na casa de um homem boníssimo, mas tão pobre
quanto nós, conhecido pela alcunha de Manoel Pepita. ‘Seu’ Manoel viva de uma
pequena aposentadoria do Departamento de Portos e Vias Navegáveis, que era
complementada com o trabalho de vigia noturno. Ele habitava com a família em
uma casinha simples, sem água encanada, e com três pontos de luz elétrica,
junto à cabeceira da ponte metálica, em Teresina. Parnaibano, e já entrado na
idade, havia passado a vida inteira navegando nas águas do rio Parnaíba, como
barqueiro. Transportava gente da sua cidade natal para Teresina,
daí ter amealhado a sua pequena aposentadoria. Preto de gestos afáveis e fala
fina, mas bem modulada, seu Manuel foi também para mim um exemplo de fé e
confiança no futuro. Nunca o vi reclamar da vida. Demorei em sua casa meus
primeiros quatro meses em Teresina. Lá aprendi a lavar a minha própria roupa,
mister que realizava sobre as pedras que existiam sob a ponte. Lá também
tomávamos banho e escovávamos os dentes utilizando as águas ainda limpas e
frescas do Velho Monge. Fazíamos as nossas abluções diárias sem o menor
constrangimento e com grande alegria.
Duas
lembranças que carrego comigo daqueles tempos remotos, mas importantes: o grito
dos vendedores de picolés, Carioca e Amazonas, ao transitarem de Teresina para Timon;
e o apito estridente, o barulho
ensurdecedor e a fumaça negra expelida pela Maria Fumaça ao atravessar a velha
ponte. Logo me acostumaria com tudo isso, e o escarcéu provocado pelo velho
trem não mais me acordava ao atravessar o rio de um lado para o outro nas
madrugadas do início dos anos setenta.
Por
que essas lembranças me apareceram agora? Porque hoje me deparei com uma
fotografia daquela época, imagem que publico acima, junto com esse texto
singelo. A casa em que residi ficava do outro lado da ponte. A rua não possuía
calçamento, e nem saída, e era estreitíssima, mal dava para as pessoas
transitarem a pé por ela. Também ficava em um nível muito abaixo do da
cabeceira da ponte, de modo que precisávamos subir por uma estreita escada cimentada
para atingir a rua lá em cima.
Na
última casa que vemos na foto, funcionou a Congregação Cristã Evangélica de
Teresina, demolida quando a Avenida Maranhão precisou ser ampliada. Nesse local
nasceu uma bonita mangueira, que ainda está lá produzindo frutos. A casa
pertencente ao senhor Manuel Pepita também foi demolida - como as demais - existindo
em seu lugar um espaço vazio ocupado por algumas árvores frutíferas. Minha vida
na cidade em que moro e constituí família, começou no local mostrado pela
fotografia acima. Obrigado, Teresina; obrigado, ‘Seu’ Manoel e dona Luíza
Praxedes; obrigado a meus pais que acreditaram nesse sonhador incorrigível.
Meu caríssimo amigo Comendador Honorário do Curador,
ResponderExcluirEste trecho de Teresina também faz parte de minhas melhores lembranças. As aguas e a ponte do Parnaiba eram um desafio constante para mim. Certo dia de um longínquo mês de janeiro de 1956, aproveitando a cheia do rio com as fortes chuvas do inverno pulei com mais três amigos da paliçada da ponte nas águas revoltas munido apenas de talo de buriti para ajudar na flutuação. Não precisa nem dizer que naquele dia o Velho Monje quase fez a povoação celestial aumentar. Adrenalina pura!!!!
Desde este dia te tornastes um sábio, grande Fernando! Tal qual te vemos hoje! Como diria Erasmo de Roterdan, a Loucura está na base de tudo, nos nossos maiores ganhos!
Excluirtriste saber que o rio Parnaíba já foi limpo e hoje está poluído em teresina, quando era pequeno bem embaixo dessa ponte eu e amigos tentamos banha numa cheia, o rio já era poluido era ano 2000, mas como eramos crianças não ligávamos e também era cheia e o rio não parecia sujo visualmente falando, o plano do meu amigo era amarra um corda num galho, depois entra na agua segurando a corda, a correnteza estava tão forte que ele não conseguiu segura nem 3 segundo direito, o moleque só não morreu porq a correnteza levou ele pra um outro galho de arvore de lá foi pulando de galho em galho até chegar na margem
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