Prédio antigo da Prefeitura (Acervo do IBGE) |
José Pedro Araújo
No
antigo prédio da prefeitura de P. Dutra, situado na Praça São Sebastião, havia um
pátio interno que não possuía nada de importante, mas que é lembrado porque
continha uma velha e potente goiabeira no seu interior. A vetusta árvore também
é lembrada não por produzir frutos deliciosos e polpudos, mas por possuir outra
utilidade: servia para acorrentar prisioneiros perigosos. E não foram poucos os
suspeitos que passaram dias acorrentados ao seu poderoso tronco. Subjugados e
presos à velha árvore, passaram muitos infelizes por apertos e privações
inimagináveis, desabrigados, sob chuva ou sob sol.
Mas,
vamos contar a história do começo. A cidade até possuía uma Cadeia Pública,
situada na Praça Diogo Soares, a mesma que aparece em uma crônica anteriormente
publicada sobre um certo cajueiro. Acontece que o prédio que servia de cadeia,
por falta de investimentos ou cuidados nas reformas, começou a apresentar
problemas estruturais e ameaçava desabar sobre as cabeças dos presos e dos responsáveis
por mantê-los lá. Também, é bom que se diga, a velha cadeia pública não fora
construída de forma a manter seguros os criminosos que por ali passavam e, vez
por outra, permitia que alguns deles empreendessem fuga, tal a fragilidade das suas
instalações. As paredes, por exemplo, eram erigidas com simples tijolos sobre
argamassa de barro com cal, facilitando a abertura de buracos com qualquer
instrumento simples. E foi o que aconteceu em determinada ocasião, quando um
bandido mais periculoso foi mantido encarcerado lá. Sem muito trabalho, o
meliante fez um grande furo na parede do fundo, que dava para um pequeno
matagal, e fugiu na companhia de outros detentos que lá estavam.
Também
é normal que as celas possuam tetos protegidos por telas de ferro para impedir
que os prisioneiros fujam por lá. Lá também não existia essa proteção. Se a
grade que servia de porta de acesso à cela era feita de pau d’arco torneado -
ao invés de ferro fundido - o piso da cela era de ladrilhos o que,
naturalmente, facilitava a sua escavação.
Pois
bem, como a velha cadeia não segurava mais os prisioneiros que pra lá eram
encaminhados, o poder público começou a construção de outro prédio para
substituir o velho, no local onde funcionava o anoso motor de luz da cidade. E
enquanto as novas instalações não ficavam prontas, alguém teve a ideia de levar
os prisioneiros para a velha prefeitura. Mas lá também não existia um local
apropriado e seguro para manter encarceradas essas pessoas, dai ter surgido
mais uma ideia: por que não acorrentá-los na goiabeira?
Desde
os tempos de Curador, o município sempre foi conhecido pela violência que campeava
solta, qual uma cidade do velho oeste americano. Quem se der ao trabalho de
compulsar os jornais da capital, vai encontrar muitas matérias que tratam
exatamente disso, inclusive em uma delas, impingia-se ao novo município a alcunha
nada abonadora de “terra de bandidos”. Pagávamos alto preço por abrigar gente
vinda de muitas regiões do nordeste, algumas com dívidas a cumprir com a
justiça. Os nativos da região eram tidos como cidadãos pacatos, trabalhadores e
honrados, mas pagavam tal preço pela passividade e permissividade ao dar abrigo
aos recém-chegados. Não se importavam em conhecer a índole de cada um dos recém-chegados.
Por conta do
que afirmamos atrás, sob a copa da goiabeira muitos prisioneiros passaram uma
boa temporada. Outros, poucos, é bem verdade, foram removidos de lá diretamente
para a “terra de pés juntos”. Todavia, o número dos que sofreram ali toda a
sorte de tortura e maus tratos, foi escabroso. Era comum ouvirem-se gritos e
lamentos que de lá partiam nas noites escuras do Curador.
Lembro
perfeitamente de um caso que envolvia o assassinato de uma mulher pelo esposo.
O crime aconteceu em um povoado do interior do município, e o acusado de
praticá-lo foi preso e encaminhado diretamente para o tronco da árvore
sinistra. Acontece, que na parte de trás do pátio, existia apenas um muro que
dava para um terreno descampado. E foi por lá que algumas pessoas penetraram no
local, ainda na primeira noite, para praticar uma sórdida vingança.
Ensandecidos, os vingadores deixaram a vítima com inúmeras perfurações por
faca, deceparam regiões melindrosas do infeliz que não teve como se defender de
seus algozes. A culpa pelo novo assassinato, logicamente, recaiu sobre
familiares da primeira vítima. E alguns deles passaram alguns dias acorrentados
no tronco da vetusta goiabeira até serem libertados por falta de provas.
Outro
rumoroso caso aconteceu por ocasião do assassinato do deputado presidutrense,
Ariston Costa. O crime de encomenda foi praticado pelo soldado de polícia do
Maranhão, Isaias Freitas, lotado na delegacia de Dom Pedro. Isaias, o
assassino, foi executado por alguns membros da população de Presidente Dutra
que tomaram de assalto a delegacia da vizinha cidade. O soldado se achava preso
na cadeia pública onde prestara serviços até pouco tempo antes. De volta da
cidade de Dom Pedro, os populares aprisionaram o líder da família Freitas, José
de Freitas, que residia no povoado Serra da Boa Vista. Judiaram bastante com
ele. Muito machucada, a vítima, a quem uns poucos atribuíam a culpa pelo
assassinato do deputado Ariston Costa, foi levado até o prédio da prefeitura e
lá acorrentado na temível goiabeira. Sussurravam que quando a noite chegasse,
consumariam o ato de barbarismo. Mas o prefeito de então não permitiu que o
crime fosse consumado naquele instante e, sabendo que a noite seria fatal para
o prisioneiro, entregou-o à justiça antes que fosse devidamente encaminhado
para uma viagem sem retorno. O homem escapou por pouco da turba enfurecida.
Aquela
goiabeira ficou registrada na história da pior maneira possível. E por esta
razão, dizia-se em todo o estado, que a violência era tamanha em PK que lá se
matava um em um dia, enquanto outro era mantido amarrado para tomar o mesmo
caminho no dia seguinte.
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