sábado, 3 de outubro de 2015

Viajar, o doce ofício (1)

Convento da Penha(ES)

Anchieta(ES)
José Pedro Araújo


                Hoje inicio uma série de crônicas sobre o prazer de viajar, conhecer novos lugares, novas pessoas, novos ares, novas culturas e climas distintos. E começo justamente pela última viagem que fiz agora em setembro, para Vitória, no Espírito Santo. A propósito disto, ao saber que havíamos viajado para o Espírito Santo, um sobrinho meu, humor afiado e um enorme gosto por conhecer novos lugares, foi taxativo: “nunca conheci ninguém que tenha afirmado que viajou a turismo para Vitória”. Nem eu, respondi-lhe com incredulidade, pois não havia pensado nisto.

 Temos um grupo de amigos que gosta de viajar. E viaja duas vezes por ano, pelo menos. O que começou com uma simples brincadeira, hoje passou a ter um calendário exato, com datas fixas, em julho e setembro. Terminada uma viagem, na volta já se discute o próximo roteiro. E viajam por gostam, porque a união do grupo faz com que se sintam bem, e protegidos. É como se nunca se tivesse saído de casa, pois, o que mudou, na realidade, foi a paisagem, o ecossistema, porque os amigos estavam ali, juntos como sempre, com suas brincadeiras e sorrisos espontâneos.

Recentemente, uma pesquisa sobre os prazeres da vida apontou, em primeiro lugar, o ato de viajar. Não conta ai aquela coisa do relacionamento a dois, a família, etc. Falava-se sobre o tal sonho de consumo. E a cada resposta dada por um entrevistado, vinha também a justificativa, o porquê de ter escolhido isto ou aquilo como resposta. A resposta dada pelos que afirmaram ser a viagem o principal item na pauta dos prazeres terreais, dizia que viajar é um prazer que dura para sempre. Diferentemente de um bem que se adquira, como um carro novo, por exemplo. O sentimento de prazer por uma viagem realizada não acaba nunca. Sempre que vemos algo sobre aquela cidade ou região visitada na TV, por exemplo, as lembranças são reavivadas, o prazer avulta em nosso íntimo. A compra de um bem, não. Logo nos acostumamos com o objeto adquirido e ele passa a ser um item a mais na nossa coleção de coisas.

Sai da estrada principal para tomar um atalho, mas já estou de volta ao começo da nossa viagem. Estava dizendo que a última viagem que fizemos foi para o Espirito Santo. Estado pequeno, espremido ali entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais, tão pequeno que quase passa despercebido de quem manuseia o mapa do Brasil. Mas que belo Estado! Que povo simpático, cativante, e empreendedor! O estado possui uma zona litorânea das mais belas do país, mas também possuí a sua região serrana, onde pontificam os descendentes de Alemães e de Italianos.

Começamos por Vitória, a capital, pequena cidade com pouco mais de 327.000 habitantes. Envolvida por praias, possui imensos e amplos calçadões, próprio para quem gosta de viver e se divertir ao ar livre. E como tem gente apreciando a beleza e utilizando toda a infraestrutura instalada. Parece até que a quase totalidade da população da cidade gosta de se divertir ao longo das praias que bordejam a cidade, tal a quantidade que se acha se divertindo logo que o sol começa a se esconder atrás da cadeia de montanhas. Possuí a cidade também uma rede hoteleira muito boa, com ótimos preços, algo que não vemos no nosso litoral em hospedarias infinitamente mais pobres.

E, logo ao lado – é só atravessar por uma das pontes – temos a nos encantar a bela  Vila Velha, antiga capital. Com população em torno dos 414.000 habitantes, portanto, um pouco maior que a da capital, a cidade possui o encanto das cidades antigas, com seus casarões em estilo barroco, e suas ruas estreitas, mas de agradável charme. Fica encravada também no belo litoral e, segundo a apreciação de alguns dos nossos companheiros de viagem, possui mais atração para se morar do que a vizinha capital. E, a julgar pelo que disse a nossa guia de viagem, os preços dos alugueis e dos serviços também são menores. Com uma orla marítima bem cuidada, os calçadões também chamam a atenção pela qualidade e limpeza, mas também pelo número de pessoas que aproveitam todo aquele espaço para caminhar, praticar esportes e se divertirem. E ainda tem, além de tudo o que dissemos, a igrejinha da Penha, templo erguido no alto de um monte rochoso ainda no começo da nossa colonização, aí por volta do século XVI. De lá temos a vista mais bela das duas cidades: Vitória e Vila Velha. O Convento da Penha é um local de visitação pública de beleza inestimável. Cercado pela mata atlântica, constitui-se em um dos melhores pontos turísticos do estado. Eleva o espírito, uma visita ao vetusto convento.

Nos dias seguintes fomos conhecer as montanhas capixabas e seus encantos. Surpreendente como aqueles descendentes de europeus aproveitam cada pedacinho de chão apropriado para a agricultura ou a pecuária. Da estrada é possível ver algumas vaquinhas se equilibrando sobre encostas elevadíssimas e recobertas de capim rasteiro, ou pessoas amanhando a terra fértil e declivosa. Somente para subir naqueles paredões verdes já é um sacrifício, imagine-se trabalhar a terra o dia inteiro naquelas condições. Mas o resultado do seu trabalho pode ser visto nas fazendinhas onde é possível adquirir de tudo um pouco: desde queijos de vários tipo e sabores, embutidos e doces, cristalizados ou em compotas. Lá se agrega valor aos produtos agrícolas por eles cultivados. E que satisfação eles demonstram à chegada dos turistas. São profissionais, fazem questão de demonstrar isso. E são recompensados por isso. Temos muito que aprender com eles. Em algumas cidadezinhas que passamos, como Venda Nova do Imigrante, Marechal Floriano ou Domingos Martins, por exemplo, o agroturismo é forte, e gera renda para os micro proprietários rurais. E o clima serrano é outra atração. Gostoso, alentador, encanta ao turista que teve a felicidade de escolher o ES como roteiro de suas viagens.

E eles ainda têm a bela e aconchegante cidade balneária de Guarapari, e a antiga e também litorânea Anchieta, em cuja igreja matriz encontra-se sepultado os restos mortais do padre Anchieta. Ou não. Há quem afirme que o corpo do religioso foi transladado para Portugal. O certo é que, pelo menos um pedaço da tíbia, que se afirma pertencer a Anchieta, é possível ver em uma redoma de vidro. Bela cidade, belo conjunto arquitetônico, e tudo isso  com o mar a poucos metros, enriquecendo o local com a sua beleza.

Estivemos ainda em Cachoeiro do Itapemirim, cidade onde nasceu Roberto Carlos. A cidade em si não é lá muito bonita, mas conhecer a pequena e humilde casa onde nasceu o rei da jovem guarda vale o cansaço da viagem. A casa foi transformada em um pequeno museu pela prefeitura do município, e nela é possível ver alguns objetos que diz-se ter pertencido a sua família, como o velho piano, por exemplo. A visita vale mais pelo sentimentalismo que termina por nos envolver ao ver que daquela minúscula casinha saiu para encantar o mundo com a beleza das suas canções um jovem sonhador.

Encerramos o nosso périplo pelo Espírito Santo com um passeio de trem pelas montanhas Capixaba. Belíssimo programa que encanta tanto pela beleza dos locais por onde passamos como pela visão da Mata Atlântica intocada em alguns pontos mais elevados.

Visitar o Espírito Santo é um programa que enriquece e alimenta a alma do viajante. Gostaria de ter mais espaço, e mais competência, para descrever sobre as delicias de uma viagem ao menor estado da região sudeste do Brasil.

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