Extraído do solarismgareis.blogspot.com.br |
José Pedro Araújo
Manter uma cidade, um
estado ou um país em perfeito funcionamento, promover a ordem pública, levar
ações de saúde à população e manter ruas e avenidas em perfeita ordem e limpeza,
entre outras coisas, exige dos governantes que seja cobrada da população uma
percentagem por tudo aquilo que ela produz ou oferece em termos de serviços.
Mas, a cobrança desses impostos tem ultrapassado o limite do tolerável e
esgotado a paciência de todos os brasileiros. Aqui, até mesmo os salários são
taxados, e de maneira escorchante, é bom que se diga, coisa que só acontece em
poucos países do mundo, pois a grande maioria das nações optou por taxar o
produto e evitar a maldita e danosa ação da bitributação, como acontece
conosco. Cobrar do trabalhador 27,5% de imposto retido na fonte dos seus parcos
vencimentos assemelha-se mais a um confisco do que propriamente a uma cobrança
de impostos. E na atual conjuntura, quando os salários estão completamente
aviltados, procede-se de maneira mais hedionda do que na lenda da “galinha de
ovos de ouro”, pois o indivíduo gerador da riqueza está sendo torturado de
maneira vil e brutal até a sua exterminação total.
Mas, há outras camadas da população
que infelizmente pagam impostos percentualmente muito mais altos do que os
trabalhadores com carteira assinada, aqueles que vivem na legalidade, como
prefere rotular as nossas autoridades constituídas. Estou me referindo ao
pequeno trabalhador rural que vem sofrendo ultimamente uma verdadeira caçada
por parte do fisco que busca cobrar dos mesmos pela pequena produção que
conseguem retirar da terra à custa de muito suor e sacrifício. Produção que, ao
ser colhida, ao invés de ir rechear o seu paiol para alimentar futuramente a
família, vê-se na obrigação de vender para fazer algum dinheiro e cobrir outras
despesas mais inadiáveis.
Outro
dia, quando retornava de uma viagem aos limites do Piauí com o Ceará para a
cidade de Pedro II, dei carona a um humilde senhor que trazia com ele um saco
de feijão pesando aproximadamente cinquenta quilos. Ao nos aproximarmos da
corrente do posto fiscal, notei que o homem principiava um estado de nervosismo
que o deixava muito inquieto. Sem atentar para as verdadeiras razões que o
levava a ficar naquela situação, preferi achar que o mesmo estivesse passando
por algum desconforto intestinal, tal a quantidade de solavancos com que o
carro nos brindava em razão da péssima estrada que trafegávamos. Mas, qual não
foi a minha surpresa. Quando ultrapassamos o posto fiscal, o homem suspirou
aliviado e não se conteve: dessa vez eu escapei! Preocupado, achando que havia
dado carona a algum foragido da justiça, perguntei-lhe: Escapou de quê, amigo?
E ele me respondeu prontamente: de pagar os R$ 6,50 de imposto pelo saco de
feijão que trago na carroceria do carro. Só então fiquei sabendo que há uma
verdadeira campanha de cobrança de impostos sobre esses pobres brasileiros. Que
cobra-se de tudo, até mesmo quando estão transportando algumas garrafas de mel
de abelha nativa, ou algumas galinhas de capoeira.
Ao longo dos tempos a missão de cobrar
impostos da população têm se tornado algo tão brutal e acintoso que até têm
provocado alguns conflitos sérios com graves consequências para o povo. A
história faz referência, para citar apenas alguns casos, à Guerra dos
Camponeses em 1525 na Alemanha e à Guerra pela Independência dos EUA, por conta
da cobrança exorbitante de impostos. E até mesmo entre nós há casos iguais como
a deflagração da Revolução Farroupilha, a Revolução Pernambucana em Olinda e
Recife e a Guerra dos Emboabas, quando cidadãos brasileiros lutaram contra a
tirania da cobrança exagerada dessas famigeradas taxas. Existe até a lenda de
um bom ladrão que tomava dos ricos cobradores de impostos para repassar aos
pobres, e esse personagem, fictício ou não, se transformou em herói de cinema e
ainda hoje habita o imaginário infantil. Seu nome: Robin Hood, o príncipe dos
ladrões.
Agora a incongruência, a
desinteligência: depois de arrecadar imposto de quem não têm quase nada, o
governo aparece depois com gestos de bom mocismo, gastando rios de dinheiro em
transporte e propaganda, para repassar aos antes espoliados, a título de
esmola, uma tal de bolsa alimentação ou algumas poucas e descontinuadas cestas
de alimento, promovendo uma verdadeira ação de desestímulo ao honesto gesto do trabalho diário.
Enquanto isto, os grandes sonegadores
passam ao largo, distribuindo propina e abastecendo o caixa-dois dos políticos
corruptos, e concentrando mais ainda as riquezas que são retiradas desse país
exuberante e “abençoado por Deus”.
Só nos resta então torcer para que
apareça um herói verdadeiro, igual a Zaqueu, o cobrador de impostos em
Jerusalém, abençoado por Jesus porque devolvia aos pobres metade do que
arrecadava. Ou deflagrar uma campanha nacional pela diminuição dessa
excrescência que atende pelo nome de imposto de renda.
(Crônica redigida em 2001 e que me
parece mais atual do que nunca).
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