Inglaterra, século XIX - Carroça com livros usados |
Em setembro de
2014 fiz uma viagem com um grupo de amigos para Curitiba. Bela cidade sulista
que encanta pelo clima, pelo verde, pelos parques, pela gente bonita, enfim,
pela preocupação que os administradores locais têm demonstrado por sua gente.
Admirado pela última parte do período? Pois, só posso fazer justiça a quem
administra uma cidade em que os serviços públicos parecem funcionar a contento,
ou na qual os nativos possuem tantos parques espalhados por ela para praticar
esportes ou simplesmente admirar o luxuriante verde das suas árvores.
Mas, voltemos
ao assunto que o título acima nos remete: os Sebos. Nessa mesma viagem fiquei
alojado em um bom hotel no centro da cidade que tinha algo que melhorava ainda
mais a sua localização: um grande e bem organizado Sebo bem na sua frente. Pelo
menos para mim, isso foi de uma alegria sem par. Para os outros colegas de
viagem, mais preocupados em conhecer os pontos de maior atração da cidade ou da
região, talvez nem tanto. E para aquelas pessoas que viajam mais com o
propósito de fazer compras, ai a resposta fica mais fácil: não devem ter visto
as vitrines parcamente iluminadas do grande Sebo. Pois ele atraiu o meu olhar
logo na chegada, ainda de dentro do ônibus que me levou do aeroporto até ali.
Investi
algumas horas da minha estadia na cidade compulsando os velhos livros, lendo
suas orelhas, admirando-lhes o estado de conservação. E trouxe de lá alguns
quilos a mais na minha bagagem. E enquanto isso, a maior parte do nosso grupo
devassava a cidade em busca dos shoppings centers. A mim me bastava aquele
espaço circunspecto, quase na penumbra. Mas, infelizmente, tinha que acompanhar
a minha companheira em outras andanças.
Outro dia, li
em um dos belos textos publicados pelo maranhense Josué Montello no qual ele
falava que as livrarias do centro do Rio de Janeiro, entre elas os chamados Sebos,
estavam desaparecendo. Algumas com mais de um século de existência, estabelecidas
na Rua do Ouvidor ou na São José, era ponto de encontro das principais estrelas
da literatura nacional, desde a maior e mais reluzente delas, Machado de Assis.
Tenho lido e
visto em programas de TV direcionados à literatura, que o preço dos aluguéis
tem contribuído para o fechamento de muitas livrarias Brasil afora, mas, e principalmente, os Sebos. Em excelente matéria publicada no Blog da Folha Universitária, há
também referência a este problema, e nela o proprietário do Sebo Berinjela,
Daniel Chomski, livreiro desde 1994, relata que “presenciou o fechamento de
pelos dez sebos nos últimos cinco anos”. É grave, porque Sebo é cultura, e
cultura a preços baixíssimos. Um livro que custa por volta de 40 ou 50 reais
nas livrarias pode valer apenas 10 reais nos Sebos. Ou até menos, dependendo da
paciência do garimpeiro. Nessa mesma matéria está dito que o Sebo apareceu por
volta do século XVI, e neles os pesquisadores adquiriam papiros ou documentos
para dar suporte aos seus trabalhos.
O nome, Sebo,
surgiu ainda em passado remoto, período em que não existia ainda a luz
elétrica. E por esta razão, e também por ficarem em locais apertados e escuros,
usavam-se velas para ler os textos antes da sua aquisição. E assim, aqueles
mais concentrados na leitura, deixava a cera derretida das velas pingar sobre
as páginas dos livros, dai adveio o nome.
Tenho
adquirido alguns bons livros que hoje se encontram fora do catálogo das
livrarias. Alguns muito baratos, outros nem tanto. Mas todos de altíssimo valor
para mim. Nas minhas garimpagens encontrei relíquias de valor inestimável, como
o antiquíssimo A General Description of
The State of Piauí, do Dr. José Antônio de Sampaio, fundador da fábrica de
laticínios instalada no interior do município de Oeiras, hoje Campinas do
Piauí, ainda em finais do século XIX. O livro, por ser raro, e também por
possuir encadernação luxuosa, custou-me caro, naturalmente. Sua encadernação é
de 1905, e nele o insigne e desabusado engenheiro traça um comparativo entre as
terras das fazendas estaduais com as da Argentina ou da Austrália, com
evidentes vantagens para as nossas. Mas, tenho adquirido também obras
importantes por preços irrisórios, para alívio das minhas combalidas finanças.
Tenho um jovem
amigo, residente em São Luís, que além do papel de editor e proprietário de uma
excelente livraria, denominada Resistência Cultural, também comercializa livros
raros, que estão fora do catálogo. Reduto dos aficionados por literatura, a
Resistência Cultural faz opção pelos melhores livros e pelos grandes autores. (www.resistenciacultural.com.br
– Av. dos Holandeses, 2 – Calhau).
Mas não só de problemas
vive esse tipo de comércio. Eles têm se reinventado e adotado novas estratégias
para superar os ventos adversos. E assim apareceram alguns portais na internet
para ampliar as vendas para outros mercados. Como a Estante Virtual(www.estantevirtual.com.br) que
congrega mais de 1.400 sebos espalhados por esse imenso Brasil. O criador da
ideia baseou-se na sua dificuldade para encontrar alguns títulos para utilizar
na elaboração da sua monografia de conclusão de um mestrado, e dai nasceu um
grande negócio.
Mas, nada se
compara ao prazer da garimpagem manual dentro do ambiente de uma velha e
penumbrosa livraria. Que os novos tempos não afaste de nós o prazer da
convivência com as coisas simples e que só elevam o nosso espírito, como é o
adentrar em um Sebo com bom estoque. Vida eterna aos Sebos!
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