José Pedro Araújo
Vez
por outra faço minha caminhada, pela manhã, na Avenida Marechal Castelo Branco,
aproveitando-me da hora menos quente do dia e, de quebra, da umidade relativa
do ar mais elevada. Tenho que aplaudir a ideia da criação de parques ambientais
nas margens do rio Poti, e os calçadões apropriados para quem gosta de por em
dia um pouco da forma física perdida na ociosidade e na utilização dos
equipamentos domésticos que vieram para facilitar a nossa vida, mas que nos
alijaram também do esforço necessário à queima de calorias.
O
parque formado na margem esquerda do Poti, por exemplo, é muito agradável,
sombreado por muitas árvores nativas replantadas para recomposição da vegetação
suprimida na área de proteção permanente. Ficou uma coisa linda de se observar e
agradável de usufruir. Uma caminhada de manhã já é algo muito prazeroso, e sob
a sombra das árvores, aí já toma outro patamar, pois o contato com o luxuriante
verde é tudo de bom. Quando me perguntam por que eu caminho no outro lado do
rio, e não na Raul Lopes, lugar mais utilizado pelos moradores da zona leste,
sempre respondo que prefiro aquele lado porque é mais calmo, ninguém me
conhece, e por esse motivo ninguém me faz parar e interromper a caminhada. Mas,
tenho outra razão: gosto de pensar quando estou caminhando. É nessas caminhadas
que eu mentalizo a maioria dos textos que escrevo. Toda a história contada no
meu e-book “Terra de Ninguém”, publicado na Amazon.com, foi gestada durante as
minhas caminhadas. E uma parte da história foi ambientada na própria Marechal.
Rousseau,
o grande filósofo, músico, matemático e botânico, entre outras cositas mas, já afirmava que adorava caminhar enquanto
formava suas ideias. E não eram caminhadas pequenas como as que faço. Certa
feita foi ele de Genebra, na Suíça, a Turim, na Itália, a pé. Fez também, em
outra oportunidade, o trajeto de Genebra a Paris a pé. Este último trecho mede
540 km, não é pouca coisa para se fazer caminhando. E ele se deliciava
observando a paisagem, o canto dos pássaros, dormindo ao relento e, como já
vimos, amadurecendo o que depois passaria para o papel. É lógico que não sou um
Rousseau, nem consegui pensar em muitas coisas úteis nas minhas caminhadas,
apesar da paisagem exuberante que vejo enquanto palmilho a curta pista na qual
transito algumas vezes por semana. Será que é por que o meu trajeto é pequeno,
comparado com o do gênio franco-suíço? Bom, não respondam, eu mesmo faço isso:
isso é tão improvável quanto a possibilidade de um dia chegar até a lua.
Mas
comecei este texto com um propósito e já me desgarrei por outro caminho,
pegando o atalho confortável por onde transitou o incomparável Jean-Jacques,
saindo de fininho da minha rota. Volto para dizer que a paisagem exuberante a que
me referi acima, sofre com a ação de indivíduos inescrupulosos. Diariamente é
jogado ali um monte de coisas que emporcalha o paraíso existente quase no
centro da cidade. Sofás velhos, colchões imprestáveis, animais mortos, restos
de construção, tudo é atirado ali, enfeando o ambiente luxuoso. E o pior é que,
apesar de ficar ao lado de uma avenida muito utilizada por todos, ninguém vê
nada ou se digna a fiscalizar aquele parque. Nem mesmo a Secretaria Municipal de
Meio Ambiente, instalada ali, consegue evitar que indivíduos porcos e culturalmente
rebaixados joguem o lixo produzido ali. Há dias que a fedentina chega a impedir
a caminhada.
Dias
atrás vi uma foto lamentável de Copacabana após a virada do ano: estava coberta
de lixo. Tudo obra dos turistas que foram àquele santuário para festejar a
virada do ano. Dai a dois dias, o Facebook, outro paraíso, dos que adoram
postar tolices, publicou uma fotografia de Nova York após a virada do ano
também: Times Square estava repleta de
lixo. Abaixo da foto, escreveram que era para apreciação daqueles que possuíam
o complexo de vira-lata. E eu aqui com meus botões: bom, nesse mesmo período milhares
de turistas brasileiros foram pra lá. Será que têm algo a ver com aquilo? Afinal,
uma coisa não se pode negar: os americanos exercem com galhardia a sua
cidadania. Podem falar do resto. Da limpeza de suas ruas e parques, do cuidado
com o lixo que produzem, nunca.
Que
o poder público adote providências para conter esses mal-educados. Quem sabe
até trazendo de volta a campanha do Sugismundinho! Pra quem não se lembra, Sugismundinho era um
garoto horroroso que ficou famoso, muitos anos atrás, em uma campanha estatal
pela limpeza. Talvez caísse bem adotarem-se campanha igual a que agia contra os “bacanas” ( ou seriam os babacas?) que
transformavam as praias do litoral piauiense em pistas de corrida de
automóveis. Com o título de “Xô Macaco!”, atingiu diretamente aqueles que iam
para o litoral apenas com o propósito de se mostrar, ou de mostrar a sua pouca
educação. Ou será que foi o policiamento efetivo no local que obrou o milagre
desejado? De qualquer forma, está dada a sugestão.
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