Capa do livro em homenagem aos 160 Anos de Teresina. |
José Pedro Araújo
Estava certo
dia desfrutando do meu estimado ócio em minha casa, quando recebo a ligação de
um grande amigo, Chico Carlos, o nosso inventivo Acoram. Não foi o telefonema
de um amigo qualquer, daqueles arranjados ao sabor das libações, em volta de
uma mesa de bar. Mas de um tipo que se convencionou chamar de ”amigos de todas
as horas”. Convidava-me a prefaciar um livro de sua autoria que, a bem da
verdade, não sabia eu que ele estava a escrever. Fiquei, naturalmente,
preocupado com o convite. Afinal, reside ai uma das muitas tarefas sobre as
quais não me sinto pronto para desempenhar. E fiquei com aquilo em mente,
preocupado, sem saber como pedir ao meu amigo que procurasse alguém mais capaz
para desempenhar tal missão com competência e à altura do seu trabalho, que já intuía
de boa qualidade. E fiquei assim, esperançoso que ele esquecesse o convite que
me havia feito.
Passados
alguns dias, nem mais um contato. Eu, naturalmente, já estava confiante de que
o meu desejo havia se concretizado. Chico Acoram havia chegado à conclusão de
que a mim não cairia muito bem esse papel. Mas qual! Daí alguns dias, volta o
Acoram a me ligar. Bom, meditei rapidamente, sempre há a possibilidade de ser
uma ligação com um pedido de desculpas por ter esquecido o convite feito, mas
que já encontrara outro prefaciador. Não aconteceu assim. Para meu desgosto. Ao
invés disto, convoca-me para uma chegada até o seu local de trabalho quando me
apresentaria a boneca do seu livro. Já que era assim, ponderei sem muita
confiança, que assim fosse.
Chegando ao
prédio da AGU(Advocacia Geral da União), local em que o velho cacique desempenha
e esbanja a sua competência habitual, sou recebido por ele com a efusiva
alegria de sempre, o que me deixou um pouco mais tranquilo, mesmo ainda estando
com o semblante carregado, denotando preocupação. Resolvi embarcar na
cordialidade e alegria com as quais habitualmente sou envolvido quando nos
reencontramos, e isso me fez bem. Aos poucos fui me soltando ao ponto de deixar
a preocupação de lado e entrar na brincadeira saudável do Acoram.
Satisfeito com
as novas instalações da Procuradoria Federal, fui conduzido por ele para um Tour
de reconhecimento, passando inclusive pela cozinha, onde fui apresentado a uma
simpática copeira, a moça do cafezinho, mas também pela sala do chefe, espaçoso
escritório que contrastava em tudo com as velhas instalações da Procuradoria no
tempo em que ainda ocupava um velho e acanhado prédio ao lado da Prefeitura
Municipal de Teresina. A caminhada, as tiradas alegres do meu amigo e,
sobretudo, as apresentações que foram acontecendo no trajeto, fizeram-me
esquecer um pouco a razão do convite feito. Mas isso demorou pouco. Logo
voltamos à sua sala e ele me recordou o porquê de estar ali.
Depois de ir a
um armário apanhar alguma coisa, ele depositou sobre a mesa um pacote robusto, que
pelo barulho feito ao ser lançado sobre ela, pareceu-me bem volumoso e pesado.
E de fato era. A essa altura a minha curiosidade já suplantara o receio, e eu
já queria que ele abrisse o grande envelope e me apresentasse o que ele
continha. Velho brincalhão, o Chico Acoram! Trapaceiro, no bom sentido. O que
saiu do envelope foi um grande livro encadernado, capa dura, na cor verde, com
a inscrição estampada em letras douradas: Teresina, 160 Anos!
Sorrindo com a
peça pregada, contou-me que durante todo o ano de 2012 havia adquirido a edição
de domingo do Jornal O Dia, com o propósito de obter o encarte que ele trazia
sobre a história de Teresina. E me surpreendeu outra vez: aquele volume que eu
tinha em mãos era meu. Algo inestimável e que me causou profundo contentamento.
Preciso dizer ainda que o presente recebido ainda me tirou aquele peso das
costas que eu carregava desde o dia daquela famigerada ligação telefônica que
ele havia me feito. Duplo presente, eu diria.
Passei a
manusear o volumoso exemplar que tinha nas mãos, enquanto a conversa se
desenrolava alegremente, e pude perceber a riqueza que ele guardava. Tratava-se
de um trabalho primoroso feito pelo professor e imortal Fonseca Neto, que assim
homenageava a cidade de Teresina pela passagem do seu aniversário. As matérias
traziam ainda fotografias e gravuras históricas que muito enriqueciam o
hercúleo trabalho, tudo organizado, encadernado e protegido por uma bela capa mandada
fazer pelo meu bom amigo Chico Acoram.
Tenho sido
brindado com ótimos presentes ao longo da minha vida. Alguns deles, ainda conservo
comigo, apegado que sou às coisas que mais prezo. Este, com certeza, foi um dos
que mais me trouxe alegria. E também um sentimento contrário aos das traças:
pretendo guardá-lo comigo até o fim.
Pensei em
fazer e publicar esta pequena resenha no meu blog neste período festivo em que é
tão comum a troca de presentes entre as pessoas. E recorrendo à memória,
procurei nela informações para saber se já havia ofertado algo ao amigo Chico
Carlos. Não consegui descobrir nada, pois se já tiver lhe presenteado com algo deve
ter sido coisa insignificante, pois não me lembro de nada. Ao passo que o que
ele me presenteou jamais vai sair das minhas mãos enquanto vida eu tiver. E
isso pela excelência do mimo, e pela importância do que ele contém para um
rematado curioso sobre a história desta cidade que me acolheu tão
carinhosamente, lugar que escolhi para passar os meus dias. Aqui pratiquei a
coleta dos víveres necessários à minha sobrevivência, apanhei água na fonte
para matar a minha sede, e juntei o material necessário para armar o meu
barraco em lugar ideal para oferecer proteção à minha família contra as intempéries
e os animais peçonhentos.
Sou grato à
cidade, mas também aos amigos que aqui amealhei. Amigos como o Chico Acoram que
me pregou a mais deliciosa das peças que já fizeram a mim nesses tempos que já
se alongam.
Meu grande e estimado amigo Dr. Araújo, confesso-lhe que estou sem palavras para dizer da minha emorme alegria em receber este belíssimo presente em forma de escrita da lavra de um eminente prosador, mestre do respeitável Folhas Avulsas que em muito vem contribuindo para o progresso da literatura piauiense.
ResponderExcluirNeste momento, que faço este comentário, encontro-me muito feliz e emocionado com suas generosas palavras de carinho e afeto. Dos poucos presente que recebi recentemente, este foi e será o mais valioso para mim. Então, valeu muito a brincadeira que lhe preguei no início da ano passado; nunca pensei que aquela trapassa fosse me render tamanha satisfação. Felicidades amigo,extensivo a sua belíssima família. Um grande abraço. Chico Acoram.
Vamos começar o ano com toda a força, Chico Carlos. O Folhas Avulsas aguarda por suas crônicas para completar esse primeiro ano de vida. Eu que agradeço pela forma como tens demonstrado a sua amizade. Sigamos!
ExcluirDesculpe-me a escorregada. Onde se lê: trapassa, leia-se: trapaça.
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